Evaldo Rosa dos Santos, conhecido como Manduca - Reprodução
Evaldo Rosa dos Santos, conhecido como ManducaReprodução
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Parentes do homem morto em uma ação do Exército na Estrada do Camboatá, em Guadalupe, na tarde deste domingo, afirmam que os militares alvejaram o carro da família após confundir os ocupantes com bandidos. Dentro do automóvel, estariam ainda uma criança de 5 anos, a mulher da vítima e um idoso, atingido de raspão. Inicialmente, o Comando Militar do Leste (CML) afirmou que o morto era um criminoso que passou em um veículo com um comparsa atirando contra os soldados, e estes teriam revidado a uma "injusta agressão". Depois, determinou a coleta de depoimentos dos militares e civis para apurar o ocorrido. 

O caso aconteceu dois dias após o jovem Christian Felipe Santana de Almeida Alves, 19, ter sido morto por tiro de fuzil no peito pelo Exército na Vila Militar, em Realengo. A corporação alegou que o jovem foi baleado, na madrugada de sexta-feira, após a moto em que ele estava na garupa furar um bloqueio. A família negou.

O homem que morreu ontem em Guadalupe, na altura do Piscinão de Deodoro, foi identificado por um sobrinho como Evaldo Rosa dos Santos, morador de Marechal Hermes. A vítima seria segurança e conhecida como Manduca. Leverson Santos, de 22 anos, disse ao O DIA que o tio dirigia o carro e levou um tiro na cabeça ao passar pelo local.

"Eles estavam indo se encontrar com a minha família para almoçar, como a gente sempre faz. Antes de morrer, ele falou para o meu primo (de 5 anos): 'Abaixa, filho'. E, então, o tiro acertou a cabeça do meu tio. Só deu tempo de colocar o filho dele no chão", contou o sobrinho da vítima.

Ainda segundo Leverson, o idoso que também foi baleado foi socorrido. "Claro que eles vão falar que foi em defesa. Eles tiraram a vida do meu tio, cara da paz, trabalhador, e agora o que vou falar pro meu primo? Exército mal preparado!", desabafou.

Um vídeo mostra uma mulher desesperada ao lado de um carro branco, atingido pelos militares, sendo amparada por outras pessoas. "O Exército acaba de matar uma família agora", diz o autor do vídeo.

O CML comentou que a patrulha deparou com um assalto e dois criminosos a bordo de um veículo atiraram contra os militares, que responderam à "injusta agressão". "Como resultado, um dos assaltantes foi a óbito no local e o outro foi ferido", diz a nota. "Um transeunte foi ferido em decorrência da troca de tiros". O pedestre estava fora de perigo.

À noite, o CML acrescentou: "A fim de realizar uma apuração preliminar da dinâmica dos fatos ocorridos, foi determinado pelo Comandante Militar do Leste que sejam coletados os depoimentos de todos os militares envolvidos, bem como ouvidas todas as testemunhas civis, o que está em andamento, nesse momento, na Delegacia de Polícia Judiciária Militar ativada na Vila Militar. O Ministério Público Militar já foi informado e está supervisionando a condução dessas oitivas."

A Polícia Civil informou que fez perícia. Os nomes das vítimas não foram confirmados pelos órgãos de investigação.

Blindados são alvejados horas antes

Horas antes da ação que provocou a morte de Evaldo dos Santos, uma guarnição do Exército foi atacada a tiros por bandidos na Favela do Muquiço, também em Guadalupe, durante patrulhamento. PMs do Grupamento Aeromóvel (GAM) foram acionados para dar reforço. Fontes da PM contaram que os militares perderam as armas para os traficantes.

O Exército disse que dois blindados foram alvejados, sem feridos. "Se as viaturas não fossem blindadas, o resultado seria bem diferente", ressaltou. Segundo o CML, a guarnição recebeu reforço do próprio Exército.

O rapaz de 19 anos que foi morto sexta-feira com um tiro no peito estava na garupa de uma moto dirigida por um adolescente de 17. O menor ficou ferido no braço e na perna. O Exército afirmou que eles eram criminosos e teriam desobedecido a ordens de parada. A família negou a versão. Lei sancionada em 2017 prevê que crimes militares contra civis em ações de Garantia da Lei e da Ordem sejam julgados pela Justiça Militar, e não pela Justiça Comum.

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