Em Campos, suspeito tinha facas e material sobre nazismoDivulgação/PCERJ

Rio- Grupos neonazistas tem crescido cada vez mais no sudeste do Brasil. A afirmação é de  Michel Gherman, coordenador do núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ, que estima entre dezenas e centenas no Rio de Janeiro. No Brasil, esse número pode chegar a milhares, de acordo com o pesquisador.
Nesta quinta-feira, dia 16, a Dcav e o Gaeco realizam a operação Bergon contra suspeitos de crimes de racismo e células neonazistas. Ao todo, somente no estado do Rio, são 15 mandados de busca e dois de prisão temporária. A operação acontece também em outros seis estados.

"O Brasil é o país que teve o maior crescimento de neonazistas no mundo entre 2018 e 2021. É um crescimento fora de série, que marca uma tensão de entender o que está acontecendo. Esse crescimento neste período específico se dá a partir de alguma coisa que acontece e o que aconteceu foi a eleição do presidente Jair Messias Bolsonaro. Esse grupos no Rio, estima-se que sejam entre dezenas e centenas".

Para Gherman, grupos neonazistas se sentem encorajados a partir do discurso de intolerância.
"A primeira questão, na verdade, é que grupos neonazistas se sentem à vontade a partir de uma inspiração do governo. (...) O número de adeptos tem crescido mais que o número de grupos, o que também é muito perigoso. Eles estão deixando de ser grupos divididos e passando por um processo de unificação, o que os deixa ainda mais forte".

Em 15 anos, a SaferNet Brasil recebeu e processou 248.107 denúncias anônimas de neonazismo envolvendo 28.598 páginas (URLs) distintas (das quais 24.292 foram removidas) escritas em sete idiomas e hospedadas em 1.208 domínios diferentes, de 55 diferentes TLDs e conectados à Internet através de 1.694 números IPs distintos, atribuídos para 37 países em 4 continentes.
"A internet promove uma relação de vínculos de iguais para iguais que acabam produzindo uma percepção de que todos pensam iguais. Então há uma relação de organização de pessoas, no caso dos neonazistas,  que odeiam gay, negros, mulheres, judeus e que se articulam pelas redes sociais", pontua o especialista.
Ele faz ainda um alerta quanto a normalização desse cenário. "O aumento desses grupos e a normalização da existência deles é preocupante. Há uma sustentabilidade orgânica que vem crescendo nos últimos quatro anos por conta dessa normalização. Essa normalização provoca menos reação dos que não são nazistas e isso é muito perigoso".

Gherman definiu ainda características presentes em todo neonazista que, segundo ele, ajudam a identificá-los na sociedade.
"Todo nazista tem baixa tolerância ao que atrapalha sua existência, tem compreensão do mundo a partir de perspectivas conspirativas. Linguagem violenta e expressões como 'tem que morrer', 'é um canalha', são exemplos de comportamentos nazistas. Um outro elemento é de que valores democráticos são ruins para sociedades e de que valores autoritários e militares é que são bons para a sociedade".
A Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj), por meio de nota assinada por seu presidente, Alberto David Klein, afirma que estão acompanhando a operação e têm atuado "para alertar que os discursos de ódio e a banalização do Holocausto, têm alimentado células nazistas, terroristas. São combustíveis para algo que não é da nossa cultura brasileira".
A Fierj salienta que casos como o que resultou a operação desta quinta, "exigem investigação, inteligência e ação do aparato policial e posteriormente do MP e da Justiça".