Força Tarefa da Polícia Civil cumpre mandados de busca e apreensão contra pessoas ligadas à milícia da MuzemaDaniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por Thuany Dossares
Publicado 07/06/2021 06:00 | Atualizado 09/06/2021 09:14
Rio - A construção dos prédios que desabaram na Muzema, em abril de 2019, rendeu uma grande movimentação financeira em lavagem de dinheiro para a milícia da Zona Oeste do Rio. Investigações da Delegacia de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Dcoc-LD) apontam que os paramilitares fizeram uma fortuna milionária com outras empresas que foram abertas graças ao dinheiro conquistado com os lucros dos apartamentos irregulares. O desabamento deixou 24 pessoas mortas. 
No último dia 3, em Rio das Pedras, comunidade vizinha da Muzema, mais uma família foi destruída após a queda de um prédio irregular, que deixou duas pessoas mortas e quatro feridas. Mesmo com a confirmação da Polícia Civil de que o imóvel não era da milícia, a tragédia acendeu mais uma vez o alerta sobre as construções ilegais na região. 
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Os dois bairros são considerados o berço dos paramilitares no Rio de Janeiro. De acordo com a corporação, a organização criminosa começou a ganhar forma naquela localidade, no início dos anos 2000, para só depois ir se expandindo para outras regiões da capital e do estado. 
Em 10 de maio, a Dcoc-LD realizou a Operação Caixa de Areia, para cumprir mandados de busca e apreensão contra pessoas ligadas ao ramo imobiliário clandestino da milícia da Muzema e Rio das Pedras. Durante seis meses de investigação, a especializada descobriu que um dos alvos, que se apresenta como empresário, abriu, pelo menos, três empresas com o dinheiro da venda e aluguel dos apartamentos que desabaram: um bar e restaurante, e uma loja de conserto de motos, no Itanhangá, e um pequeno mercado, na Muzema.
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Os agentes,  que integram a força-tarefa da Polícia Civil de combate à milícia, também cumpriram mandados de busca nos estabelecimentos do homem. Ele é apontado como um dos empresários da construção dos prédios que desabaram na Muzema. 
Familiares usados como laranjas para disfarçar o patrimônio ilegal 

As investigações da Dcoc-LD apontaram que o empresário usava seus comércios legalizados para continuar disfarçando os ganhos ilegais com os paramilitares. Para isso, ele também contava com a ajuda de 'laranjas'. Essa função, era exercida por sua irmã e esposa, que também foram alvo de mandados de busca e apreensão da Operação Caixa de Areia.

Através de relatórios de inteligência financeira, a polícia descobriu que, em 2018, a irmã do empresário sacava cerca de R$ 120 mil mensalmente. A movimentação do dinheiro não era compatível com a renda dela, que era beneficiária do programa do governo federal Bolsa Família, conforme apuração dos agentes.

Já a esposa dele, declarava ser estoquista do mercado do marido e que o cargo lhe rendia uma salário mensal de R$ 10 mil. Além disso, entre março de 2016 e outubro de 2019 a mulher movimentou mais de R$ 2,3 milhões. Segundo a delegacia, o faturamento encontrado não correspondia ao apresentado.

De acordo com a Polícia Civil, o empresário possui carros importados, entre eles um Camaro. A 1ª Vara Criminal Especializada determinou o bloqueio de R$ 12,4 milhões em bens. 
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Empresário já foi denunciado pelo MP por organização criminosa
As investigações da Dcoc-LD apontam que o empresário atua no ramo imobiliário clandestino, pelo menos, desde 2014. Os policiais apuram se atualmente ele ainda lucra com os imóveis. Ele é oriundo do Piauí e está no Rio de Janeiro há 21 anos.

Em depoimento, no dia 10, o homem negou qualquer ligação com a milícia. Ele ainda disse que estudou até a 5ª série, veio para o Rio para tentar uma vida melhor e que ficou na casa de uma prima, em Rio das Pedras, até conseguir juntar dinheiro.

Os agentes apuraram que ele possui registro de arma e fogo e anda armado pela região. A polícia ainda ouviu relatos de que ele tem um perfil agressivo, já ameaçou pessoas e chegou a dar um tiro para o alto na Muzema.

O empresário chegou a ser denunciado pelo Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (GAEMA/MPRJ) por organização criminosa, em 2019, e ficou preso por cinco meses. Segundo as investigações, ele desempenhava um papel de proeminência no grupo, como empresário do ramo imobiliário na Muzema, Rio das Pedras e adjacências.

Na época, a denúncia apontava que além da exploração de venda e aluguel de imóveis residenciais e comerciais, o homem também realizava ligações clandestinas de energia elétrica e água, além de pagar propina à servidores e influências políticas para conseguir ter êxito em suas atividades. 
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