Publicado 20/09/2021 11:37
Rio - Eram aproximadamente 9h da última quinta-feira, 16. A van Alvorada x Vieira Ravasco (Santa Cruz) tinha seis passageiros, além do motorista e da cobradora. Após passarem por um cruzamento, homens encapuzados e fortemente armados abordaram o veículo, ordenaram o desembarque e atearam fogo na van. Nas chamas, foi-se também o sustento de pelo menos quatro famílias, e um prejuízo que passa dos R$ 250 mil. Outras sete vans foram incendiadas no mesmo dia, num ataque que a Polícia Civil acredita ser fruto de um confronto entre milicianos que brigam pelo domínio da região.
Uma funcionária que não será identificada trabalhava na van legalizada que pertence ao pai e viveu momentos de terror sob as ordens de homens encapuzados.
"Fazíamos nosso trajeto normal quando vi uma van voltando e outra sendo queimada. Quando fizemos a curva, eles abordaram a gente e nos mandaram descer. Só tive tempo de abrir a porta e correr. Nesse intervalo, não consegui olhar para trás. Só consegui ver um encapuzado com armas na mão. Eu corria, minhas pernas tremiam, bambeavam, e eu só pensava: era a van do meu pai. Escutei um tiro e o barulho dos vidros quebrando com o fogo", conta. Nenhum passageiro ou funcionário ficou ferido, mas o trauma permanece: "Ainda estou em estado de choque".
A luta, agora, é para tentar comprar um novo veículo e manter o sustento. A família calcula que precisa de cerca de R$ 250 mil para cobrir o prejuízo. Só a van tem um valor estimado em R$ 200 mil, além da máquina de bilhetagem eletrônica, cujo custo é do proprietário, e da documentação, que também pegou fogo no ataque.
"Na van tinham dois cobradores, e dois motoristas. Ficaram quatro pessoas desempregadas, sem ter um recurso. Como vamos voltar à ativa, procurar emprego, se era isso que sustentava minha família, minha filha, minha casa?", questiona a filha do proprietário, que criou uma campanha de financiamento coletivo no site Vakinha, a fim de angariar recursos e pagar um novo veículo. Qualquer pessoa pode doar através do site vakinha.com.br/2388439.
Em nota, a Rio Card Mais informou que se solidariza com a situação do permissionário legalizado do Serviço de Transporte Público Local. "Nesses casos, a empresa busca conversar com os profissionais e costuma flexibilizar a forma de pagamento, oferecendo possibilidade de parcelamento do novo validador e de postergar o vencimento para depois do reinício da operação. Entretanto, é preciso entender: não há custo de manutenção e/ou instalação do equipamento na primeira instalação. O modelo de negócio adotado é o de cessão em comodato. No momento da assinatura do termo, o permissionário fica ciente que não há cobertura para casos de vandalismo ou mau uso".
"Meu sonho é colocar uma van do lado da outra. A que foi queimada, e a que compraremos. É triste olhar para ele e ver que ele lutou uma vida inteira para conquistar uma van, ter um cadastro, e a gente perder a troco de nada. É um sentimento de revolta. Não sabemos quem foi, quem fez. Estamos muito abalados. Mas tenho fé que a campanha vai dar certo".
Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, o proprietário deve fazer um registro de ocorrência na polícia e, quando adquirir um novo veículo, poderá entrar com um pedido de permuta na SMTR, anexando a cópia do Registro de Ocorrência, a fim de substituir a licença do veículo anterior pelo novo.
Guerra entre milicianos resultou no ataque às vans
O ataque às vans na quinta-feira (16) foi a parte mais espetaculosa de uma guerra que já é travada há algumas semanas. De um lado, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, tenta manter os territórios da Zona Oeste que foram herdados após a morte do irmão Ecko, durante operação policial em junho. Zinho, agora, é quem comanda a milícia de Campo Grande, Paciência e Santa Cruz. Mas do outro lado, Danilo Dias Lima, o Tandera, tenta avançar sobre territórios na região, e já tem o controle de áreas menores em Santa Cruz.
Investigações da Polícia Civil apontaram que Tandera estaria tentando extorquir os motoristas das vans que circulam por Campo Grande, Santa Cruz e Sepetiba, os obrigando a pagar para ele a taxa ilegal para conseguir trabalhar.
Segundo a apuração policial, antes dos ataques, Tandera, que atua principalmente na Baixada Fluminense, foi aos pontos finais dos coletivos e avisou aos despachantes das linhas que se eles não pagassem a ele, iria atear fogo nos veículos.
Segundo a apuração policial, antes dos ataques, Tandera, que atua principalmente na Baixada Fluminense, foi aos pontos finais dos coletivos e avisou aos despachantes das linhas que se eles não pagassem a ele, iria atear fogo nos veículos.
No dia anterior aos ataques, dois homens, supostamente integrantes da milícia, foram mortos no bairro Dom Bosco, em Nova Iguaçu. O município da Baixada é o reduto de Tandera. E há duas semanas, em Santa Cruz, um grupo de quatro homens armados invadiu um posto de gasolina e executou um homem que estava dentro de um carro. Dentro do veículo da vítima, policiais encontraram um carregador de pistola e um colete balístico. As Delegacias de Homicídio da Baixada (DHBF) e da Capital (DHC) investigam os dois casos, e as relações com milícias.
A polícia tem reforçado a região desde o ataque de quinta-feira.
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