Caso do influencer digital Bruno Krupp que atropelou e matou adolescente na Barra Chegada de policiais da DEAM, Delegacia de Atendimento a Mulher Sandro Vox / Agência O Dia
Publicado 04/08/2022 11:13
Rio- Mais de 30 mulheres relataram nesta terça-feira (3) terem sofrido supostos estupros cometidos pelo influenciador Bruno Krupp, 25 anos, que está preso sob custódia no Hospital Marcos Moraes, no Méier, na Zona Norte, acusado de atropelar e matar o adolescente de 16 anos, João Gabriel Cardim, na Barra da Tijuca, no último dia 30. A defesa de Bruno nega todas as acusações.
Os casos vieram à tona após a modelo Priscila Trindade publicar no Instagram um relato sobre o abuso sofrido há cerca de seis anos. Ela contou que na época eles estavam ficando, mas que Bruno forçou o ato e ainda tentou filmá-la.
"Ele chegou bêbado às 6h da manhã e me pegou à força. Falei várias vezes para ele parar e ele literalmente me forçou. Forçou mesmo! Depois de muito relutar, cedi e foi horrível. Era muito constrangedor porque, se eu gritasse, iria acordar a casa inteira e não tive coragem de ter uma atitude mais drástica. Fiquei chateada, mas ele falava tanta coisa idiota que eu só pensava em ir embora", contou.
Depois de relatar o caso, Priscila incentivou outras possíveis vítimas a contarem os momentos de violência sexual que teriam sofrido e, em seguida, compartilhou em seu perfil 36 relatos que acusam o influenciador de cometer supostos estupros.

Em sua maioria, os relatos iniciam com as vítimas contando que flertavam com o modelo, mas que Bruno era agressivo e as forçaram a finalizar o ato sexual. Segundo as narrativas, elas não o denunciaram formalmente na Polícia Civil por medo.


“Ele me forçou a transar com ele uma vez que eu não sabia o que fazer. Ele me trancou em um quarto, a empregada teve que bater na porta pra ele abrir. Depois, sempre que me encontrava ficava falando que nada aconteceu. Ele ainda roubou um brinco meu, escondeu meu celular pra eu não chamar Uber e meter o pé. Disse que só me devolvia depois que eu transasse com ele”, relatou uma mulher.

Uma outra vítima disse que decidiu não contar para ninguém por medo de julgamento na sociedade. “O cenário foi basicamente o mesmo, não contei pra ninguém na época porque eu certamente seria julgada por ter me submetido a ficar com ele, mas a real é que nem eu sabia que ele era dessa índole”

Já uma outra mulher escreveu que se sente culpada por não ter formalizado a denúncia. “Tô me sentindo tão culpada lendo tudo isso, infelizmente passei pela mesma situação, só que 10 anos atrás, em 2012. Uma jovem de 14 anos que nem soube como reagir a esse fato. Como eu queria ter tido forças para denunciar na época, me sinto um pouco culpada por saber que ele continuou todos esses anos criando novas vítimas. Sinta-se abraçada, você não está sozinha”, disse a vítima para a modelo Priscila Trindade.

Ainda segundo as novas denúncias, Bruno também costumava filmar as mulheres nuas durante o os supostos abusos. "Ele tentou me filmar escondido. Estou surpresa porque até então era um flash que eu tinha na cabeça um amigo dele que tentar filmar. Ele falou que eu estava doida, que não tinha acontecido, mas eu tinha certeza. Até o amigo me mostrou a galeria dele de fotos, mas isso também não quer dizer nada. Depois disso nunca mais tive contato com ele”, disse.
Uma outra mulher comentou ainda sobre a persistência de Bruno em forçar o ato sexual. "Ele me chamou para uma resenha na casa de um amigo dele e eu fui com umas amigas. Chegamos lá, bebemos, elas foram embora. Eu resolvi ficar. E essa foi a deixa pra ele me levar para um quarto e começar a forçar uma barra absurda. Falei que não queria, inventei desculpas (disse que estava menstruada e ele justificou falando que não ligava). Quando a coisa foi ficando mais insistente, corri pro banheiro, onde ele ficou batendo e chutando a porta. Infelizmente, depois de me sentir muito pressionada e constrangida acabei cedendo", lamentou.

