Publicado 05/03/2021 18:02
Rio - Um policial militar, que não teve a identificação revelada, entrou em contradição ao falar que João Marcos da Silva Lima, de 19 anos, um dos baleados nesta quarta-feira durante uma operação da PM no Complexo do Chapadão, estava armado e teria atirado contra uma equipe da corporação.
Em entrevista ao DIA, Rayanne da Silva, irmã de João, que está internado em estado estável no Hospital Estadual Carlos Chagas após ser atingido por um disparo na barriga, disse que o irmão iria se encontrar com os amigos do quartel na casa de uma prima deles para ficar conversando. Logo em seguida, ela relata que começou um tiroteio na região e decidiu ligar para João para pedir que ele não fosse para a rua.
"Eu liguei pra ele e disse: "Bu? fica aí na Mariana, está dando muito tiro, depois você desce. Ele me respondeu: Rayanne, eu tô baleado, Rayanne. O caveirão me acertou, Rayanne. Não me abandona, vai para o hospital mais próximo". Nessa hora eu achei que ele estava brincando e disse: "poxa, não faz isso, eu estou grávida". Ele falou: "não estou brincando, Rayanne, fui baleado, estou na praça."
Rayanne conta ainda que imediatamente pediu um uber para ir ao hospital mais perto da casa onde mora (Carlos Chagas) e chegando lá, viu o caveirão estacionado e perguntou a um policial o que estava acontecendo.
"Os policiais me disseram: senhora, seu irmão estava armado junto com os outros. E eu disse: não estava armado, e ele não é traficante, é militar. Aí ele disse para eu provar que meu irmão era militar e pediu documentos. Voltei em casa, peguei e mostrei. Aí ele respondeu: realmente seu irmão não estava armado, e ele não é traficante, só estava no lugar errado na hora errada."
Ao ser perguntada se o irmão sabe da morte dos amigos Guilherme Martins, 20 anos e Gabryel Marques, de 21, Rayanne disse que provavelmente não, pois o jovem foi operado na noite desta quarta-feira e se encontra na sala vermelha.
"Nós não podemos entrar para falar com o João. Só sabemos que ele está bem. Provavelmente ele não sabe que os meninos morreram porque até agora não tivemos contato com ele e ninguém contou", complementa.
Ao finalizar, Rayanne diz que a família irá atrás de justiça pois não deixará o caso impune.
Denúncia de documentos furtados
As família de Guilherme e Gabryel, que morreram durante o confronto, alegam que os documentos e celulares deles sumiram. "O iPhone do meu filho, documentos e identidade do exército sumiram da carteira. A gente fala para os filhos andarem com documento, porque se você é preto e pobre, é bandido nesse país", criticou Fernanda, madrasta de Gabryel.
"A mochila do meu neto não aparece, eu havia dado uma novinha e boa pra ele", acrescenta o avô Sidney de Oliveira, 70.
O que diz a PM e a Civil
Em nota, a Polícia Militar disse que revidou os ataques sofridos na chegada à comunidade do Chapadão e que um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias. A Polícia Civil informou que investigações estão em andamento e testemunhas serão ouvidas. Além disso, os agentes realizam diligências e coletam informações para esclarecer o caso e identificar a autoria dos crimes.
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