Publicado 29/03/2022 10:34
Rio - Com a greve dos rodoviários no Rio, iniciada no primeiro minuto desta terça-feira, muitos passageiros encararam longas filas, aglomerações e espera para conseguirem pegar um ônibus convencional para chegar ao trabalho. No Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, o gerente de depósito Thiago Silvestre, de 30 anos, se disse desmotivado com a situação precária em que se encontra o transporte público da cidade. Vale destacar que o Sindicato dos Rodoviários acatou decisão judicial e orientou que todos os ônibus voltem a circular no município.
"O transporte no Rio de Janeiro já é bem desastroso, mas hoje realmente está um caos total. Eu vim de Santa Cruz pro Alvorada e foi péssima a condição. Todo dia fazemos o mesmo trajeto, mas hoje tá surreal. Já mandei mensagem pro patrão, mas seguimos na luta. É muito desmotivador toda essa condição, porque é uma luta que a gente tem só pra conseguir ir trabalhar", lamentou.
A secretária municipal de Transportes, Maína Celidonio, afirmou que após a decretação do fim da greve, 1.700 ônibus circulavam por volta de meio-dia. O dia amanheceu com apenas 60% dos veículos de linhas comuns nas ruas, cerca de1.400 coletivos. A prefeitura espera que a volta para a casa, a partir do fim da tarde desta terça-feira, seja menos caótica e que as linhas comuns sejam regularizadas. A secretária apela para que os motoristas, principalmente do BRT, voltem ao trabalho. "Os motoristas do BRT receberam rescisõesrecentes de em média R$ 50 mil. Nos causa muito espanto que esta categoria tenha tido a maior adesão à paralisação", afirmou.
Quem veio de Santa Cruz, conseguiu chegar, com atraso e ônibus lotado, à Alvorada por meio dos 'Diretões' disponibilizados pela prefeitura. Mas, no terminal da Barra da Tijuca a falta de ônibus deixou os pacientes sem perspectiva de como chegar ao trabalho. Os passageiros aguardavam por mais de uma hora no terminal a chegada de algum transporte.
Andreia Soares, de 39 anos, trabalha em casa de família e precisava chegar até o posto 4 da Barra da Tijuca. Ela disse que normalmente consegue pegar o ônibus às 6h30 em Santa Cruz, mas hoje só conseguiu pegar, por volta das 8h, o 'Diretão' para o Terminal Alvorada, que estava lotado.
"O ônibus 805 costuma chegar rápido no Alvorada, mas está demorando muito hoje", reclamou.
O motorista Carlos Henrique dos Santos, de 42 anos, também não conseguia pegar um transporte para chegar no serviço. "A situação aqui está péssima. A gente até consegue chegar no Alvorada, mas a gente não consegue chegar no Recreio. Só tem Pingo D'água, Mato Alto e Santa Cruz. O pessoal que trabalha em Santa Cruz não consegue chegar. Eu preciso ir pro Recreio. Não tem nenhum ônibus que saia do Alvorada e vá pro Recreio. É impressionante isso. A gente só consegue passar pelo Recreio, mas não consegue parar", relatou o morador do Alto da Boa Vista, na Zona Norte do Rio.
Espera sem fim por 'diretões'
A doméstica Simone Pereira Brandão, de 47 anos, contou que a situação estava caótica. A moradora de Santa Cruz, na Zona Oeste, voltou para casa ao ver que não tinha ônibus nas ruas. Ela disse que esperou os 'diretões' circularem para conseguir chegar no Terminal Alvorada.
"Tá muito ruim e espero que melhore, porque a gente tá sofrendo demais com isso. Não consigo chegar no trabalho, que é na Barra. Mais cedo não tinha os 'diretões', aí tive que esperar pra conseguir pegar. Estou esperando até agora o outro ônibus para chegar no meu destino final. A fila tá imensa e normalmente é muito rápido, porque tem bastante ônibus. Hoje não sei como que vai ficar", lamentou Simone.
Por volta das 9h, o técnico em manutenção, Leonardo de Oliveira, de 38 anos, disse que só conseguiu ir de Campo Grande para o Terminal Alvorada com os ônibus extras disponibilizados pela prefeitura. Ele precisa chegar na Saens Peña, na Tijuca, Zona Norte do Rio. "Precisamos de bastante melhorias no nosso transporte público. Nada muda, é sempre a mesma coisa. Hoje tá pior ainda. Eu que entro no trabalho 8h, ainda tô tentando chegar lá".
Fábio Pereira de Sá, de 38 anos, tinha que estar às 8h no trabalho, mas às 9h ainda esperava o ônibus 309 no Alvorada para chegar à Barra da Tijuca. Segundo ele, o perrengue com o transporte público é diário.
