Elizabeth Machado Louro, juíza do caso Henry BorelCleber Mendes/Agência O Dia

Rio - A juíza Elizabeth Louro Machado marcou para o dia 9 de fevereiro o retorno das audiências de julgamento sobre o caso Henry. A magistrada irá ouvir duas testemunhas que faltaram às sessões por questão de saúde. Os réus também serão interrogados na data.
Durante os últimos dois dias, 13 testemunhas foram ouvidas no Tribunal de Justiça do Rio. Monique e Jairinho ficaram juntos no mesmo local pela primeira vez desde que foram presos, em 8 de abril, um mês após a morte de Henry.
No primeiro dia de audiência, na terça-feira, Thiago K. Ribeiro, conselheiro do Tribunal de Contas do Município (TCM) se disse amigo íntimo do ex-parlamentar e descreveu o acusado como uma pessoa "muito carinhosa". A sessão começou com mais de uma hora de atraso pois os réus demoraram a chegar.
Ribeiro, que é ex-vereador, se disse surpreso quando soube da acusação contra Jairinho. "Até hoje eu não entendo o que pode ter acontecido, porque as acusações não condizem com o perfil da pessoa que conheço há nove anos", disse.
A cabeleireira de Monique, Tereza Cristina dos Santos, também prestou depoimento e confirmou ter presenciado a chamada de vídeo entre a babá de Henry e Monique. Segundo ela, a funcionária mostrava que o menino estava mancando.
"Pelo celular ela filmava o menino andando no corredor. Ele estava mancando. Depois ouviu menino perguntando se ele atrapalhava a mãe. Ela disse que não. Ainda ouvi o menino dizendo que o tio havia brigado com ele ou batido. Não deu para ouvir ao certo", disse Tereza que relatou ter ouvido uma ligação na sequência, em que Monique, segundo ela, disse: "Para de dizer ao meu filho que ele me atrapalha, isso não é verdade" e "se você mandar a babá embora, eu vou junto também, porque ela trata muito bem do meu filho".
A terceira pessoa a ser ouvida na terça-feira foi Jairo de Souza Santos, o Coronel Jairo, pai de Jairinho, que levantou suspeitas sobre o laudo do IML que apontou 23 lesões no corpo da criança. Ele disse que esteve no hospital Barra D'Or, para onde Henry foi levado no dia 8 de março, data da sua morte.
"Quando eu cheguei, a Monique estava em choque olhando para a a criança. Eu ajoelhei, peguei na mão dela e coloquei a mão no coração do Henry e comecei a orar para que ele voltasse. Não havia nenhuma equimose no corpo da criança, nenhuma lesão. Eu penteei o cabelo dele umas três, quatro vezes, e não havia nenhum ferimento. Os médicos e enfermeiras também não relataram ferimentos. Depois, o corpo vai para o IML e o laudo sai com 23 lesões. Alguém está mentindo, ou o pessoal do hospital ou os peritos do IML", questionou Coronel Jairo.
Leniel Borel, pai de Henry, disse que a fala do Coronel é mentirosa. "O laudo está lá falando das lesões. Eu vi meu filho lesionado no nariz, no braço, no fígado. Todo mundo da Rede D'Or se comunicou e falava do meu filho como uma criança que chegou cheio de hematomas e marcas no hospital. Eu vi. Se ele está falando que não viu, é uma grande mentira".
Herondina de Lourdes, tia de Jairinho também foi ouvida. Jairinho foi preso na casa de Herondina, em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Questionada sobre a relação de Jairinho e a criança, Herondina disse que conheceu o menino Henry no carnaval, em fevereiro deste ano, em uma viagem à Mangaratiba.
Herondina alegou que não tinha conhecimento sobre animosidades entre o casal e a criança e que quando o menino estava na casa dela em Bangu, era Monique quem preparava a comida do filho. Durante o depoimento, Monique começou a chorar no tribunal ao ouvir os relatos sobre a relação com o filho.
Na noite de terça-feira (14) a diarista do casal prestou depoimento. Leila Rosângela reconheceu que arrumou o apartamento do condomínio Majestic no dia da morte do menino, em 8 de março. A faxineira do casal foi a última a depor no primeiro dia de depoimentos, como testemunha de defesa de Monique Medeiros.
Ela contou que varreu, tirou o lixo e arrumou o apartamento antes da chegada de Monique e Jairinho do hospital Barra D'or. O casal estava acompanhado de Cristiane Isidoro, assessora do ex-vereador que também prestou depoimento.
Ao ouvir os esclarecimentos da diarista, o promotor questionou Cristiane, pois a assessora havia dito horas antes, que o apartamento não havia passado por limpeza. "É mentira que teve faxina. Estava cheio de cabelo de Monique no banheiro do apartamento", afirmou. A amiga da família de Jairinho disse que nada havia sido removido do apartamento, com a exceção de porta-retrato com fotografias do menino. Cristiane falou antes de Leila Rosângela na audiência.
Interrogada pelo promotor, Cristiane negou ter conhecimento de que Jairo e Monique tivessem um relacionamento abusivo. Ela também negou ter notícias de que Jairinho tenha destratado crianças.
