Greve dos rodoviários afeta vida dos cariocasMarcos Porto / Agência O Dia

Rio - A manhã está sendo de caos para os cariocas. Os rodoviários decidiram entrar em greve à 0h desta terça-feira. O movimento paralisou a circulação nos corredores do BRT, mas os ônibus regulares circulam com cerca de 60% da frota na cidade. A categoria pede melhorias salariais e das condições de trabalho. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 1ª Região, porém, concedeu liminar declarando a paralisação dos rodoviários ilegal e marcou audiência de conciliação para segunda-feira, dia 4 de abril.
A desembargadora Edith Maria Correa Tourinho, que é presidente do TRT, concedeu uma liminar ao RioÔnibus determinando que o sindicato dos rodoviários não entrem em greve e siga suas atividades normalmente sob pena de multa diária no valor de R$ 200 mil.
A secretária municipal de Transportes, Maína Celidonio, afirmou que após a decretação do fim da greve, 1.700 ônibus circulavam por volta de meio-dia. A prefeitura espera que a volta para a casa, a partir do fim da tarde desta terça-feira, seja menos caótica e que as linhas comuns sejam regularizadas. A secretária apela para que os motoristas, principalmente do BRT, voltem ao trabalho. "Os motoristas do BRT receberam rescisões recentes de em média R$ 50 mil. Nos causa muito espanto que esta categoria tenha tido a maior adesão à paralisação", afirmou.
O Centro de Operações Rio (COR) informou que o município entrou em estágio de mobilização à 0h, desta terça-feira, por causa do anúncio de greve dos rodoviários e da possibilidade de chuva. Segundo o Alerta Rio, núcleos de chuva atuam em diversos pontos da Zona Oeste, e causaram chuva fraca a moderada na última hora.
Atualmente, quase 19 mil rodoviários no município do Rio transportam diariamente três milhões de pessoas.
O presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio (Sintraturb/RJ), Sebastião José da Silva, afirmou que de acordo com relatos dos profissionais da categoria que estão nas garagens, as empresas estão ligando e indo buscar em casa os motoristas.
Segundo ele, alguns motoristas estão sofrendo ameaças para saírem com os ônibus das garagens sob pena de sofrerem sansões e até demissão.
"As empresas estão usando a liminar como forma de impor o retorno dos profissionais, porém o sindicato ainda não foi comunicado oficialmente da liminar. Assim que isso ocorrer, iremos convocar uma assembleia para comunicar a categoria a decisão judicial. Isso já era esperado por parte das empresas, que trata a categoria como gado e sem nenhuma sensibilidade em relação as necessidades da categoria. O BRT está praticamente 100% parado, já nos demais consórcios os profissionais estão sendo obrigados a circular", disse Sebastião José.
Orientação à população
A prefeitura orientou que a população utilize o metrô, barcas, trens e VLT; e viaje fora dos horários de pico ou trabalhe de casa. O município anunciou um reforço na operação dos modais:

VLT: extensão do horário de pico de acordo com a demanda, garantindo 7 minutos de intervalo nas 3 linhas;
Metrô: oferta extra nos horários de entrepico conforme necessidade, podendo também estender os horários de pico nos trens e Metrô na Superfície;
SuperVia: oferta de trens reservas posicionados no Ramal Santa Cruz e Gramacho. Caso a demanda de passageiros tenha acréscimo, os mesmos serão adicionados à operação, podendo antecipar a operação do pico da tarde;
Barcas: uso de embarcações maiores na ligação Cocotá-Praça 15. Os horários das linhas, exceto Cocotá e Paquetá, foram retomados de acordo com os intervalos pré-pandemia; Intermunicipais: reforço de linhas que passam no município.
As vans e os "cabritinhos", que são veículos que circulam em comunidades, estão autorizados a desviar o itinerário para atender estações de trem, metrô e BRT nas áreas de planejamento das respectivas linhas e uso das faixas de BRS.