"O dia hoje está sendo horrível, ontem foi a mesma coisa e não muda nada. A gente passa perrengue todo dia. Vim de Santa Cruz de Diretão, mas foi horrível pra conseguir embarcar. Como sempre, veio lotado. Meu chefe tá me aguardando, mas ele sabe como que tá a situação de transporte. A gente fica agoniado, sem saber o que fazer, como trabalhar", preocupou-se o carioca, que trabalha com refrigeração industrial.
"O dia hoje está sendo horrível, ontem foi a mesma coisa e não muda nada. A gente passa perrengue todo dia. Vim de Santa Cruz de Diretão, mas foi horrível pra conseguir embarcar. Como sempre, veio lotado. Meu chefe tá me aguardando, mas ele sabe como que tá a situação de transporte. A gente fica agoniado, sem saber o que fazer, como trabalhar", preocupou-se o carioca, que trabalha com refrigeração industrial.
Gilza Arantes da Silva foi ao Terminal do BRT Paulo da Portela, em Madureira, Zona Norte do Rio, sem saber o que fazer. A doméstica disse que, apesar da greve ter sido suspensa, os ônibus articulados ainda não estão circulando na cidade.
"De manhã acordei e recebi a notícia de que estava com greve. Comuniquei ao patrão que não tinha como ir e fiquei em casa esperando. Aí agora deu no jornal que a greve foi suspensa, mas cheguei aqui na estação e não tem BRT. Eu dependo dele pra ir trabalhar na Taquara. Ou espero o ônibus aparecer ou volto pra casa", disse.
"De manhã acordei e recebi a notícia de que estava com greve. Comuniquei ao patrão que não tinha como ir e fiquei em casa esperando. Aí agora deu no jornal que a greve foi suspensa, mas cheguei aqui na estação e não tem BRT. Eu dependo dele pra ir trabalhar na Taquara. Ou espero o ônibus aparecer ou volto pra casa", disse.
Também em Madureira, Marco Antonio da Silva reclamou da atual gestão. "A gente vota no prefeito e ele não resolve nada. Me arrependi de ter votado nesse cara, porque estamos sofrendo. Eu pego ônibus lotado na ida e na volta do trabalho e nunca resolvem nada. A passagem tá cara e o pobre tá sempre se ferrando. Estamos pedindo socorro. A firma quer que a gente se dane, se a gente não for trabalhar é falta. E aí, quem vai pagar meu dia agora? É o prefeito? Ninguém vai pagar nosso dia. Se a gente não trabalhar, a gente não come. Um dia pra gente faz muita falta".
Liminar e suspensão da greve
Em uma liminar concedida ao RioÔnibus, a desembargadora Edith Maria Correa Tourinho declarou a greve ilegal, sob pena de multa diária no valor de R$ 200 mil. Ela ainda marcou audiência de conciliação para segunda-feira, dia 4 de abril. Num primeiro momento, a categoria foi alertada a permanecer mobilizada, mas logo depois o Sindicato resolveu acatar a decisão.
Atualmente, quase 19 mil rodoviários no município do Rio transportam diariamente três milhões de pessoas.
Mais cedo, o prefeito Eduardo Paes criticou o fato de só os motoristas do sistema BRT pararem os trabalhos. "Mais uma vez, estranhamente nenhum motorista apareceu. É curioso que param apenas os ônibus do BRT. O que vivemos hoje são os motoristas de BRT inacessíveis neste momento. É a única categoria que está nessa inacessibilidade toda. Eu gostaria de lembrar que é a categoria mais bem remunerada, acabaram de receber uma indenização e estão com os salários e direitos em dia", disse Paes em entrevista ao 'Bom Dia Rio', da TV Globo.
Entenda os motivos para a paralisação
O martelo foi batido, na noite desta segunda-feira, durante assembleia da categoria na sede social do sindicato, em Rocha Miranda, na Zona Norte. De acordo com o Sintraturb/RJ, cerca de 450 motoristas e cobradores haviam decidido pela greve.
"Como já era esperado, os empresários não ofereceram nenhuma proposta para reajustar os salários e demais benefícios. Ficaremos em estado de greve (apenas o sindicato) caso alguma proposta seja apresentada; para isso convocamos nova assembleia para amanhã (terça-feira) às 14h, aqui em Rocha Miranda caso isso ocorra", explicou o presidente do Sintraturb/RJ.
Durante audiência, no Ministério Público do Trabalho (MPT), de acordo com Silva, a proposta inicial feita pelos empresários foi a de suspender a paralisação por setenta dias. No entanto, o MPT considerou o prazo longo demais e sugeriu que a categoria aguardasse até a próxima segunda-feira.
Ainda conforme o sindicalista, os trabalhadores estão há mais de três anos sem reajustes de salário, tickets ou cesta básica.
"Em todos esses anos como sindicalista jamais presenciei um quadro tão tenebroso no transporte público como agora", lamentou Silva.
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