Parlamentar Benny BriollyDivulgação

Rio - A vereadora de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, Benny Briolly (Psol), voltou a ser alvo de ameaças de morte. A parlamentar é a primeira travesti eleita no estado do Rio de Janeiro e considerada a mulher mais votada do município. Nesta quarta-feira (9), ela usou as redes sociais para denunciar que esta é a sexta vez em que se torna vítima deste tipo de crime, somente em 2022. Segundo a publicação, um dossiê enviado à Polícia Civil reúne mais de 20 em menos de um ano.

Em imagens compartilhadas por Briolly, é possível ver os e-mails com as ameaças. Um deles se refere à vereadora como "macaco" e diz ter contatos na região de Niterói para conseguir um canhão e explodir sua casa enquanto ela estiver dormindo. "Durma de olhos abertos", alerta o texto. Outra diz que se Benny não renunciar ao seu mandato, irá explodir seu gabinete. "Sou pedófilo e terrorista assumido e irei explodir seu gabinete com você dentro se você não renunciar. Você tem 90 dias para renunciar, senão já sabe o que vai acontecer!", intimidou outro. 
Há ainda um e-mail que diz que irá "dar o tiro de misericórdia" na testa da parlamentar. "É isso mesmo que você leu! Sou um completo fantasma e tenho certeza da impunidade. Já tenho tudo preparado para fugir do país. Este e-mail também nem você nem os porcos vagabundos da (Polícia) Civil de Niterói vão conseguir rastrear. A Polícia Federal também, já que eles não possuem jurisdição na Alemanha. Por que acha que ninguém achou o responsável por matar Marielle Franco? Aguarde a visitinha da minha Glock G25 calibre 380. TIC TAC."
Vereadora compartilhou e-mails com ameaças em suas redes sociais - Reprodução/Redes Sociais
Vereadora compartilhou e-mails com ameaças em suas redes sociaisReprodução/Redes Sociais

Apesar das constantes intimidações, a vereadora afirmou que não vai desistir de seu mandato. "Não voto contra meu povo, não me conformo com a sujeira da velha política e nado contra corrente da corrupção e injustiças. Sou a primeira travesti eleita no Rio de Janeiro, a mulher mais votada de Niterói. E não 'será' ameaças de morte vinda daqueles que temem o poder de transformação que meu corpo carrega. Não aceito ser intimidada e nem renunciarei do cargo a qual fui eleita democraticamente pelo povo. O racismo e transfobia que sofro me trazem mais sede de justiça e força pra continuar lutando", escreveu a vereadora.

A parlamentar iria hoje à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) para registrar as novas ameaças junto ao Instituto de Defesa a População Negra (IDPN). Entretanto, segundo o relato de Benny, o Programa de Proteção que a acompanha avaliou que não seria seguro.

"A minha mobilidade está limitada pela falta de segurança e respostas do Estado. Sigo aguardando medidas protetivas eficazes. Estou firme na luta! A discriminação não irá me fazer retroceder pois sei que não ando só!", desabafou Briolly. "Os ataques, ameaças e ofensas NÃO DIMINUEM a minha sede de TRANSformar a política brasileira. Eu sou uma travesti preta e favelada. (...) Minha eleição é símbolo de reparação e justiça e só estou aqui pela luta travada pelos meus ancestrais desde África", declarou ela em outro trecho.
Desde que foi eleita, a vereadora começou a receber uma série de intimidações para renunciar ao cargo. No dia 25 de janeiro deste ano, mês da Visibilidade Trans, um ato nacional que luta contra a transfobia e pelos direitos das pessoas trans, Briolly divulgou ter sido vítima de outra ameaça de morte. Também em dezembro do ano passado, Benny recebeu um e-mail em que sua integridade física foi ameaçada. "Já estou contando as balas", dizia. Na ocasião, a parlamentar registrou a ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), no Centro do Rio. 
Em maio de 2021, a vereadora saiu do país por conta das ameaças. Pouco menos de uma semana depois da sua mudança, o Ministério Público Eleitoral determinou que a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro adotassem medidas urgentes à proteção da vereadora. A decisão foi do vice-procurador-geral Eleitoral, Renato Brill de Góes, que afirmou que MPE não tem atribuição para atuar no caso, por não se tratar de infração penal eleitoral, e que a competência seria da Justiça Estadual.