Deputado estadual Rodrigo Amorim durante sessão na Alerj, na terça-feira (17)Divulgação/TV Alerj
Publicado 18/05/2022 17:02 | Atualizado 18/05/2022 20:37
Rio - A vereadora Benny Briolly (PSOL) foi vítima de ofensas transfóbicas pelo deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB), em sessão ordinária no plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), na terça-feira (17). Veja o vídeo abaixo. O político bolsonarista, que causou revolta ao quebrar uma placa que homenageava a vereadora Marielle Franco durante uma manifestação a favor do então candidato à presidência Jair Bolsonaro, também fez ataques contra a deputada estadual do PSOL, Renata Souza. Durante a sessão, Rodrigo indagou Renata sobre quanto ela teria lucrado ao repassar informações sobre a vida da vereadora assassinada em 2018.
As ofensas foram gravadas durante a sessão. Nas imagens, é possível ver o momento em que o deputado bolsonarista chama a vereadora Benny Briolly de "belzebú", "aberração" e se dirige a ela no masculino, dizendo: "Talvez não enxergue sua própria bancada que tem lá em Niterói um 'boizebu' que é uma aberração da natureza aquele ser que tá ali". Em um segundo momento, Rodrigo afirma: "Ela faz referência a um vereador homem pois nasceu com pênis e testículos, portanto é homem…O vereador homem de Niterói parece um Belzebu porque é uma aberração da Natureza".
Veja o vídeo:

Segundo a assessoria da vereadora de Niterói, embora Benny já tenha sofrido ataques na Câmara de Niterói, a fala de Rodrigo Amorim espantou sua equipe por ser inédito no grau de ódio nas ofensas proferidas. "Aconteceu de forma aberta em uma sessão ordinária dentro da terceira maior casa legislativa do país, representando cerca de 17 milhões de pessoas".
A vereadora atacada afirmou que não será intimidada com as ofensas e que tomará todas as medidas cabíveis. "Se esses covardes acham que vão me silenciar eles estão muito enganados, eles acham que estão protegidos pela imunidade parlamentar para saírem cometendo atos criminosos eles que aguardem, pois racismo e lgbtfobia é crime. Amorim é conhecido por quebrar a placa de Marielle Franco e por tentar conceder anistia a ex-PMs agentes envolvidos com milícias. Será mesmo que nós somos os bandidos ou são eles e os amigos do presidente? Não me intimidarão e não serei interrompida, se preparem para ver travesti deputada na Alerj", disse.
A assessoria da vereadora oficiou a Executiva estadual do PSOL para que tome medidas na comissão de ética da Alerj e está avaliando todas as medidas judiciais e institucionais cabíveis.
A parlamentar é a primeira travesti eleita no estado do Rio de Janeiro e é considerada a mulher mais votada de Niterói. Atualmente ela acumula mais de 20 ameaças de morte e já foi vítima de ataques racistas, transfóbicos e religioso na Câmara Municipal de Niterói.
Em maio de 2021, a vereadora saiu do país por conta das ameaças. Pouco menos de uma semana depois da sua mudança, o Ministério Público Eleitoral (MPE) determinou que a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro adotassem medidas urgentes à proteção da vereadora. A decisão foi do vice-procurador-geral Eleitoral, Renato Brill de Góes, que afirmou que MPE não tem atribuição para atuar no caso, por não se tratar de infração penal eleitoral, e que a competência seria da Justiça Estadual.
Deputada Renata Souza (PSOL) rebate ataques de bolsonarista
Através das suas redes sociais, a deputada Renata Souza publicou o trecho em que é atacada pelo parlamentar e se defendeu em seguida. "Dentre as diversas ofensas proferidas contra mim e outras mulheres pretas durante a sessão plenária de hoje, as acusações infundadas que têm como objetivo manchar a memória de Marielle Franco são as que mais doem em mim. Entrei na política com a Mari, no chão da Maré, a gente fazia política na laje, na laje da casa da minha mãe, e chego na Alerj também ao lado de Marielle para atuar na defesa dos direitos humanos, das mulheres, dos pretos e pretas e da população pobre e de favela. E assim será", disse.
Ela também expôs o vídeo do momento em que sofre as acusações na sessão de terça-feira (17). Veja o vídeo:
Deputado bolsonarista reage nas redes sociais após repercussão
Nesta quarta-feira, após a repercussão do ocorrido durante a sessão na Alerj, o deputado Rodrigo Amorim se manifestou em suas redes sociais. "A tal deputada que vive de inventar palavras novas e tentar mudar as regras gramaticais - é um tal de "mandata" pra lá, "presidenta" pra cá, "todes" em vez de todas ou todos, uma eterna lacração - mais uma vez nos negou resposta a uma pergunta tão simples: QUANTO LUCROU com a morte da vereadora Marielle Franco???", escreveu ele.
Na terça-feira (17), durante a reunião da CPI da Dívida Pública, o parlamentar foi eleito relator por unanimidade dos membros da comissão. "Nosso trabalho será revisitar os fundamentos da dívida do Estado do Rio de Janeiro, além de nos aprofundarmos nos efeitos e consequências da transferência da capital do RJ para Brasília", disse.
Procurado pelo DIA para falar sobre as ofensas transfóbicas contra a vereadora Benny Briolly, o parlamentar disse que não cometeu transfobia, que teria apenas criticado situações envolvendo a política. "Não cometi transfobia de forma alguma, apenas critiquei as aberrações que o politicamente correto e a esquerda fazem com a língua portuguesa. E critiquei também a mania de criar gêneros - biologicamente só existem dois. Não há necessidade de se criar cada vez mais termos para aumentar a sigla LGBT, e esses grupos identitários só fazem isso para confundir e promover mais perseguição ideológica a quem discorda deles. Comigo não há como isso acontecer. Vivemos em um país livre, e se os grupos identitários precisam da censura e da opressão para defenderem suas causas, é mais um sinal de que elas estão equivocadas."
A Alerj disse que não vai se manifestar.
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