Izac Gomes, 52 anos, foi demitido 15 dias depois de denunciar caso de racismo em condomínio da Zona OesteDivulgação
Publicado 17/03/2022 18:48 | Atualizado 17/03/2022 18:53
Rio - O ex-funcionário Izac Gomes, de 52 anos, vítima de injúria racial pelo vereador de São Paulo Renato Oliveira, durante o horário de trabalho em um condomínio na Zona Oeste teme pela sua segurança. Ameaçado quatro vezes na delegacia pelo vereador, o supervisor operacional, agora desempregado, diz que sua demissão aconteceu de forma questionável.
Ele relembrou uma das ameaças feitas por Renato: "No dia da prisão dele [o vereador] por injúria, ele falou bem alto que ia acabar com a minha carreira. A gente sabe que esse povo tem muita influência e eu fico com medo de sofrer mais alguma retaliação pela denúncia", diz.
Vereador de São Paulo, Renato Oliveira, é contido por policiais militares após ofensas racista a funcionário de condomínio - Reprodução
Vereador de São Paulo, Renato Oliveira, é contido por policiais militares após ofensas racista a funcionário de condomínioReprodução
Ele conta ainda que foi tratado como cachorro no momento em que recebeu a notícia da demissão, 15 dias depois do caso de racismo no condomínio. "Do nada a funcionária começou a gritar falando que eu estava sendo conivente com uma funcionária que estava saindo antes do horário, mas foi nítido que isso foi algo plantado. Eu nunca tive uma advertência, desde 2018, quando comecei a trabalhar lá. Foi tudo muito estranho, eu ser ofendido, humilhado e demitido. Eles me descartaram, quem deveria me dar um apoio, me jogou na rua. Vivo em uma ansiedade grande", desabafa.
Segundo o Condomínio Estrelas Full Condominium, o ex-colaborador Izac "foi dispensado por razões alheias ao fato ocorrido com o vereador em 23 de janeiro de 2022, que está em apuração". Em nota, disseram ainda que a dispensa se deu de forma regular e por questões de ordem administrativa, não havendo qualquer ligação com o evento ocorrido com o vereador.
A Comissão de Trabalho, que presta apoio a Izac, enviou ofício ao condomínio da Barra da Tijuca para obter explicações sobre o que motivou a demissão. Outro ofício foi encaminhado ao Ministério Público do Trabalho informando o caso e propondo instauração de procedimento investigatório para apurar a possibilidade de ter ocorrido dispensa discriminatória. Ambos os documentos foram encaminhados na terça-feira (15).

"Este caso não é um ponto isolado, mas se insere em uma série de práticas racistas, que acontecem todos os dias. O crime de injúria racial não termina no momento das ofensas. Ele se estende e afeta da pior maneira a vida das vítimas. Não bastasse ter sofrido injúria racial, Izac perdeu o emprego, sente medo e ficou sem o apoio jurídico indispensável neste momento", disse a deputada estadual e presidente da Comissão de Trabalho da Alerj, Mônica Francisco.
Relembre o caso
O vereador Renato Oliveira (MDB), presidente da Câmara Municipal de Embu das Artes, interior de São Paulo, foi detido depois de uma confusão na piscina de um condomínio em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. A confusão aconteceu no domingo (23), quando o parlamentar teria ofendido um funcionário do local com xingamentos racistas.

De acordo com testemunhas, Renato estava na piscina quando foi advertido sobre o uso de caixas de som dentro do condomínio. Ele teria iniciado uma discussão com o funcionário, passando a ofendê-lo com palavrões de cunho racial. Um policial militar precisou entrar na piscina para retirá-lo do local.
Em vídeos que circulam nas redes sociais, policiais aparecem tentar fazer com que o homem saia da piscina. Mostrando resistência e bastante alterado, as imagens mostram que foi necessário que um PM entrasse piscina e segurasse o parlamentar para tentar contê-lo, enquanto ele diz que não fez nada e fala palavrões.

Em seguida, ele é retirado da piscina com a ajuda de mais um PM e é levado à força para a delegacia. Renato Oliveira é conduzido para fora e chega a chutar um policial que o segura pelo braço. No vídeo, os moradores aplaudem a ação da polícia.

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