Com racismo religioso, vereadores bolsonaristas atacam Benny Briolly na Câmara Municipal de Niterói Divulgação

Rio - A vereadora Benny Briolly foi vítima de racismo religioso na Câmara Municipal de Niterói, nesta quinta-feira, durante a votação do projeto de lei que busca instituir o dia 12 de novembro como dia de Maria Mulambo. A sessão teve de ser interrompida por conta de gritos e xingamentos proferidos por algumas das pessoas presentes na Casa. A transmissão online foi derrubada e somente quem estava presente assistiu a confusão.
De acordo com a vereadora, os pais de santo que acompanhavam a sessão foram intimidados por bolsonaristas que acompanhavam a sessão. "A branquitude busca silenciar nossas divindades africanas e esse Projeto de lei é justamente para transformar essa perspectiva racista religiosa. Mas a Câmara escolheu intensificar o racismo religioso na cidade. Todo povo de axé foi agredido de alguma forma", relatou Benny Briolly.
A parlamentar é a primeira travesti eleita no estado do Rio de Janeiro e considerada a mulher mais votada do município. Procurada pela reportagem, a Câmara Municipal de Niterói não havia se pronunciado sobre o episódio até a publicação desta matéria.
Veja o vídeo:
Para mobilizar a aprovação do projeto de lei, a vereadora convidou personalidades de axé para participar da votação. Dentre elas, duas mulheres trans que foram impedidas de entrar na Câmara por conta de suas roupas. No entanto, de acordo com a assessoria da vereadora, a vestimenta era adequada às normas da Câmara. Benny também relatou que essas mesmas mulheres foram xingadas de "demônio" por uma senhora que acompanhava a sessão.

Benny Briolly teve a fala interrompida por gritos como "demônio", "capeta", "tá repreendido", "só Jesus Cristo é o senhor". Além disso, Benny denuncia que também foi vítima de falas transfóbicas e racistas feitas pelos próprios vereadores.

"Até mesmo os assessores da vereadora foram impedidos de entrar na sessão. Inclusive o povo de santo também foi criticado por usar as vestes tradicionais da religião. Assim como as travestis e a vereadora foram chamadas por pronomes masculinos por bolsonaristas que estavam na casa legislativa", afirmou a assessoria da vereadora de Niterói. 
Procurada, a Câmara dos Vereadores de Niterói ainda não se pronunciaram sobre o ocorrido.
Ameaças de morte
A vereadora de Niterói voltou a ser alvo de ameaças de morte na quarta-feira (9). Ela usou as redes sociais para denunciar que esta é a sexta vez em que se torna vítima deste tipo de crime, somente em 2022. Segundo a publicação, um dossiê enviado à Polícia Civil reúne mais de 20 em menos de um ano.

Em imagens compartilhadas por Briolly, é possível ver os e-mails com as ameaças. Um deles se refere à vereadora como "macaco" e diz ter contatos na região de Niterói para conseguir um canhão e explodir sua casa enquanto ela estiver dormindo. "Durma de olhos abertos", alerta o texto. Outra diz que se Benny não renunciar ao seu mandato, irá explodir seu gabinete. "Sou pedófilo e terrorista assumido e irei explodir seu gabinete com você dentro se você não renunciar. Você tem 90 dias para renunciar, senão já sabe o que vai acontecer!", intimidou outro.
Há ainda um e-mail que diz que irá "dar o tiro de misericórdia" na testa da parlamentar. "É isso mesmo que você leu! Sou um completo fantasma e tenho certeza da impunidade. Já tenho tudo preparado para fugir do país. Este e-mail também nem você nem os porcos vagabundos da (Polícia) Civil de Niterói vão conseguir rastrear. A Polícia Federal também, já que eles não possuem jurisdição na Alemanha. Por que acha que ninguém achou o responsável por matar Marielle Franco? Aguarde a visitinha da minha Glock G25 calibre 380. TIC TAC."