Publicado 24/01/2021 07:28 | Atualizado 24/01/2021 12:11
O silêncio de hoje contrasta com a animação que deveria acontecer no Rio, abarrotado de foliões curtindo inúmeros blocos espalhados pela cidade. Sem o tradicional Carnaval, cancelado por causa da pandemia de covid-19, as fantasias e adereços deram lugar à máscara e ao álcool em gel, para a tristeza daqueles que aproveitavam bastante essa época do ano. E como o prefeito Eduardo Paes confirmou que não haverá a festa fora de época em julho, resta a esperança de que, em 2022, tudo volte ao normal.
O feriado na terça-feira 16 de fevereiro está mantido, mas não será possível aproveitar como antes. Algo bem diferente do que está acostumada a bacharel em direito Camilla Pedroza, de 43 anos. Para ela, essa época já seria de muita diversão nos blocos, depois de passar na Saara para comprar as fantasias e ajudar as amigas na produção. Mas não em 2021.
"Eu amo Carnaval! Ano passado eu já estava na abertura não oficial na primeira semana de janeiro e, em 2021, eu e meu filho saímos do isolamento de 20 dias após contrair covid. Fico muito triste. Não só por mim, mas pelas milhares de pessoas que têm no Carnaval o seu sustento", lamenta Camilla, que concorda com a decisão de não ter a folia em julho.
"Queria muito, mas esse não é um momento de imprudência".
A tristeza também é compartilhada pelo estudante de Sociologia Vitor Mazzeo, de 29 anos. Ele tocava trompete e agora saxofone nos blocos 'Derê', os 'Biquínis de Ogodo Convidam as Sungas de Odara' e 'Boto Marinho', do qual é um dos organizadores. Era uma rotina de ensaios e folia que começava em dezembro.
"Se não fosse a pandemia, já estaríamos todos nos blocos e nas ruas, e também ensaiando bastante. É um vazio imenso. Em janeiro e fevereiro a cidade vibra Carnaval, com calor, suor, cerveja gelada, com os sorrisos dos foliões, podendo cantar, dançar, pular... É angustiante não termos isso", afirma Vitor.
Já para Julia Assis, de 32 anos, a sensação é um misto de decepção e alívio. Afinal, a paixão está presente todo ano nos vários blocos em grupos — que chegaram a contar com até 20 pessoas normalmente com fantasias combinando, tudo após muita organização e cronograma montado. Entretanto, a ausência da folia facilitou a decisão de deixar o país para viver no exterior.
"A gente tentava pensar as fantasias com antecedência e fazíamos planilha para tudo. Dava bastante trabalho. No momento estou fora do Brasil, no México, e confesso que não ter Carnaval facilitou, porque eu costumo tomar minhas decisões baseadas nele. Não sei se conseguiria não estar no Rio se já fosse o auge dos blocos", afirma Julia, que acha incrível a ideia de um evento fora de época, mas concorda que neste ano isso não é possível.
"É a definição de tudo que a gente não deveria fazer até a covid estar 100% controlada", completa.
Ideia aprovada para próximos carnavais
Sem ensaios e desfiles, saudade das escolas de samba aumenta
Não apenas os foliões dos blocos que ficarão órfãos do Carnaval em 2021, como também os amantes do samba. É o caso do fisioterapeuta Paulo Henrique Pereira, 41 anos, e do analista administrativo Anderson de Aguiar, 38. O casal se conheceu na quadra da Estácio e costumava ter desde outubro uma rotina de disputas de sambas, ensaios técnicos, feijoadas e desfiles em várias escolas.
"Sou admirador do Carnaval desde criança e depois passei a frequentar quadras e fiz amizades. Frequentamos várias quadras e sou apaixonado por desfile. Nosso lazer a partir de outubro é o Carnaval, acompanhamos tudo, desde grupo Especial ao Acesso. No ano passado desfilamos em sete escolas e já chegamos a 11. Por isso, para mim, tem sido muito difícil porque é um ambiente de socialização, momento em que mais via meus amigos. Fora o samba, que faz muita falta ouvir a bateria. É uma saudade bem grande", lamenta Anderson, que desta vez não pôde comemorar o aniversário no dia 20 em uma quadra, como fez nos últimos anos.
Sem poder encontrar os amigos e frequentar os sambas, de Padre Miguel a Niterói ou São Gonçalo, muito menos ir à Marquês de Sapucaí, resta aproveitar essa época para recordar os anos anteriores pelas redes sociais, e acompanhar desfiles antigos.
"Conhecemos muitos amigos através do Carnaval e agora estamos segurando a mão um do outro durante a quarentena. É muito difícil, assim como ficar longe da família. Nesse momento estaríamos ensaiando e tentando aprender os sambas de várias escolas que desfilaríamos, mas não tem o que fazer. Algumas eventos voltaram, mas não acho que é o momento. É tentar amenizar com desfiles antigos, não dá para colocar a diversão à frente da saúde pública", completou Paulo.
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