"Por mais que tenhamos nossa impressão pessoal do que vivemos, muitos desses momentos nos remetem a uma companhia especial. Portanto, por que não se manifestar se há alguma saudade batendo forte agora?"Arte: Kiko
Por ANA CARLA GOMES
Publicado 04/04/2021 09:00
Por aqui, já estamos acostumados a apressar nossas contas com o Leão, aquele mesmo do Imposto de Renda, nesta época do ano. Temos uma data certa para listar nossos ganhos, despesas e pagamentos de tributos. Há, no entanto, outros valores muito essenciais que não precisam de nenhum prazo específico no calendário para serem declarados. Aliás, o melhor é que sejam revelados espontaneamente, a qualquer momento. A eles, damos o nome de saudades.
Existem aquelas mais arrebatadoras, que apertam o coração da gente. E outras mais fáceis de lidarmos. Perguntei recentemente a amigos e conhecidos quais são os nomes das suas saudades. Antes, declarei as minhas. Comecei a lista por roda de samba, em especial o caloroso 'Samba do Trabalhador', comandado pelo mestre Moacyr Luz, no Clube Renascença, no Andaraí. Segui com a Mureta da Urca, que me remete imediatamente à minha amiga Camilla e sua capacidade mágica de transformar o meu astral, numa tarde naquele lugar. E terminei com a palavra "show". O espetáculo carrega o encanto de unir pessoas desconhecidas, mas que descobrem uma sintonia ao entoarem o mesmo refrão.
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E assim, os nomes de tantas outras saudades foram surgindo através dos relatos que recebi. Algumas denunciavam as origens de seus donos, como o desejo do poeta paraibano Kermerson Dias de estar no São João de Campina Grande. Ou da baiana de comer caranguejo, do tijucano de estar no Maracanã e da mineira de voltar à sua Belo Horizonte.
Outras respostas me levaram ao passado de menina, como a amiga que me lembrou da nossa adolescência na Região dos Lagos. "Era uma época que podíamos aproveitar com mais segurança e simplicidade. Maquiagem para sair? Unhas pintadas na praia? Não me lembro disso. Top, short jeans e tênis eram as nossas marcas. Que alegria!", contou-me. Já a Débora, minha professora de pilates, retornou à época de menina para falar dos passeios com o pai na Quinta da Boa Vista.
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Muitos elegeram como saudade um dos gestos que mais nos têm feito falta: o abraço. Outros tantos falaram em viagens e também em cinema. Aliás, a sensação de ver um filme no telão é indescritível. Parece que embarcamos para valer na história com o cenário se agigantando à nossa frente. Barzinho ou almoço com amigos, bloco de Carnaval, praia... As saudades são infinitas e declará-las é um belo exercício. Por mais que tenhamos nossa impressão pessoal do que vivemos, muitos desses momentos nos remetem a uma companhia especial. Portanto, por que não se manifestar se há alguma saudade batendo forte agora?
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