Pastor quebra peças religiosas ligadas à religião de matriz africanaWhatsApp do DIA (98762-8248)
Por Jorge Costa*
Publicado 11/02/2021 12:46 | Atualizado 12/02/2021 12:38
Rio - O pastor da Igreja da Tenda dos Milagres, Gledson Lima, profanou peças religiosas e registrou o momento em um vídeo que circula nas redes sociais. O caso aconteceu no bairro Vila Cláudia, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Uma denúncia foi registada na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) nesta quarta (10). A Polícia Civil afirmou que vai apurar o caso. 
No vídeo, é possível perceber que missionários acompanham de perto a ação. O pastor usa uma pedra para quebrar peças sagradas e desfaz as oferendas colocadas no chão. No registro ele diz: “quebrando em nome de Jesus”, “quebra de maldição”, “foi quebrado também essa oferenda em nome de Jesus”. Gledson encerra o vídeo chamando pessoas para o culto de sua igreja: “Receba a tua vitória, venha amanhã para o nosso culto, amém”.
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Vítima do caso, o Babalorixá (líder religioso) Natã de Oxaguiãn, do terreiro Ilê Àsé Babá Min Okan Fun Fun, de 25 anos, disse ao DIA que procurou o pastor Gledson para dialogar e cobrar uma retratação. Sem sucesso, ele registrou o caso no DECRADI na tarde desta quarta (10) e contou que se sente cada vez mais inseguro.
“Tenho um sentimento de medo, impotência e tristeza, por não poder fazer nada. Tem lugares que não podemos andar com vestimentas sagradas, nós realizamos um culto tão maravilhoso, tão normal, e somos perseguidos o tempo todo por pessoas que infelizmente são lideranças religiosas”, afirmou Natã.
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A ação foi supostamente motivada em razão das peças estarem localizadas próximo ao sítio que pertence ao centro de recuperação da igreja. Natã contesta a versão e afirma que as peças foram colocadas a aproximadamente 500 metros do local.
De acordo com o artigo 208 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940, vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso pode gerar pena de detenção em até um ano, ou multa.
As polícias Civil e Militar afirmaram que vão apurar o caso. Procurado pelo Dia, o pastor Gledson Lima afirmou que só daria entrevistas pessoalmente e preferiu não se pronunciar por telefone.
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Casos de Intolerância Religiosa são recorrentes e subnotificados
No último sábado (6), um terreiro de Candomblé foi depredado por um vizinho que se intitulava evangélico durante as festividades de Yemanjá, no bairro Anil, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Durante a celebração que aconteceu às 18h30, ele começou a xingar e depredar o terreiro usando uma escada e, em seguida, um pedaço de pau para quebrar ornamentos sagrados.
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Apenas em janeiro deste ano, nove casos envolvendo intolerância religiosa foram registrados. Vale ressaltar que muitos casos não prosseguem em razão de medo e insegurança.
O Instituto de Segurança Pública (ISP) contabilizou 1.355 registros de ocorrência de crimes que podem estar relacionados à intolerância religiosa em 2020. Isso significa que foram denunciados em média mais de três casos por dia.
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Nesse contexto se incluem ainda os casos de injúria por preconceito (1.188 vítimas), quando um indivíduo é discriminado por sua cor, etnia, religião ou origem; e preconceito de raça, cor, religião, etnia e procedência nacional (144), quando todo um grupo étnico-racial é inferiorizado por conta de sua identidade.
Comissão de Combate a Intolerância Religiosa

Segundo o professor e historiador da UFRJ, Ivanir dos Santos, é muito difícil conviver com esses fatos. “O que ainda precisa acontecer para frear atos como esses? Estão mexendo com nosso sagrado. De onde vem toda essa violência?". Desabafa o Babalawô, que é interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR).

A CCIR é uma organização que ajuda diversas vítimas de intolerância religiosa no estado com acolhimento e orientação. É possível entrar em contato com a comissão por meio do telefone: 21 2232-5128 ou 21 2273-3974
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*Estagiário sob supervisão de Gustavo Ribeiro
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