Publicado 01/11/2022 14:50
Rio - No meio dos destroços, o possível sustento. Na reabertura, nesta terça-feira (1º), da Central de Abastecimento do Estado do Rio (Ceasa), enquanto equipes do Corpo de Bombeiros e do mercado trabalhavam no rescaldo de focos de incêndio e limpeza dos galpões atingidos pelo fogo, pessoas se amontoavam em caçambas, e em montes de lixo esfumaçados, para tentar recuperar algum produto descartado pelos comerciantes. O local foi atingido por incêndios consecutivos no último domingo (30), que afetou três lojas, e outro, de grandes proporções, nesta segunda-feira (31), que destruiu três depósitos de descartáveis, além de uma serralheria e uma loteria.
Apesar do reaproveitamento de alimentos no estabelecimento não ser algo incomum, desta vez o que se viu foram pessoas aguardando o descarte do material incendiado das caçambas em uma rua próxima ao estabelecimento para buscar, entre destroços, algum item que ainda estivesse em boas condições.
"Olha aqui, ainda está bom, dá pra usar", dizia um homem para outro, enquanto pegava embalagens parcialmente afetadas pelo fogo.
Nem o calor intenso, ou a fumaça vindo dos montes de lixo pareciam assustar os catadores e a cada material recuperado, era possível perceber uma comemoração por parte das pessoas, para espanto das testemunhas, que acompanhavam a cena.
Em um vídeo, flagrado pela equipe do DIA, é possível ouvir um homem se surpreendendo com a cena que acabava de ver. " Cara, que isso, que bagulho doido. Vagabundo não quer saber de p... nenhuma", disse.
Apesar de contar com reforço no policiamento na região para coibir os saques que atingiram a Ceasa nesta segunda-feira (31), nenhum agente tentava impedir o acesso dos catadores às montanhas de lixo e nas caçambas.
Por meio de nota, a Polícia Militar informou que agentes do 41º BPM (Irajá) e do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (Recom) foram deslocados para reforçar o policiamento no perímetro do mercado, no entanto, até o momento, não houve ocorrências envolvendo detidos no local.
Após novo incêndio , onda de saques afetou estabelecimento
Nesta segunda-feira, um novo incêndio atingiu cinco lojas do mercado. A assessoria da Ceasa informou que as Lojas Bastos, São Miguel Arcanjo, uma lotérica e outros dois estabelecimentos foram afetados. No domingo, foram atingidas uma serralheria e três depósitos de descartáveis, mas não afetou as estruturas do local e foi controlado pelos bombeiros. Houve saques de alguns estabelecimentos em meio ao fogo como mostram alguns vídeos publicados em redes sociais.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram uma multidão correndo em direção ao fogo para dentro das lojas. Nas imagens, é possível ver homens saindo com mercadorias e distribuindo para as pessoas. Seguranças internos dos estabelecimentos deram tiros para cima na tentativa de dispersar a confusão e evitar roubos. Segundo testemunhas, a polícia está no local tentando controlar a multidão para evitar saques às lojas, que já tiveram itens roubados.
Comerciante lamenta destruição de loja
Felipe Bastos é proprietário de uma das lojas destruídas, a Lojas Bastos, que vende artigos descartáveis em plástico. Segundo o homem, que estava no escritório quando o fogo começou a se alastrar, não foi possível identificar a origem das chamas. "Quando eu fui dar conta, a situação estava incontrolável, e nossa preocupação era retirar os colaboradores. Conseguimos salvar alguns produtos, mas foi tudo muito rápido. Os meninos ainda tentaram utilizar extintores, mas já não era possível. Assim que todos saíram, só esperamos a chegada da brigada", disse.
O empresário ainda não contabilizou os prejuízos, nem acionou o seguro. "A ficha ainda não caiu, não paramos para avaliar isso. A gente tenta colocar mais mercadorias focando no fim de ano, e em alguns eventos que vem por aí, mas, infelizmente foi 'perda total'. Agora, é hora de colocar a cabeça no lugar, recomeçar do zero e trabalhar para reconstruir tudo", desabafou.
O assessor da presidência da Ceasa, Alberto Fernandes Pereira, lamentou as lojas destruídas pelo fogo e reafirmou que a cidade não corre risco de desabastecimento. "Não há risco. Só em Irajá temos mais de 800 permissionários e, lamentavelmente, cinco comerciantes foram vitimados, mas o funcionamento segue normal no mercado", disse. Segundo ele, apesar de transtornados, os lojistas seguem calmos, uma vez que não houve vítimas.
Ele descartou, inicialmente, a hipótese de origem na instalação elétrica do estabelecimento e acrescentou que uma investigação interna segue em curso para averiguar alguma falha individual. "Durante alguns anos, estamos implementando um cronograma próprio para modernizar os sistemas preventivos de incêndios", disse.
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