Familiares dos jovens desaparecidos no IML de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Na foto, Ronaldo Oliveira, pai de Jhonatan.Arquivo/ Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicado 19/09/2022 16:40
Rio - As famílias dos dois últimos jovens desaparecidos em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, temem que o caso caia no esquecimento e que a Polícia Civil não retome mais as buscas pelas vítimas. Douglas de Paula Pamplona, de 22 anos, e Jhonatan Alef Gomes, de 28, desapareceram no dia 12 de agosto, junto com outros dois amigos, que já tiveram os corpos encontrados no Rio Capenga e identificados. São eles: Matheus Costa da Silva, 24 anos, e Adriel Andrade Bastos, 24. No entanto, as buscas no rio terminaram antes que Jhonatan e Douglas também fossem localizados.
Para a mãe de Douglas, Elaine Paula, o sofrimento só aumenta a cada dia que passa. "A saudade é desesperadora. Meu filho esteve comigo um dia antes de desaparecer e eu pedia muito pra que ele dormisse em casa e agora eu me encontro nessa situação devastadora. Minha vida acabou, eu não tenho paz. Tento ser forte, mas eu não estou conseguindo ser forte. Cada dia que passa é pior, só quero achar o meu filho, seja da forma que for. A gente precisa de ajuda para que isso não caia no esquecimento. Se eu pudesse, eu mesma sairia para procurar ele", lamenta.
Elaine contou ao DIA que desde o ocorrido vive à base de remédios para dormir. Ela lembra que há pouco dias teve um sonho com o filho. "A gente sempre fala que se agarra em um fio de esperança, até porque meu filho não foi encontrado. Já me peguei diversas vezes debruçada sob a minha janela achando que meu filho iria chegar me gritando. Sonhei com ele essa semana, inclusive. Quando acordei, saí de casa do jeito que estava e fui para a rua, corri igual maluca. Cheguei na beira da pista e senti um vazio tão grande... eu morro por dentro todos os dias", desabafa.
A família de Douglas ainda não conseguiu contar para o filho de 3 anos do jovem que o pai está desaparecido e pode não voltar. O menino, que completa 4 anos no dia 5 de outubro, questiona a avó Elaine se o pai vai estar em sua festa de aniversário. "Eu não consigo responder, só digo que ele está trabalhando. Douglas sempre foi um pai muito amoroso e nunca deixou faltar nada para o filho dele. Ele trabalhava como barbeiro e estávamos tentando montar uma barbearia para ele dar uma vida melhor para meu neto. E agora? Como fica a cabeça dessa criança?", questiona Elaine.
Quem também continua sofrendo sem respostas sobre as investigações e buscas é o irmão de Jhonatan Alef, Adilson Gomes Francisco. A família do segundo e último desaparecido também não tem mais contato com a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), responsável pelas investigações, e não sabe se as buscas um dia vão ser retomadas. "Não temos nenhuma informação da polícia. Na semana retrasada nos ligaram para informar do exame de DNA que iriam fazer em alguns materiais que encontraram no rio, mas a respeito das buscas a gente não sabe ainda", diz.
Adilson se refere aos despojos encontrados no dia 25 de agosto e que foram submetidos a exame no Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense (IPPGF). Ainda não há previsão para o resultado da análise.
Assim como o irmão de Jhonatan, a mãe de Douglas também não recebe mais informações da Polícia Civil. "Eu não vejo mais buscas nenhuma, nenhum avanço. No início eles estavam se movimentando mais, acho que deveriam continuar as buscas. Na última vez que fomos na delegacia, nos informaram que a  localização de um dos celulares dos meninos estava indicando para Duque de Caxias", lembra.
Adilson confessa que ele e toda a sua família não têm mais esperanças de encontrar Jhonatan com vida. "Na verdade, não estamos nem tendo esperanças de encontrá-lo", lamenta o irmão. Assim como Douglas, Jhonatan também tem um filho pequeno, de cinco anos.
"Eu ainda falo bastante com o irmão do Jhonatan (Adilson), já que ele não tem uma mãe para dar apoio. Então tento dar esse suporte quando consigo", conta Elaine. 
O que diz a Polícia Civil
De acordo com a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), as investigações prosseguem e estão sob sigilo. Também reforçaram que os despojos encontrados seguem sendo analisados pelo IPPGF, sem data para o resultado. "O tempo para o resultado do exame de DNA está diretamente ligado a variáveis do cruzamento de materiais genéticos e à complexidade do estado dos cadáveres e despojos", disse a polícia.
Por meio de nota, a Civil também informou que diligências continuam para esclarecer todos os fatos. No entanto, questionada, a especializada não informou quando pretende retomar as buscas no Rio Capenga ou se pretende começar uma nova procura em outra região.
Uma das linhas de investigação é de que os jovens tenham se envolvido com o tráfico de drogas local, o que teria motivado a ação de milicianos que dominam a região. A versão é contestada pelas famílias, que negam o envolvimento dos jovens com o crime organizado.

Os jovens desapareceram a caminho de um shopping, em Nova Iguaçu, quando, segundo testemunhas, criminosos encapuzados e armados, usando dois veículos, interceptaram o carro de aplicativo que eles estavam e os sequestraram.
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