A região fica próxima à Lagoa de PiratiningaReprodução / Bem TV
Por RAI AQUINO
Publicado 14/02/2021 05:00
Rio - Com cerca de 4 mil moradores, de acordo com o último Censo do IBGE, em 2010, e mais de 10 mil, segundo as estimativas, o Complexo do Jacaré, na Região Oceânica de Niterói, enfrenta duas realidades bem distintas: de um lado há a presença de condomínios de luxo e do outro a favelização. A área, que é considerada um bairro, é formada por pelo menos quatro comunidades, cortadas pela imensa Estrada Frei Orlando.
"Você vê a diferença social. Quando você entra na região, de um lado tem os condomínios de mais renomes, como o Jardim Ubá, que é a área mais favorecida. Do outro lado, você vê a parte favelizada", conta o ativista Edson Brito, de 43 anos.
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Morador do complexo há mais de 20 anos, Edson define a região como "um dos lugares mais singulares do mundo". Nascido na comunidade Santo Amaro, entre a Glória e o Catete, na Zona Sul do Rio, o ativista entende o Jacaré como uma "união de unidades".
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"Tem muitos condomínios que por si só já são uma comunidade. Um exemplo é o Ouro Verde, que é um condomínio de nove blocos", defende.
VÁRIOS SÍTIOS
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A região do Jacaré era formada por vários sítios antes da sua ocupação maciça, entre os anos 70 e 80. O nome do complexo foi dado por causa do rio que atravessa a região, que tinha muitos jacarés no passado.
"No decorrer do tempo, esses sítios foram loteados, principalmente a partir da desapropriação das pessoas que moravam na beira da Lagoa de Piratininga. Esse movimento foi liderado por Enoc Joaquim de Oliveira, um grande líder comunitário e vereador, que fez mutirão, construiu duas creches, uma escola e a quadra de esportes que temos hoje", conta Edson, dizendo que o prédio do programa Médico de Família na região recebeu o nome do mobilizador. "Lembro dele com uma enxada nas mãos fazendo obras para ajudar o próximo. Morreu pobre. Uma das maiores perdas do movimento social em Niterói".
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O interesse pela desapropriação da Lagoa de Piratininga aconteceu por causa da especulação imobiliária. Hoje, a região é uma das mais valorizadas de Niterói. Mas na época, abrigava casas de veraneio.
"Os primeiros moradores do Jacaré eram pessoas que trabalhavam nessas casas. Tiveram também muitos caiçaras e trabalhadores da construção civil em geral", afirma o ativista.
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Uma das principais consequências da ocupação desordenada na região foi a poluição do Rio Jacaré. O leito do principal afluente do sistema lagunar da Região Oceânica de Niterói foi assoreado. O rio também sofreu com a construção de vários poços artesianos, porque a região não tinha água encanada. Isso sem falar na poluição provocada pelo despejo de esgoto.
DEMANDAS
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Ao revisitar suas memórias no Complexo do Jacaré, Edson lembra que desde criança ia para a região, apesar da distância do Rio de Janeiro. Naquela época, a família já era dona de comércio local, que fazia com que ele tivesse o lugar como o seu quintal.
"Ali eu ficava à vontade. Eu peguei ali quando era muito sítio. A gente pegava muito fruta, um rio maravilho", relembra. "É sobre você ter uma qualidade de vida melhor. Você não tinha um trânsito muito grande de veículos, então, as crianças poderiam ter mais liberdade para andar de bicicleta, andar na rua. Era muito roça, um lugar meio que um misto de agrícola, com o início de assentamento, sítios, e muitas árvores frutíferas".
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Ao falar da situação atual local, o ativista vê a necessidade de se investir principalmente na juventude da região. Para ele, que também é conselheiro tutelar, o esporte e a qualificação profissional deveriam ser duas das prioridades para a comunidade.
"É você ter atenção especial para nossos filhos e nossas crianças. Com isso, você vai ter uma sociedade mais justa e uma ascensão social", pede.
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