Publicado 14/02/2021 08:00
Este Carnaval não vai ser igual àquele que passou. Definitivamente, não. Nem a nenhum outro. O novo coronavírus impôs ao mundo uma nova rotina, triste é verdade. Todos deverão estar mascarados, mas não para curtir a Festa de Momo e, muito menos, aglomerar - para se proteger e proteger o próximo. Não é possível brincar, principalmente com a vida.
A ansiedade do pré-Carnaval sempre foi algo que contagiou o Rio e o país. Época de catarse coletiva, de pura folia e muita alegria. Imagine então para quem tinha na festa não só o ganha-pão, mas a razão de vários anos ou de uma vida inteira de trabalho. Carnavalesca que fez história em desfiles inesquecíveis, Maria Augusta Rodrigues admite que está sendo muito difícil conter a angústia provocada pelo vazio imposto pela pandemia, a saudade dos amigos e dos abraços. "Todo ano eu começava a frequentar as escolas em agosto, acompanhava a escolha dos sambas, o desenvolvimento dos enredos. Faria agora 52 anos de Avenida. Está sendo muito difícil. Eu venho sentindo um buraco no estômago que dói fisicamente. Tenho dificuldade de dormir", admite.
Porta-bandeira multipremiada da Beija-Flor, Selminha Sorriso também revela que passou por momentos de profunda tristeza: "Já chorei muito. Eu completaria 30 anos com o Claudinho, a parceria mais antiga da história do Carnaval. Foi um momento de grande dificuldade. Milhares de pessoas tiveram a renda prejudicada. Houve um impacto emocional e financeiro muito grande".
Carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira diz que os últimos dias, em especial, vêm sendo mais esquisitos, sem a correria nos barracões: "Era o momento em que estaríamos finalizando o trabalho, repartindo a sensação do dever cumprido. E, hoje, a gente sente a falta do Carnaval na memória afetiva e no bolso". Leandro lembra que os trabalhadores dos barracões foram obrigados a buscar alternativas. "O setor cultural e do entretenimento foi o primeiro a sentir os efeitos da crise e hoje ainda sofre com as restrições impostas pela pandemia", acrescenta.
Profissional de muitas facetas, instrumentista, compositor, ator e jornalista, Luís Filipe de Lima ressalta que a situação atual é trágica para a humanidade. Folião convicto, adverte que não se pode pensar só no Carnaval: "Precisamos olhar com uma lente grande porque outras atividades culturais e profissionais também estão sendo afetadas. Todas sofreram demais e necessitam de uma assistência governamental. O pessoal precisa de socorro".
Apesar da enorme mudança de rotina, todos estarão, de certa forma, ligados na folia. Maria Augusta já definiu a programação: "Vou ver as lives, que serão muitas, para ocupar o meu tempo. E certamente assistir aos desfiles antigos que serão exibidos na TV". Leandro Vieira também será um verdadeiro 'folion':" Vou ficar em casa, com pouquíssimas pessoas da minha família, e trazer o espírito carnavalesco, com inúmeras lives de Carnaval, blocos. A Mangueira, por exemplo, fará três lives e vai apresentar de forma virtual o enredo de 2022 com a apresentação dos sambas concorrentes".
Selminha fará uma live com Claudinho e a bateria da Beija-Flor para uma emissora da China. E também negocia participar de um filme como atriz. "Tenho tantos compromissos que acho que nem vou descansar. E nem quero". As atividades profissionais também vão marcar o Carnaval de Luís Filipe Lima: "Felizmente eu estou trabalhando bastante. Não vou ter tempo para descansar. Mas eu também acho interessantes as iniciativas de carnavais virtuais, porque têm um valor simbólico enorme para a nossa cultura".
Os quatro são unânimes em duas questões: "Que as vacinas cheguem logo em quantidade suficiente para todos e que, quem puder, fique em casa". Que venha o Carnaval de 2022 e que seja muito, mas muito diferente deste de 2021.
MARIA AUGUSTA RODRIGUES
LEANDRO VIEIRA
SELMINHA SORRISO
LUÍS FILIPE DE LIMA
'A minha rotina este ano será bem diferente. Há anos vou à Avenida, já gravei mais de 15 CDs de sambas do Grupo Especial, fiz bailes. Toquei muitos anos em blocos tradicionais do Rio. Felizmente, eu estou trabalhando bastante neste momento em outras atividades e não vou ter tempo para descansar. Mas eu também acho interessantes as iniciativas virtuais. O Carnaval vai transbordar para as redes sociais. Haverá muitas lives, vídeos e programas. Muita gente vai manter a tradição do Carnaval espontâneo, o da crítica de costumes, com posts e coisas do gênero. Dá para relembrar carnavais antigos, fantasias. Ano passado eu fiz uma marchinha sobre a geosmina - 'Cedae ou Desce' - e a geosmina está aí de novo'...
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