A ocupação em CTIs na rede privada chegou a 95% no EstadoReprodução/ internet
Por Bernardo Costa
Publicado 29/03/2021 18:09 | Atualizado 30/03/2021 01:16
Rio - O número de ações na Justiça por leitos de UTI de covid-19 na rede pública cresceu 257,89% em março, na comparação com o mês de fevereiro. As ações foram ajuizadas pelo plantão noturno da Defensoria Pública do Estado do Rio (DPE). Neste mês, até este domingo (28), foram 68 ações, enquanto que em todo o mês de fevereiro o plantão noturno da Defensoria foi acionado 19 vezes por familiares que buscam internar parentes em leitos de tratamento intensivo para covid-19. 
Uma das pacientes que aguardam transferência para leito de UTI é Clarinda Raphael dos Santos, de 74 anos. Ela está intubada em estado grave no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, em Irajá. A família conseguiu uma liminar na Justiça, no sábado, para transferir a paciente para um leito de UTI especializado na rede pública, mas, até agora, não conseguiu a vaga.
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"Ela deu entrada na segunda-feira passada (22) e o estado de saúde piorou nos últimos dias. Mesmo assim ainda demoraram muito a intubar a minha mãe. Ela precisa de um leito de UTI com muita urgência, pois o hospital aqui não tem estrutura para tratar covid. Só que, mesmo com a liminar, não foi disponibilizada vaga para ela", diz a filha Adriana Raphael dos Santos.
De acordo com ela, os profissionais da unidade inseriram por engano, no sistema de regulação, que a mãe precisava de um leito de enfermaria. 
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"Descobri isso no sábado. Aí alteraram a informação e colocaram que ela precisava de leito de UTI", afirma Adriana. 
Ela ainda afirma que, durante esta segunda-feira, tenta na unidade de saúde, sem sucesso, que algum médico assine novo laudo atestando o agravamento do quadro de saúde da mãe, para que possa dar entrada com nova ação na Justiça por meio do plantão noturno da Defensoria Pública estadual. A liminar, que conseguiu no sábado, é válida por 24 horas.
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"O primeiro médico disse que não poderia assinar novo laudo porque tinha que sair para outro plantão, que começaria às 19h. O outro médico chegou e saiu para jantar, e ninguém aparece para atestar novo laudo. Sei que os médicos estão sobrecarregados, mas estamos no meio de um pandemia, as pessoas estão morrendo. Tenho receio de perder o horário no plantão e não conseguir nova liminar que possa a ajudar a salvar a vida da minha mãe", diz Adriana.
Segundo a Secretaria municipal de Saúde (SMS), Clarinda Raphael dos Santos está com leito de UTI covid-19 reservado no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla e será transferida ainda esta noite. A pasta afirma que o leito foi disponibilizado assim que houve vaga, e que toda a documentação médica necessária para a regulação, incluindo exames e laudos, está devidamente anexada ao prontuário da paciente e inserida na plataforma do Sistema Estadual de Regulação.
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No domingo, 13 ações na Justiça
Segundo a defensora pública Isabel Fonseca, os casos de ações na Justiça por leitos de UTI de covid atingiram, neste mês, cerca de 90% de todas as ações ajuizadas pelo plantão noturno. Em janeiro, esse percentual estava em torno de 30%. A defensora acrescenta que, apenas no último domingo (28), foram ajuizadas 13 ações por leitos de tratamento intensivo, 12 delas de covid.
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"Em janeiro tivemos plantões em que não ajuizamos nenhuma ação relacionada à covid. A rede de saúde ainda estava dando conta dos atendimento. São ações que envolvem pacientes em estado muito grave, que correm risco de vida, e estão em leitos transitórios em UPAs ou nas emergências de hospitais particulares ou públicos que não são especializados em covid", diz a defensora pública Isabel Fonseca, que coordena o plantão noturno da DPE.
De acordo com ela, o aumento na procura por leito se intensificou a partir da semana passada. Até o dia 24, foram 35 ações na Justiça em busca de leitos de UTI na rede pública. Desde então, outros 33 casos foram ajuizados, totalizando 68 neste mês.
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"Verificamos que, em muitos desses casos, os familiares já não conseguem o primeiro atendimento na UPA por falta de vaga para internação, e internam o parente na rede particular. Em seguida, por questões financeiras na maioria dos casos, procuram ingressar na Justiça por meio da Defensoria para conseguir um leito na rede pública", diz Isabel Fonseca. 
Na rede privada
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Quem conta com um plano de Saúde no Rio também enfrenta filas e falta de leitos para internação em UTIs para covid-19. Algumas regiões já operam na capacidade máxima também na rede privada. É o caso da Região dos Lagos, do Centro Sul Fluminense e do Norte Fluminense.
A ocupação em CTIs na rede privada chegou a 95% no Estado. A taxa supera a da rede pública do Estado, que está em 87,5%, segundo divulgação da Secretaria Estadual de Saúde do Rio.
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Na rede privada, o principal gargalo para a abertura de novos leitos é a falta de medicamentos, como anestésicos, bloqueadores neuromusculares e drogas para manutenção do coma induzido, o chamado "Kit intubação". As informações são da Associação dos Hospitais do Estado do Rio.
Cremerj expressa preocupação com possível falta do 'kit intubação' no Rio
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O Conselho de Medicina do Rio (Cremerj) divulgou nota técnica, nesta segunda-feira, expressando preocupação com uma possível falta no Estado do Rio de Janeiro de fármacos usados em procedimentos recomendados para alguns pacientes com covid-19, como a intubação traqueal e ventilação mecânica, também conhecidos como "kit intubação".
Em consideração ao alto índice de pacientes que necessitam atualmente desse tipo de procedimento e o aumento da fila de espera por UTIs, que, nesta segunda-feira, ultrapassava o número de 700 pessoas, o Conselho recomenda aos médicos cautela na hora de usar esses medicamentos.
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Na última terça-feira (23) o Cremerj já havia publicado uma nota técnica com recomendações a respeito. No entanto, devido ao agravamento do cenário da saúde pública do Rio nos últimos dias, o Conselho reforça algumas orientações aos médicos, principalmente os anestesiologistas, para que priorizem, em procedimentos anestésico-cirúrgicos, a utilização de fármacos que não estejam sendo usados nas UTIs, como os anestésicos inalatórios e bloqueios regionais, desde que a alteração não comprometa a segurança do paciente.
Além disso, o Cremerj orienta a interrupção provisória no agendamento de procedimentos anestésico-cirúrgicos eletivos nos casos em que a espera não agrave a situação do paciente. O objetivo é poupar os medicamentos utilizados no procedimento para uso nas UTIs.
"Estamos agindo por precaução. Não existe uma falta, mas a demanda está alta por esses medicamentos, muito maior do que a habitual. Isso é um fato. Precisamos nos prevenir em prol da qualidade da assistência médica no nosso estado e para garantir o melhor tratamento para os nossos pacientes", explica Walter Palis, presidente do Cremerj.
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