O filho mais velho de Dr. Jairinho, o estudante de Direito, Luis Fernando Abidu Figueiredo Santos, de 24 anos, e um policial civil, identificado como Sigmar Rodrigues de Almeida, amigo de Leniel Borel, pai do menino Henry também prestaram depoimento na terça.
Luís foi questionado pela promotoria, sobre o porquê de seu pai ter sido cassado na Câmara Municipal do Rio, se era tão querido e conciliador. O rapaz afirmou que o pai perdeu o mandato por conta da repercussão midiática do caso sobre a morte de Henry Borel.
Já o policial civil Sigmar Rodrigues, que foi a sétima testemunha a depor no primeiro dia de audiência, disse: "Nossa intenção, minha e do Leniel, sempre foi de encontrar a verdade", afirmou. O policial contou que se tornou amigo do pai da vítima no fim do ano passado porque frequentavam a mesma igreja.
O policial reforçou ainda que durante o enterro do menino, Jairinho tocou as costas do Leniel e sugeriu que ele "fizesse outro filho". "Eu ouvi ele dizer: 'Vida que segue, daqui a pouco você faz outro filho".
Sigmar também confirmou que o pai de Henry elogiava a maternidade de Monique e gostaria de voltar com ela.
Na quarta-feira, segundo dia de audiência, o irmão de Monique Medeiros, Bryan Medeiros da Costa e Silva, afirmou que, em conversas com a irmã no presídio, ela confirmou que havia sofrido agressões por parte de Jairinho.
"Em um dos momentos em que fui visitá-la no presídio [...] Ela confirmou um episódio em que o Jairo, ou por ciúme ou por algum desentendimento, fui até a casa dela, pulou o muro, abriu a porta e a enforcou", disse Bryan, que citou outros episódios de agressão que a irmã teria confirmado no presídio.
A psicóloga Elisa da Costa, arrolada como testemunha pela defesa de Monique, veio do Rio Grande do Sul para ser ouvida, na quarta-feira. No entanto, ela foi impedida de prestar depoimento e dispensada pela juíza Elizabeth Machado Louro.
Elisa disse que foi contratada pela defesa de Monique para compor um histórico psicológico de Monique. E que entrevistou pessoas da rede de relacionamentos dela, o que resultou em mais de 40 horas de gravação.
"São os fatos que eu quero trazer aqui para ajudar a defesa da Monique", disse Elisa.
"Fatos não. São versões a que a senhora teve acesso", retrucou a juíza.
O coronel da reserva dos Bombeiros Reinaldo César Pereira Schelb, tio de consideração de Monique, afirmou que defendeu que a mãe de Henry tivesse defesa própria. Durante audiência, a testemunha afirmou que considerava a relação entre Monique Medeiros e Jairo abusiva física e psicologicamente. Ele também destacou que Jairinho e o pai são pessoas influentes na Zona Oeste. “Eles são poderosos, politicamente. (Ouvi falar) que eles são tudo dono de Bangu”, disse.
O diretor do Departamento-Geral de Polícia da Capital, Antenor Lopes, defendeu a tecnicidade do trabalho da Polícia Civil e do delegado Henrique Damasceno que presidiu o inquérito. Antenor foi relacionado como testemunha de defesa de Monique Medeiros, mãe da vítima. O depoimento durou aproximadamente 1h30.
Lopes classificou Damasceno como "seríssimo, incorruptível e insugestionável". O diretor do Departamento Geral de Polícia ressaltou que o delegado Henrique Damasceno é avesso à imprensa e por esse motivo não ambicionaria assumir a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), cargo que ocupa atualmente.
A ultima pessoa a prestar depoimento nesta quarta foi Rosângela Medeiros, mãe de Monique. Ela repetiu por seguidas vezes que Henry nunca tinha sofrido agressões. "O Henry ficava lá em casa e eu sempre dava banho nele. Nunca vi nenhuma marca de machucado, de ferimento. Antes de tomar banho, tinha horas em que ele saia correndo pelado pela casa. Ninguém nunca viu nenhum ferimento. O Henry tinha o corpo branquinho, qualquer manchinha roxa iria aparecer", disse Rosângela, que também disse nunca ter ouvido de Henry qualquer relato sobre agressões:
"Ele nunca comentou nada. Ele teve cinco sessões com a psicóloga e ela também nunca sinalizou para qualquer problema nesse sentido".
A juíza Elizabeth Louro questionou se ela acreditava que o menino havia sido agredido no dia da morte da criança. "Eu acredito que sim", disse Rosângela


Relembre o caso
Henry Borel tinha 4 anos e morreu na madrugada do dia 8 de março deste ano, após dar entrada na emergência do Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. As investigações e os laudos da Polícia Civil apontaram que a criança morreu em decorrência de agressões e torturas.
O padrasto, Dr. Jairinho, e a mãe do menino, Monique Medeiros, foram indiciados pelo crime. O casal responde pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, tortura e coação de testemunhas. Para a polícia, a mãe de Henry Borel era conivente com as agressões do namorado contra o filho.