Gisele Rocha e a filha, Luiza Vitória, de oito anos, que teve a conta banida pelo TikTok após ser vítima de ataques preconceituosos na rede social - Acervo Pessoal
Gisele Rocha e a filha, Luiza Vitória, de oito anos, que teve a conta banida pelo TikTok após ser vítima de ataques preconceituosos na rede socialAcervo Pessoal
Por Gabriel Sobreira
Rio – Uma menina de oito, com nanismo, teve a conta banida na plataforma TikTok após ser vítima de ataques preconceituosos dos usuários da rede. Isso aconteceu em pleno Natal. A pequena Luiza Vitória Rocha, que possui um tipo raro de nanismo, o diastrófico, tinha mais de 400 seguidores e sempre postava vídeos de dancinhas na plataforma. Mas um vídeo da garota dançando viralizou – com mais de duas mil visualizações - e gerou uma onda com centenas de comentários maldosos debochando da condição física da garota.
"Assim que ela me mostrou, eu vi que ela chegou a responder alguns falando que estava ficando triste. Tinha gente que pedia para eles pararem, mas 90% eram palavras agressivas", lembra a jornalista Gisele Rocha, 33 anos, mãe de Luiza, moradoras da Chatuba, em Mesquita, Baixada Fluminense. Ela fez um Boletim de Ocorrência e divulgou nas redes sociais. "Menor de oito anos é agredida verbalmente, vítima de preconceito por ter uma deficiência "nanismo", na plataforma TikTok. Comentários maldosos e debochados pelo fato de ser deficiente", diz um trecho do documento.
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Gisele imediatamente começou a denunciar os usuários para a plataforma. Foi respondendo um a um na medida do possível, quando para a surpresa dela, não demorou muito para que a conta dela, usada pela filha, fosse banida.
"Eu estava respondendo com 'qual o problema dela ser anã?' e algumas pessoas até me respondiam de volta. Mas do nada, o TikTok excluiu a conta. Sei que ações repetidas levam ao bloqueio, o que me deixa chateada é que a plataforma não quis saber que essas pessoas eram denunciadas por discurso de ódio, ataque, simplesmente nos baniram. Os agressores continuam lá e usam a plataforma", lamenta a jornalista. "A gente não pode deixar isso ficar impune. Se deixarmos para lá isso sempre vai acontecer. Precisamos mostrar para as pessoas. Infelizmente é mostrando atitudes ruins que conseguimos conscientizar as pessoas", completa.
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A conta da família tinha mais de 400 seguidores e era um dos passatempos favoritos da pequena Luiza Vitória para postar os vídeos dela de dancinha. "Eu não queria mais usar. Desinstalei o aplicativo e não fiz outra coisa. Mas o apoio que estamos recebendo mostrou que a culpa não é da Luiza. Não posso excluí-la disso. O problema não é dela, mas as pessoas que têm que mudar. O que mais ficou mal é o fato de não ter mais a conta com os vídeos dela", lamenta Gisele.
Questionada sobre como está a filha após todo o episódio, Gisele explica que a menina é uma criança que sabe o que acontece porque lê. "Antes de me mostrar, ela leu os comentários. Tanto que me disse: 'tem gente falando que sou linda e fofa'. Tento sempre mostrar para ela que ela precisa lidar com a deficiência dela. Só que a gente não tinha passado por uma ação tão explícita", afirma Gisele.
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"Ela (Luiza Vitória) não sabe o quanto repercutiu. Ela ficou muito triste por não usar mais o TikTok. Por ela ser criança, eu consigo reverter as agressões. Não sei o que ela sente por dentro lendo aquilo. As mensagens ali mostravam que ser anão, ter deficiência, é algo ruim. Isso pode trazer um trauma grande para ela. Mas quando é criança, a gente reverte. Adolescente ou adulto é mais difícil. A minha filha até lembra desse episódio, mas ela é tão de luz que conseguiu ver o lado bom das coisas. Ela fala: 'muita gente falando que eu era linda'. Graças a Deus estamos recebendo muitos comentários de apoio e isso tem ajudado", frisa a mãe de Luiza Vitória.
Procurado, o TikTok informa que a segurança dos usuários é uma prioridade para a plataforma. "Para garantir um ambiente em que todos se sintam à vontade para se expressar de forma segura e autêntica, aplicamos nossas Diretrizes da Comunidade e Termos de Serviço a todos e todo conteúdo na plataforma. Nossas políticas deixam claro que comportamentos como bullying e assédio não são tolerados. Além disso, nossos Termos de Serviço estabelecem uma idade mínima para que as pessoas possam entrar na plataforma. Quando encontramos contas que violam essas regras ou quando essas contas são reportadas, nós agimos”, esclarece em nota enviada pela assessoria de imprensa.