Esposa de Raphael, que está grávida de oito meses, foi até o hospital nesta quarta (21)Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Publicado 21/09/2022 12:23 | Atualizado 21/09/2022 18:38
Rio - Familiares e amigos de Raphael Montovaneli, de 40 anos, utilizaram as redes sociais para se despedir do homem que, de acordo com postagens, teve morte cerebral, na tarde desta terça-feira (20), após ser atingido por um tiro na cabeça disparado por um policial militar. No entanto, a informação não foi confirmada pelo Hospital Federal do Andaraí, que segue um protocolo de 72 horas para declarar o óbito. De acordo com a direção da unidade, ele continua internado em estado gravíssimo e uma nova avaliação clínica está prevista, ainda para esta quarta-feira (21), seguindo protocolos estabelecidos.
Uma das tias do técnico em radiologia usou as redes sociais para lamentar a perda precoce do jovem. "Que você esteja no paraíso onde só tem amor e saiba que será sempre especial para mim! Um dia estaremos juntos! Te amarei eternamente".
Geraldo Rodrigues, tio da vítima, contou ao DIA que a família de Raphael está devastada com o ocorrido e detalhou tudo aconteceu, de acordo com um dos amigos dos rapaz.
"A nossa família está devastada, ele era meu sobrinho, éramos todos muito ligados. Eles [o Raphael e os amigos] foram para o Maracanã, como ele é da torcida Urubuzada, é muito querido aqui no nosso local, e foram ver o FlaxFlu, quando acabou o jogo, eles ficaram tomando cerveja nas imediações do estádio e foram embora. Mas aqui nós vivemos numa área de conflito 24h. Era meia-noite, praticamente, e o sinal ficou amarelo e o colega [do Raphael] atravessou. E essas viaturas [que estavam no local] estavam baseadas, não estavam em patrulhamento. Não tinha cone de sinalização de blitz", contou.
De acordo com o relato de Geraldo, até o momento, nenhuma autoridade procurou os familiares do jovem para prestar esclarecimentos ou ajuda. "Esse é um dos tantos casos que acontecem aqui no Rio de Janeiro, é corriqueiro, hoje é quarta-feira até o fim de semana eu tenho certeza que vai ser outro. O meu sobrinho, como os outros, tem uma família que está sofrendo demais, e até não teve nenhum representante do do estado, assistente social, Secretaria de Direitos Humanos para a viúva, para a minha irmã [mãe do Raphael]. Nós é que assumimos tudo, estamos fazendo tudo e essas notas técnicas que enviam é uma zombaria, a nossa indignação é muito grande. E se eles disseram que nos auxiliaram, eu digo que é mentira, ninguém procurou a gente", assumiu.
O tio da vítima também relatou que os familiares optaram pela doação dos órgãos do rapaz e que agentes de saúde já estão no hospital realizando os procedimentos necessários. Para ele, no momento, a família só quer justiça pela vida do rapaz.
"E hoje eu digo que nem precisa mais de ajuda das autoridades, não queremos mais, não aceitamos a desculpa do estado, dos comandos da PM, nada, a gente só quer justiça e vamos correr atrás", desabafou. Segundo ele, o policial que atirou contra Raphael tem apenas seis meses na Polícia Militar, após ter tentado entrar na corporação por cinco vezes. "Ele conseguiu entrar dessa vez para acabar com a vida do meu sobrinho", declarou.
Um amigo da vítima utilizou o perfil do rapaz para agradecer aos momentos que viveram juntos e pela amizade.

"Vai com Deus irmão. Sua jornada neste plano foi bonita e você se fez privilegiado para todos que te conheceram. Quantas caravanas nos encontramos e resenhávamos nas rodas de samba da vida... obrigado por ter sido meu amigo", disse.

Apelidado de Rico, ele deixou uma esposa que estava grávida de oito meses. Segundo o tio da vítima, a bebê, que será batizada de Maia, deve nascer daqui a duas semanas. Ele ainda destacou que Raphael não tinha ficha criminal e que era trabalhador.
"Ele era trabalhador, radiologista e ainda exercia a função de motorista de aplicativo nas horas vagas, porque a filhinha dele vai nascer daqui a duas semanas. Nós nunca tivemos nenhuma notícia de que Raphael era envolvido com coisa errada, a ficha dele é limpa, nunca teve nenhum envolvimento com nada que possa denegrir a imagem dele. Um excelente filho, excelente sobrinho, neto e agora iria ser um excelente pai da Maia, que é o nome da filhinha dele, a esposa dele está devastada. Enfim, é aquele brasileiro que toda mãe, todo pai gostaria de ter na sua ninhada", desabafou.
Raphael é ex-presidente da torcida Urubuzada, do Flamengo. Nas redes sociais, integrantes da organizada fizeram uma homenagem ao homem.


Uma outra tia do rapaz, muito abalada, disse não acreditar na forma como o rapaz perdeu a vida. Raphael estava saindo do jogo entre Flamengo e Fluminense, que ocorreu no Maracanã, na noite deste domingo (18), quando foi atingido pelo disparo.

"Meu Deus, estou sonhando, não é verdade, ele não morreu. Um menino íntegro, de bom caráter, muito queridos por todos. Meu coração está despedaçado, um dia nós nos encontraremos, meu sobrinho amado, te amarei eternamente", lamentou.

Uma amiga do técnico em radiologia relembrou os últimos momentos de alegria que viveu ao lado da vítima.

"O que dizer sobre você? Perturbou muito minha adolescência, zoava demais meu irmão, mas era pura alegria. Lembro da última vez que nos vimos pessoalmente e da felicidade por encontrar com você, porque sabia que iria cuidar de mim. Lembro da nossa última conversa e da sua felicidade com a chegada da sua princesa. Obrigada Raphael por deixar nossas vidas mais felizes por ter você nela. Você será eterno..."

O policial militar Márcio Felipe dos Santos Ribeiro, 35 anos, do 3º BPM (Méier), que foi preso em flagrante por tentativa de homicídio, teve a prisão convertida em preventiva pela Justiça nesta terça-feira (20). Ele é suspeito de atirar na cabeça do técnico em radiologia na Rua Souza Dantas, no acesso para Avenida Marechal Rondon, no Engenho Novo, na Zona Norte.

Na decisão, o juiz ressaltou que as testemunhas, incluindo o motorista do veículo alvejado, não perceberam nenhuma sinalização de blitz policial ou ordem de parada por parte dos agentes. Além disso, outro PM que estava na abordagem afirmou que não avistaram armas de fogo no carro nem sinais de disparos feitos de dentro do automóvel.
Ainda não há informações sobre o velório de Raphael. A Polícia Militar e o Governo do Estado do Rio foram procurados para esclarecer as denúncias feitas sobre a falta de assistência à família da vítima, mas até o momento não responderam aos questionamentos.
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