O médico cirurgião Bolivar Guerrero foi preso na última segunda-feira (18) acusado de manter Daiana em cárcere privado no Hospital Santa BrancaReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Publicado 21/07/2022 10:51
Rio- A paciente Daiana Chaves Cavalcanti, de 36 anos, que foi mantida em cárcere privado pelo cirurgião Bolivar Guerrerro, 63, foi transferida do Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, para o Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio, na manhã desta quinta-feira (21). O estado de saúde dela ainda é grave.

A informação foi confirmada pelo advogado da vítima Ornélio Mota. Daiana realizou uma abdominoplastia no início de março e precisou voltar em junho para se submeter a mais três intervenções. No retorno, contudo, o procedimento apresentou problemas e ela teve complicações com um dos pontos da barriga necrosado. Ela aguardava transferência há cerca de um mês. O cirurgião foi preso na última segunda-feira (18).
A justiça do Rio já havia emitido duas liminares que determinavam a transferência sob multa de R$ 2 mil em caso de descumprimento, em que uma foi emitida na esfera cível, do dia 14 de julho, e a outra saiu na última segunda-feira (18), em esfera criminal, mas o hospital não estava cumprindo as decisões.
Daiana realizou uma cirurgia que apresentou problemas e ela teve complicações com um dos pontos da barriga necrosado - Reprodução/TV Globo
Daiana realizou uma cirurgia que apresentou problemas e ela teve complicações com um dos pontos da barriga necrosadoReprodução/TV Globo
 
A Polícia Civil, informou ainda nesta quarta-feira (20) que a vítima estava apodrecendo na unidade. "Há indícios claros de que a vítima está apodrecendo naquele hospital, vide as imagens em anexo, podendo já estar inclusive com infecção generalizada e à beira da morte, mas sendo mantida lá para ocultar a atividade criminosa do médico", disse o órgão em documento enviado à Justiça.

Ainda segundo o inquérito, Bolívar fez chantagem com Daiana para que ela não saísse do hospital. "Bolívar impede que a vítima seja transferida para qualquer outro hospital, possivelmente para tentar se safar da Justiça, corroborando haver cárcere privado da vítima, que vem sendo mantida isolada seja por chantagem do médico, que diz não usará mais a máquina de vácuo para drenagem da secreção expelida pelo corpo da vítima, talvez o que ainda a esteja mantendo viva", diz outro trecho do documento.

Ainda nesta quarta (20), o Tribunal de Justiça do Rio também decretou o bloqueio de R$ 198 mil dos bens do médico Bolivar Guerrero Silva e do Hospital Santa Branca. Segundo a decisão, o valor seria usado para pagar a transferência da paciente Daiana Cavalcante para um outro hospital particular. No entanto, o Hospital Federal de Bonsucesso liberou uma vaga para receber a vítima.
Em nota, o Hospital Santa Branca informou que a paciente foi devidamente transferida conforme a sua solicitação bem como posterior determinação judicial.

"Ressaltamos que jamais houve qualquer tentativa de mantê-la em nosso estabelecimento contra a sua vontade, bem como restringir a sua liberdade. Tais imputações são inverídicas, não correspondem a realidade. A todo momento a paciente teve prestado pelo hospital todos os cuidados devidos, bem como a presença de acompanhante e visitação diariamente, o que é facilmente provado através dos nossos registros de visita e acompanhantes e imagens das câmeras", disse.
Outras vítimas
Outras nove vítimas compareceram a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), em Caxias, desde a prisão do médico, que ocorreu na última segunda-feira (18). Elas alegam terem sofrido lesões graves após as cirurgias realizadas pelo médico.
As mulheres contam que perderam autoestima e tiveram que lidam com as consequências dos resultados negativos até hoje. Há queixas de cirurgias realizadas entre 2013 a 2022.
Uma delas foi a paciente Vanessa Miranda, 41 anos, operada pelo médico em 2013. Ela alega que sofreu fortes dores após a operação e que Bolivar agiu de forma grosseira.

“O meu trato com ele foi mastectomia total mas não foi feito e eu saí da cirurgia com queimação e muitas dores, não conseguia ficar deitada e nem em pé. Eu voltei nele e falei que tinha algo de errado porque os pontos estavam inflamados, mas ele foi muito grosso e rude comigo, falou que era coisa da minha cabeça, teve um dos pontos que ele arrancou bruscamente, ficou um buraco e infeccionou”, contou.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj) abriu sindicância para apurar os fatos. Mas todos os procedimentos correm em sigilo.
Defesa

O médico ainda nega todas as acusações. Segundo a equipe de Bolivar, a paciente se negou a assinar um termo que a responsabiliza pela alta e que por isso não foi liberada.

”Ele não estava mantendo paciente nenhuma em cárcere privado, ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele, porém ela queria ser liberada sem ter terminado o tratamento e ele como médico seria imprudente de libero-la. Ele disse que poderio liberá-la se ela assinasse a alta à revelia (documento ao qual a paciente se responsabiliza por qualquer coisa que acontecer após sua liberação) e ela não quis assinar, ele disse que liberaria somente se ela o assinasse, como ela não assinou ele não liberou, pois o intuito dele é prestar toda assistência a paciente ate ela está recuperada”, informou.

A equipe reforçou ainda que a alta não poderia ser realizada porque a paciente estava com um curativo especial para acelerar a cicatrização, que só pode ser manipulado por pessoas capacitadas como técnicos em enfermagem ou enfermeiros.

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