Publicado 16/12/2021 14:08 | Atualizado 16/12/2021 17:03
Rio - A polícia encontrou mensagens de ódio e ameaças de morte em celulares apreendidos na Operação Bergon, realizada na manhã desta quinta-feira (16). Suspeitos de cometerem crimes de racismo e antissemitismo nas redes sociais foram alvos da ação que aconteceu em sete estados do Brasil. Ao todo, quatro pessoas foram presas.
“São mensagens de intolerância racial e religiosa, falam de morte a judeus, morte a negros, morte a nordestinos”, disse o delegado Rodrigo Coelho durante a coletiva de imprensa na Cidade da Polícia. fotogaleria
Para o promotor Bruno Gaspar o conteúdo das mensagens ultrapassa o limite da liberdade de expressão.
“Foi feita uma análise profunda dos celulares apreendidos e o MP sempre irá apoiar a manifestação de pensamento. Acontece que a manifestação do pensamento deixa de ser protegida pela liberdade de expressão quando é disseminação do ódio”, declara.
Foram cumpridos 31 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão temporária. Segundo as investigações, os suspeitos estariam disseminando ódio nas redes sociais e dispostos a praticar atos de violência, como lesões corporais e até homicídios contra as vítimas.
A ação, já encerrada, é resultado de sete meses de investigação da Dcav (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima), especializada da Polícia Civil do Rio, e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público fluminense. A investigação se deu em maio, a partir da análise dos eletrônicos apreendidos com Fabiano Mai, 18 anos, que matou três crianças e duas professoras a facadas em uma creche de Saudades, Santa Catarina, foram encontradas conversas, pela internet, de ódio e racismo com jovens de diversos estados brasileiros.
“Tudo teve início na apreensão de um celular e tivemos autorização para analisar esse celular. Entramos em um mundo que pra muitos não é algo comum, mas alguns povos já sofreram muito na mão de pessoas responsáveis por crimes contra humanidade. Analisamos diversos grupos de WhatsApp e vimos a disseminação de práticas preconceituosas, hierarquia racial, antissemitismo, intolerância religiosa”, revela o promotor Bruno Gaspar.
A operação também contou com apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). A ação aconteceu ainda em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraná, Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Um taco com arame farpado foi encontrado na casa de um dos suspeitos. Foram apreendidos ainda outros materiais como facões, armas, arco e flecha, facas, machadinhas e uniformes militares.
Na casa de outro suspeito, a polícia encontrou livros que falam sobre a vida de Adolf Hitler, líder do nazismo. Em outra residência, a suástica, um dos símbolos mais conhecidos do nazismo, estava desenhada em portas e paredes.
Michel Gherman, coordenador do núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ, estima que exista entre dezenas e centenas de grupos neonazistas no Rio de Janeiro. "O Brasil é o país que teve o maior crescimento de neonazistas no mundo entre 2018 e 2021. É um crescimento fora de série, que marca uma tensão de entender o que está acontecendo".
Em 15 anos, a SaferNet Brasil recebeu e processou 248.107 denúncias anônimas de neonazismo envolvendo 28.598 páginas (URLs) distintas (das quais 24.292 foram removidas) escritas em sete idiomas e hospedadas em 1.208 domínios diferentes, de 55 diferentes TLDs e conectados à Internet através de 1.694 números IPs distintos, atribuídos para 37 países em 4 continentes.
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