Vítima do cirurgião plástico, na DEAM de Duque de Caxias, denuncia erro médico em procedimento cirúrgico. Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio- A paciente Daiana Chaves Cavalcanti, 36 anos, mantida em cárcere privado pelo cirurgião Bolivar Guerrerro, 63, que foi preso na última segunda-feira (18), continua em estado grave e não foi transferida para outra unidade de saúde até a manhã desta quarta-feira (20). O Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, onde a vítima está internada, ainda não cumpriu as duas liminares da justiça que determinam a transferência sob pena de multa de R$ 2 mil em caso de descumprimento.
De acordo com advogado Ornélio Mota, a primeira liminar foi emitida na esfera cível, do dia 14 de julho. Enquanto a outra saiu na última segunda-feira (18), em esfera criminal. Mas ainda assim, Daiana continua no hospital. Com medo, ela enviou áudios para o advogado, chorando, pedindo por socorro.
“Eu to muito mal no hospital e o médico não tá nem aí pra mim, só quero sair daqui, eu não aguento mais! Esse homem [Bolivar Guerrero] vai me matar, eu ja fui pra cirurgia três vezes, tenta me tirar daqui por favor, depois eu pago vc, mas me tira daqui, eu não aguento mais!”, disse.

Ornélio contou ainda que Daiana também ligou para ele na manhã desta quarta-feira (30) informando que queriam a encaminhar novamente para o centro cirúrgico para a troca de um curativo a vácuo.

Esse método a vácuo de curativo é um sistema utilizado na cicatrização de feridas em que se institui uma pressão negativa localizada e controlada, com o objetivo de estimular a granulação e a cicatrização. Daiana teve complicações com um dos pontos da barriga necrosado após uma cirurgia de abdominoplastia realizada no início de março.

O advogado também relatou que a paciente sofreu ameaças durante o período de internação. “Ela sofreu ameaças de todos os lados, principalmente psicológicas. Agora o pai dela está com ela, mas o estado dela é grave. Um médico enviado pela gente deixou claro que ela precisa ser transferida, porque ali não comporta o estado de saúde dela. Ela precisa de um hospital com suporte e CTI adequado”, comentou.

Prisão

O cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, foi preso na última segunda-feira (18). A denúncia aponta que a paciente era mantida em cárcere privado na unidade de saúde por cerca de dois meses após um procedimento estético na barriga dela ter dado errado. A família foi quem procurou a delegacia para falar sobre a situação da mulher.

Os familiares acusam o médico, que administra a clínica de cirurgia plástica, de impedir a mulher de ser transferida da unidade particular para outro hospital.

Nesta terça-feira (19), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) manteve a prisão temporária do cirurgião durante a audiência de custódia.

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar os fatos. Mas todos os procedimentos correm em sigilo.
Até esta terça-feira (19), outras cinco vítimas compareceram a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), em Caxias, para depor contra o médico. Elas o denunciam por lesão grave. Procurada, a Polícia Civil ainda não informou os novos desdobramentos do caso.
Defesa

O médico ainda nega todas as acusações. Segundo a equipe de Bolivar, a paciente se negou a assinar um termo que a responsabiliza pela alta e que por isso não foi liberada.

”Ele não estava mantendo paciente nenhuma em cárcere privado, ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele, porém ela queria ser liberada sem ter terminado o tratamento e ele como médico seria imprudente de libero-la. Ele disse que poderio liberá-la se ela assinasse a alta à revelia (documento ao qual a paciente se responsabiliza por qualquer coisa que acontecer após sua liberação) e ela não quis assinar, ele disse que liberaria somente se ela o assinasse, como ela não assinou ele não liberou, pois o intuito dele é prestar toda assistência a paciente ate ela está recuperada”, informou.

A equipe reforçou ainda que a alta não poderia ser realizada porque a paciente estava com um curativo especial para acelerar a cicatrização, que só pode ser manipulado por pessoas capacitadas como técnicos em enfermagem ou enfermeiros.

O Hospital Santa Branca também alegou que as acusações de cárcere privado nas dependências da unidade são infundadas e explicou que o médico Bolivar Guerrero não pertence ao quadro societário da empresa. Além disso, deu detalhes sobre a internação da paciente.

"Data da internação da paciente 01/06/2022. Acomodação: apartamento privativo com direito a acompanhante. Paciente recusa-se a sair da unidade, (transferida). Todo custo da paciente é mantido pelo cirurgião, inclusive com atendimentos externos". finalizaram