Haverá fiscalização de cobrança de tarifas abusivas nas vans pela Seop, nos táxis, por meio do aplicativo Taxi.Rio e em ônibus executivos, em caso de denúncias feitas pela SMTR.

A CET-Rio monitora pontos críticos quanto a eventuais impactos na circulação para ações de operação de tráfego com objetivo otimizar a fluidez do trânsito principalmente nos arredores dos terminais Alvorada, Recreio, Fundão, Jardim Oceânico, Central do Brasil e Mato Alto.
No Twitter, a Polícia Militar informou que os agentes estão posicionados em algumas garagens, "para garantir a segurança de toda a população, que encontra problemas diante da paralisação de parte do transporte rodoviário na cidade".
Na Zona Oeste, há registros de equipes da PM posicionadas na Viação Expresso Recreio, na Rodoviária de Campo Grande, e em frente à garagem da Viação Pégaso, localizada na Avenida Cesário de Melo, no Cosmos.
Na Região Central do Rio, há policiais posicionados em frente à garagem de ônibus da Viação Cidade do Aço, em Santo Cristo.
Motivos da paralisação
O martelo foi batido, na noite desta segunda-feira, durante assembleia da categoria na sede social do sindicato, em Rocha Miranda, na Zona Norte. De acordo com o Sintraturb/RJ, cerca de 450 motoristas e cobradores decidiram pela greve.
"Como já era esperado, os empresários não ofereceram nenhuma proposta para reajustar os salários e demais benefícios. Ficaremos em estado de greve (apenas o sindicato) caso alguma proposta seja apresentada; para isso convocamos nova assembleia para amanhã (terça-feira) às 14h, aqui em Rocha Miranda caso isso ocorra", explicou o presidente do Sintraturb/RJ.
Durante audiência, no Ministério Público do Trabalho (MPT), de acordo com Silva, a proposta inicial feita pelos empresários foi a de suspender a paralisação por setenta dias. No entanto, o MPT considerou o prazo longo demais e sugeriu que a categoria aguardasse até a próxima segunda-feira.
Ainda conforme o sindicalista, os trabalhadores estão há mais de três anos sem reajustes de salário, tickets ou cesta básica.
"Em todos esses anos como sindicalista jamais presenciei um quadro tão tenebroso no transporte público como agora", lamentou Silva.
Por meio de nota, o Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus da Cidade do Rio, informou que repudia o movimento grevista. O sindicato disse ainda que pede que os profissionais não façam adesão à paralisação e retomem seus postos de trabalho. Veja a nota na íntegra:

"O Rio Ônibus repudia o movimento grevista, que prejudicará toda a sociedade carioca. A ação, que tentou ser impedida pelo Rio Ônibus por liminar judicial, não resolve o problema da classe, e agrava a atual crise de mobilidade na cidade do Rio. Mesmo em meio às dificuldades financeiras já conhecidas pela população, as empresas têm priorizado o pagamento dos rodoviários e a manutenção de seus empregos. O reajuste de salários depende de ações externas, já que três dos quatro consórcios se encontram em Recuperação Judicial. O Rio Ônibus pede que os profissionais não façam adesão à paralisação e retomem seus postos de trabalho, atendendo a população, até que haja resultados dos diálogos mantidos com a Prefeitura, na busca por soluções para o setor".
Greve no Carnaval
No dia 25 de fevereiro, funcionários do BRT fizeram uma greve. Na época, eles fizeram uma manifestação em frente a Garagem G2 do BRT em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, para pedir melhores condições de trabalho, segurança e um reajuste nos salários.
Briga na Justiça
No dia 17 de fevereiro, a Prefeitura do Rio decretou a caducidade do contrato de concessão do BRT, encerrando o acordo e dando à Mobi-Rio a administração do sistema. No entanto, neste sábado, a juíza Georgia Vasconcellos da Cruz, da 6ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), concedeu uma liminar que suspende os efeitos dos decretos que extinguiram os contratos de operação do BRT pelos consórcios Internorte e Transcarioca. Na prática, a decisão anula os decretos que passaram a gestão do BRT para a Prefeitura.