Covid: Mulher tem alta após ficar 34 dias em ECMO, mesmo tratamento de Paulo Gustavo
Ao todo, Gabrielle Ferreira ficou mais de dois meses internada; irmão, que é pneumologista, cita que o método utilizado 'aumenta muito a gravidade do paciente'
Rio - A jornalista Gabrielle Ferreira Santiago, de 29 anos, tem motivos suficientes para celebrar a vida. Ela, que tem sobrepeso e ficou internada por 68 dias no Hospital Glória D'Or, na Zona Sul, por complicações da covid-19, teve alta na última sexta-feira (28). Do tempo em que ficou internada, a metade foi em ECMO, mesmo tratamento que o ator Paulo Gustavo fez na época em que também contraiu o coronavírus.
Seu irmão, Gabriel Santiago, de 34 anos, que é pneumologista e acompanhou de perto o drama da irmã, contou ao DIA como foram os dias intensos pela cura da irmã.
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"Por uma infeliz coincidência, a gente teve a minha irmã como a paciente mais grave do hospital. A Gabrielle foi internada por queda de saturação e febre persistente no dia 22 de março. Quando ela chegou, precisou de pouquinho oxigênio. No dia seguinte já precisou aumentar bastante a quantidade. Já no dia 24, mesmo com todo o suporte, ela parou de responder e precisou ser intubada", conta o médico.
Gabriel diz também que durante a intubação, nos primeiros dias, a irmã ficou razoavelmente estável, mas ainda precisando de bastante oxigênio. Menos de uma semana depois, Gabrielle desenvolveu pneumotórax (presença de ar entre as duas camadas da pleura, que pode provocar o colapso do pulmão).
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"Por conta desse problema, ela não conseguiu oxigenar. A saturação dela continuava muito baixa. Foi isso que nos obrigou a optarmos pela ECMO".
ECMO: É uma máquina que recebe o sangue sem oxigênio através de um cateter na veia do paciente, e faz com que o sangue seja oxigenado. Funciona exatamente como um pulmão, só que nesse caso, é artificial. O sangue oxigenado é entregue por um outro cateter em uma outra veia do paciente.
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Ainda de acordo com o pneumologista, esse método é pouco utilizado pois é um procedimento bastante arriscado. "É uma máquina que gera bastante complicação. É algo que a gente quer evitar o tempo inteiro. Quando o paciente entra em ECMO, isso já aumenta muito a gravidade e a mortalidade. O risco de morte da pessoa internada é maior a cada dia que ela passa em ECMO. Tudo que a gente quer é tirar o paciente desse tratamento o mais rápido possível".
Apesar de saber da gravidade do tratamento, Gabriel disse que a irmã não conseguiu ficar em ECMO por pouco tempo e precisou da ajuda da máquina por 34 dias. Ele acredita que Gabrielle tenha sido a paciente que ficou mais tempo dependente desse método no Rio de Janeiro.
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O médico cita também que um dia, de forma repentina, o pulmão da irmã começou a responder ao tratamento de uma forma muito significativa. "Um belo dia o pulmão dela resolveu responder. Ela dobrou a quantidade de volume que ela conseguia ventilar aquele pulmão. A partir desse momento a gente conseguiu progredir e fomos reduzindo o auxílio que a ECMO. Fizemos isso para deixar o próprio pulmão ir assumindo seu trabalho".
Gabriel diz que após o processo de "desmame" da ECMO, a irmã foi para a ventilação mecânica e logo depois foi tirada a traqueostomia. "Depois disso tudo ela saiu do CTI e foi para o quarto. Agora ela está super bem do ponto de vista neurológico. Não teve nenhuma sequela neurológica cognitiva. O que ela tem que fazer agora é se movimentar, até porque a Gabrielle ficou acamada, completamente deitada, por cerca de 50 dias. Ela teve que usar bloqueador neuromuscular e tomou remédio para sedação, então isso leva um grau de comprometimento motor muito significativo".
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O médico faz questão de agradecer à equipe médica, e, principalmente aos pneumologistas David Nigri e Bruno Baena: "Eu devo essa vitória ao chefe da minha equipe, que é o David Nigri. Ele foi fundamental. Nós tivemos que lançar mão de recursos tecnológicos de ponta que o hospital pode proporcionar junto com o David. O Bruno Baena também. Os dois foram os grandes líderes, digamos assim. Eu me portei como irmão, que era o que eu precisava ser naquele momento. Nós conseguimos vencer uma batalha que parecia estar perdida".
Sobre o caso da irmã, que foi parecido com o do ator Paulo Gustavo, Gabriel disse que "para quem estava próximo desse dois casos, foi um alento". Ao finalizar, ele afirma que a cura da irmã foi "uma vitória depois de uma derrota tão grande".
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A reportagem também falou com Gabrielle. Ela contou ao DIA que nunca imaginou passar por tudo isso e que ao chegar no hospital, no dia 20 de março, achou que receberia alta no mesmo dia. "Eu achei que meu caso não ficaria tão grave. Pensei que eu fosse chegar lá, me medicariam, eu ficaria algumas horinhas e iria embora".
A jornalista afirma ainda que quando descobriu que precisaria ficar no hospital, pediu a todo momento que não fosse intubada. "Eu dizia que não queria ser intubada. A gente via na TV muitos casos de pessoas que precisaram ser intubadas e nunca mais voltaram, né?".
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Gabrielle também mencionou a morte de Paulo Gustavo, que passou pelo mesmo tratamento que ela, mas infelizmente não resistiu à doença e morreu no dia 4 de maio. "Quando eu soube que ele morreu, eu ainda estava no hospital, não tinha recebido alta. Isso mexeu muito comigo. O caso dele foi muito parecido com o meu. Mas agora é pensar na vida e na recuperação. Estou fazendo fisioterapia todos os dias em casa e graças a Deus eu estou bem", finalizou.
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