Apenas uma das mulheres informou que o denunciou em julho do ano passado na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), de Jacarepaguá. Apesar disso, ela relatou não poder contar detalhes da sua história para não prejudicar o seu processo na Justiça contra o modelo.



Defesa

A defesa de Bruno Krupp nega todas as acusações. De acordo com o advogado Willian Pena, as denúncias não formalizadas na delegacia tratam-se de pessoas querendo se beneficiar da situação.

“Não falo sobre denuncias feitas no Instagram, isso é até crime. Denunciar sem respaldo do Ministério Público e registro na delegacia é crime. Essas pessoas estão se beneficiando das dores da família. Por que não foi na delegacia durante todos esses anos? Pra mim as essas pessoas estão sendo levianas, eu não tenho conhecimento sobre esses casos e nem o Bruno”, relatou o advogado em entrevista ao O DIA.

Sobre o atropelamento, Bruno publicou um vídeo nas redes sociais se defendendo e tratando o caso apenas como um incidente. "Pelo amor de Deus, eu sou a última pessoa que queria que isso tivesse acontecido, pode ter certeza que eu queria que o pior tivesse comigo. Eu estava morrendo no hospital, os empregados me tratando mal no hospital, me batendo com maca comigo no corredor, me chamando de assassino como se eu tivesse alguma coisa errada, eu não bebi, eu não usei droga. Eu não fiz nada, fui um incidente", disse.

Em relação ao estado de saúde do modelo, o advogado informou que a família tenta uma transferência de hospital devido a falta de especialização em ortopedia no Hospital Marcos Moraes, no Méier, na Zona Norte.

“Ele passou por cirurgia ontem (quarta), mas o hospital não tem condições de tratar a coluna dele, a família quer uma transferência para um hospital especificado em ortopedia. Ele perdeu parte das nádegas, coxa, o joelho tá aberto em carne viva, lá não tem ortopedista com experiência, lá não tem tomografia, a família está lutando e tentando transferência, mas no geral a situação é estável”

Procurada, a unidade informou que a família não autoriza a divulgação do estado de saúde do paciente.

O atropelamento
O modelo dirigia uma motocicleta sem placa quando atropelou a vítima - o impacto foi tão grande que o jovem teve a perna amputada. De acordo com a polícia, ele não possui carteira de habilitação (CNH).
Um vídeo da câmera de segurança do local do acidente mostrou o momento em que Bruno Krupp passou em alta velocidade ao atropelar o adolescente. A moto estaria a uma velocidade de 150km/h, quando o permitido na via é 60km/h.
A juíza Maria Izabel Peranti decretou a prisão preventiva do influenciador nesta terça-feira (3). Ele deve responder pelo crime de homicídio doloso eventual no trânsito, quando assume o risco de matar. Na decisão, a magistrada explica que há indícios suficientes para submeter Bruno ao julgamento pelo Tribunal do Júri.
Em defesa, o advogado de Bruno alega que a motocicleta não estava sem placa, mas que ela caiu e foi encontrada por amigos. Além disso, ele conta também que o modelo perdeu o controle após o veículo perder o freio e que ele teria se assustado porque o adolescente ameaçou atravessar a rua e voltou. 
"Eu vou apresentar a placa na delegacia hoje a tarde (quarta), porque ontem (3) o delegado não pode me receber. A polícia não entrevistou ninguém, pediram a prisão do rapaz sem ouvir testemunhas e os donos de quiosque, porque as testemunhas viram que foi o rapaz que ameaçou atravessar a rua porque estava brigando com a mãe", comentou.
Ainda segundo o advogado, Bruno possuí carteira de habilitação, mas não estava com ela no momento do acidente. Em nota, o Detran negou a afirmação e explicou que o modelo está em processo de primeira habilitação, tendo concluido apenas a parte teórica.
"Ele ainda terá de cumprir a carga horária exigida de aulas práticas. Somente após a conclusão das aulas práticas, ele poderá realizar o exame de direção, necessário para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Portanto, ele não é habilitado", disse.
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