Publicado 30/04/2021 12:34
Rio - Funcionários da Viação Acari paralisaram os serviços nesta sexta-feira para reivindicar o pagamento de 45 dias de salário atrasado, do décimo terceiro salário e dois meses de cesta básica. Na garagem da empresa, os rodoviários realizam uma assembleia para definir quais medidas tomar daqui para frente. A Viação Acari anunciou seu fechamento nesta quarta-feira (28) e manteria os serviços até o próximo dia 21 de maio, quando encerraria totalmente suas atividades.
Rodrigo Lisboa, motorista da Viação Acari há três anos conta que a diretoria da empresa vem falhado com os funcionários e que diversas tentativas de acordo foram frustradas pelos contínuos atrasos de salários. A empresa cobre as linhas 607, 677 e 686 pelo consórcio Transcarioca e as linhas 254, 277, 456, 457 e 650 pelo Internorte.
"Estamos com praticamente três meses de salários atrasados, a cesta básica com dois meses de atraso e com a promessa da diretoria de melhora. Nunca melhorava. Estamos passando dificuldade financeira, eu pago pensão, estou correndo risco de chegar uma intimação na minha casa e ser preso porque não estou conseguindo arcar com as minhas despesas, muito menos com a pensão dos meus filhos", disse.
O motorista também culpa a falta de aporte financeiro da Prefeitura do Rio para manter os postos de trabalho da Viação Acari. Rodrigo questiona o investimento realizado no BRT e o abandono das linhas de ônibus.
"É uma situação muito complicada e a culpa não é só da empresa. A gente também tem que colocar a culpa na prefeitura do Rio que teve dinheiro pra investir centenas de milhões no BRT e não teve pra investir R$75 milhões na manutenção de 600 postos de trabalho", conta.
No último dia 20, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou em segunda votação, o Projeto de Lei (PL) nº 140/21 que permite à prefeitura investimentos de até R$ 133 milhões no sistema do BRT Rio, com recursos públicos. O investimento visa a contratação de agentes de segurança para coibir ações de vandalismo e assaltos nas estações e veículos.
O motorista Rodrigo Lisboa também alegou que segundo a empresa, a crise financeira vem se agravando desde o início da pandemia, mas que teve início há pelo menos quatro anos. Ele explica que o reflexo no número de passageiros foi notado logo no primeiro momento da redução na circulação de pessoas nas ruas, motivado pelos decretos de isolamento social. No entanto, ele conta que já viu uma melhora de 50% no transporte de pagantes.
"No primeiro momento de pandemia o número de passageiros caiu, só que a gente viu uma melhora de 50% a 70%. Já tivemos uma reunião com o diretor da empresa em que ele prometeu parcelar o 13º em nove vezes, ele só conseguiu pagar 4 parcelas. Já ficamos com três meses de salário atrasado, e só pagou esses depois de uma ordem judicial emitida após uma denúncia no Ministério do Trabalho. Depois desses três meses, tem 45 dias que ele não paga mais nada", explicou.
Um dos motoristas, que não quis se identificar, conta que já passa necessidades em casa e que, já precisou usar lenha para fazer café, pois estava sem dinheiro para comprar o gás de cozinha.
"Eu trabalhando, cheguei em casa, fui fazer um café e não tinha gás. Tive que dar meu jeito, fiz um fogão de lenha, para fazer um café e um almoço. Esses dias chamaram minha mulher para receber uma cesta básica e eu estando trabalhando passando por isso, receber cesta de miliciano", contou.
A paralisação já é sentida por passageiros que utilizam as linhas da Viação Acari. Messias, usuário da linha 607, conta que precisa andar um trajeto maior para conseguir embarcar em um coletivo que vá até seu local de trabalho.
"Esse era o único ônibus que levava pro Rio Comprido, o 607 me deixava no meu local de trabalho, agora eu tenho que me locomover até o fórum a pé uns 40 minutos. Eu não posso andar muito porque tenho perda de cartilagem nos dois joelhos", conta.
Uma outra passageira, Carmelita Reis, de 81 anos, explica que foi pega de surpresa com a informação da paralisação dos rodoviários. Ela estava em Cascadura e descobriu que não tinha ônibus para voltar ao Méier, onde mora.
"Eu sempre pego ônibus aqui. Fazia um tempo que eu não vinha em Cascadura e fui tomada pela surpresa ao descobrir que o ônibus não vai passar mais. Hoje cedo, passei em frente à Acari e vi um tumulto dos motoristas por causa de pagamento, agora descobri que não tem ônibus, tenho que ver como vou voltar pra casa", explica.
O Prefeito Eduardo Paes, em uma coletiva realizada nesta sexta-feira, disse que o contrato da Prefeitura é com o consórcio InterNorte e que o consórcio informou que as linhas seriam atendida por outras empresas.
A Rio Ônibus também confirmou que, em conjunto com os consórcios, realiza o remanejamento das linhas para que os passageiros antes atendidos pela Viação Acari não fiquem desassistidos.
"A definição sobre qual empresa ficará responsável pelas linhas em aberto está em discussão, porém, ressaltamos que todo o sistema enfrenta severa deficiência financeira, já que enfrenta queda de 50% do público pagante e nenhum auxílio por parte do Governo, como acontece em dezenas de outras cidades brasileiras, onde prefeituras estão conscientes da necessidade de apoio para manutenção e operação deste serviço essencial à população" disse o Sindicato em nota.
Questionado se o Sindicato entraria com alguma ação para que a Prefeitura arque com os custos, a Rio Ônibus respondeu que aguarda a "sensibilidade do Governo. Até lá, outras empresas poderão fechar, mais rodoviários ficarem sem trabalho e a população sem transporte", destacou.
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