Aparelho funciona como coração e pulmão artificiais
Aparelho funciona como coração e pulmão artificiaisReprodução/iStock
Por iG, Eduarda Esteves
O ator Paulo Gustavo, internado por conta da Covid-19 desde o dia 13 de março, apresentou uma piora no quadro de saúde, nesta sexta-feira (2). De acordo com o boletim médico de sua equipe, o comediante precisou ser submetido a uma terapia chamada (Oxigenação por Membrana Extracorpórea).

A ECMO pode ser usada em pessoas de todas as idades, desde recém-nascidos até idosos, e possibilita substituir a atividade só do coração ou do pulmão.

Mas o que é esse tratamento?
A ECMO é um coração artificial e um pulmão artificial para o paciente, que usa um circuito de tubos, bomba, oxigenador e aquecedor que fica instalado fora do corpo. Por conta das complicações de pacientes com Covid-19, o uso da técnica aumentou entre os pacientes mais graves para poupar esses órgãos enquanto a cura acontece.

Em entrevista ao iG, Luiz Guilherme Velloso, cardiologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explicou como a ECMO veno-venosa funciona. "É uma técnica em que o sangue é retirado do corpo e bombeado para fora do por uma veia. O sangue passa por uma bomba e por uma membrana de oxigenação extracorpórea, aonde ele elimina o gás carbônico e é oxigenado, o que seria a função do pulmão. Após passar por essa membrana, ele é reinjetado no corpo, devidamente oxigenado e livre do gás carbônico".

Pode ser utilizada em pós-operatório de cirurgia cardíaca, doenças pulmonares graves, quadros de insuficiência cardíaca, trauma ou infecção grave, entre outros.

Segundo o médico, o tempo médio do tratamento com o pulmão artificial em pacientes mais graves é de cinco a sete dias. Por ser mais jovem, o cardiologista diz que as chances de recuperação do ator Paulo Gustavo são grandes. "Um organismo mais jovem e sem doenças associadas tem mais armas para lutar contra uma forma tão grave da Covid".

Quais os riscos e benefícios?
O cardiologista explica que não é um procedimento simples. "Como todo procedimento complexo, há riscos, que vão desde a um sangramento durante a manutenção da ECMO, de trombose do sangue durante o trajeto e de infecção. Enfim, é uma técnica que envolve uma complexidade grande", alertou o especialista.

Mas, o médico ressalta que quando a equipe de saúde decide utilizar a ECMO é porque os benefícios são superiores aos riscos de uma operação complexa. "Existem situações em que o ventilador artificial não consegue oferecer uma oxigenação suficiente para manter a vida do paciente. Nesses casos, quando o pulmão está extremamente comprometido, é uma manobra esperada para se manter a oxigenação compatível com a vida do indivíduo", diz.

O cardiologista garante ainda que a técnica é importante em casos graves da Covid-19. "Isso faz sentido porque a pneumonia inflamatória da Covid-19 atinge o ápice e depois vai lentamente regredindo com o tratamento, podemos ganhar até quatro dias para que o paciente comece a melhorar daquele quadro de saúde. Talvez sem isso, não tivesse tempo suficiente para a recuperação", explicou.

Qual a diferença da ECMO para um respirador?
Luiz Guilherme Velloso destaca que quando o pulmão sofre uma lesão infecciosa, inflamatória ou traumática, ele tem comprometida sua função que é basicamente oxigenar o sangue e remover o gás carbônico para permitir o funcionamento adequado do organismo. "Para pulmões pouco lesados, o respirador artificial muitas vezes é a solução para que o órgão melhore. Em alguns casos, uma ventilação artificial com uma quantidade de oxigênio maior do que a da atmosfera pode ser suficiente", explica.

Mas, se a lesão pulmonar for mais grave e mais intensa, a necessidade de maiores quantidades de oxigênio fornecida pelo respirador vão se tornando necessárias. "Quando a técnica do respirador não é suficiente para manter a oxigenação dos tecidos para manter a vida, aí se cogita o uso da ECMO. Essa é a diferença, a gravidade na lesão pulmonar", diz o cardiologista, ao ressaltar que em 2021, na Rede São Camilo, cerca de 20 pacientes com Covid-19 foram para ECMO. A sobrevida foi ao redor de 30%, compatível com o observado internacionalmente.