Madrasta de Guilherme, à esquerda, e mãe de Gabryel, à direitaFOTOS de Beatriz Perez

Por Beatriz Perez
Rio - As famílias de dois jovens mortos na quinta-feira na comunidade Gogó da Ema, no Complexo do Chapadão, Zona Norte do Rio, dizem que os rapazes, colegas no serviço às Forças Armadas, morreram enquanto estavam em um bar na comunidade. A Polícia Militar chegou a divulgar em sua conta no Twitter na noite de ontem que agentes do 41º BPM (Irajá) entraram em confronto com criminosos no morro do Gogó e apreenderam uma pistola, uma granada, radiotransmissor, munições e drogas. "Não deixando de mencionar que três indivíduos foram encontrados ao solo e socorridos ao HECC. Registro em andamento", escreveu a secretaria.
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Segundo as famílias, quatro jovens foram alvo de disparos. Três morreram e o quarto está internado no Hospital Estadual Carlos Chagas (HECC), em Marechal Hermes, também na Zona Norte. 
As famílias de Gabryel Marques de Oliveira, 21, e Guilherme, 20, pediam justiça na manhã desta sexta-feira (5) no IML. Os dois serviram no Colégio Militar da Tijuca, Zona Norte do Rio. Ambos são descritos como rapazes atléticos.
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Os celulares e documentos dos jovens desapareceram. Os parentes no IML questionavam porque no registro de ocorrência os mortos ficaram sem identificação, se portavam documentos. Uma das vítimas morreu durante cirurgia no HECC, outra, atingida na perna, está internada na unidade. "Mataram meu menino. Estudante de Direito. Sonhava em ser delegado da Polícia Federal. Ele foi chamado para a atlética da faculdade, lutava, nadava", emociona-se a mãe de Gabryel, Liliane Marques de Oliveira, 44, que tem outro filho de 5 meses.

Gabryel, segundo a família, estudava Direito na Faculdade Estácio de Realengo e trabalhava como corretor de imóveis em Campo Grande, Zona Oeste do Rio.

As mortes ocorreram entre 18h e 19h, segundo as famílias.

Guilherme Martins Oliveira, 20 anos, morava com a mãe em Guadalupe. A madrasta, Fernanda Machado Oliveira, conta que o enteado, a quem chama de filho, havia dado baixa no serviço prestado no Colégio Militar havia uma semana.

"Ele tinha sido convidado para continuar prestando serviço ao colégio como Civil. Estudava para ser fuzileiro naval. Queria servir o Brasil", diz Fernanda. O pai de Guilherme conta que o filho havia compartilhado ontem a proposta de começar na próxima segunda-feira um serviço no Colégio Militar da Tijuca, devido aos seus bom desempenho. Flávio Erasmo cobrou que um exame tivesse sido realizado nas mãos do filho, para verificar a presença de pólvora, e assim atestar que o filho não estava em confronto. 

No fim da tarde, o jovem saiu da casa da mãe em Guadalupe para se encontrar com três amigos, dois deles também haviam prestado serviço militar. Em seguida, o jovem iria para a casa da namorada. "No tiroteio, meu filho saiu correndo. Tomou um tiro na costela. Perdeu a vida tão jovem", lamenta Fernanda.

Ela refuta a versão de que o enteado era traficante. "Meu marido saiu daqui (do IML) pra pedir exame de pólvora na mão dele. Façam o exame. A gente só quer justiça", cobrou.

Denúncia de documentos furtados

As famílias dizem que os documentos e celulares dos mortos foram furtados. "O iPhone do meu filho, documentos e identidade do exército sumiram da carteira", diz Fernanda." A gente falava para os filhos andarem com documento, porque se você é preto e pobre, é bandido nesse país", criticou Fernanda.

"Eles entraram atirando e colocaram no chão pacotinhos e celulares", aponta a avó de Gabryel, Maria Esmeralda, de 72 anos, sobre a polícia.

"A mochila do meu neto não aparece, que eu havia dado novinha e boa pra ele", acrescenta o avô Sidney de Oliveira, 70.
Pai acredita que disparos tenham sido direcionados
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O pai de um dos jovens mortos na noite de quinta-feira em ação policial no Gogó da Ema, no Complexo do Chapadão, Zona Norte do Rio, acredita que o filho mais velho, Guilherme Machado Oliveira, 20 anos, e os outros três amigos tenham sido alvo de policiais militares do 41º BPM que entraram na comunidade. O corretor de imóveis Flávio Erasmo de Oliveira,44, teve o corpo do filho liberado sem que o pedido de perícia para detectar pólvora nas mãos do jovem tivesse sido atendido, segundo relatou. 
Questionada sobre as denúncias, a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar disse que, uma equipe do 41ºBPM (Irajá) sofreu uma emboscada de criminosos armados durante troca da equipe que estava no veículo blindado, na Rua Fernando Lobo, nas proximidades do Complexo do Chapadão, na zona norte do Rio, e revidaram. Policiais militares da unidade foram deslocados em apoio e houve um novo confronto. "Na ação, três criminosos foram feridos, sendo socorridos para o Hospital Estadual Carlos Chagas. Foram apreendidos uma pistola, munições, um rádio transmissor, uma granada, drogas, e dois aparelhos celulares. Registro feito na 31 DP", diz a nota.
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Um inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado para apurar as circunstâncias da ação.
A reportagem aguarda retorno da Polícia Civil sobre o caso.