Publicado 04/11/2022 21:27
Rio - O jovem Marcos do Nascimento Tavares, de 19 anos, preso injustamente em março deste ano, foi brutalmente assassinado pelo "tribunal do tráfico" da Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte do Rio, após ser apontado como informante da polícia na comunidade. Em entrevista ao 'RJTV2', o pai do rapaz disse estar devastado com o crime e afirmou que o filho foi alvo, mais uma vez, de uma injustiça, só que dessa vez sem chance de defesa. Marcos foi queimado, junto com outros dois amigos, no dia 29 de agosto.
O rapaz cursava Fisioterapia e trabalhava em uma farmácia. Antes de morrer, ele ainda respondia na Justiça do Rio pelo roubo do celular de uma turista de São Luís do Maranhão. No dia 19 de outubro, quase dois meses depois de ter a vida ceifada, o estudante foi absolvido do processo.
Traficante Abelha teria ordenado a morte
Um áudio, obtido pelos advogados da família de Marcos, mostram a origem da acusação que recaiu sobre o jovem ser um informante da polícia. A denúncia teria partido de uma jovem e a ordem da execução do chefe da maior facção criminosa do Rio, o traficante Wilton Carlos Rabello Quintanilha, mais conhecido como Abelha. O criminoso foi solto após um erro da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). Com isso, ele retornou à liderança da comunidade.
A morte de Marcos foi investigada pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros e denunciada ao Tribunal de Justiça do Rio. O Ministério Público do Rio (MPRJ) também ofereceu denúncia contra quatro traficantes por homicídio e ocultação de cadáver. Entre os traficantes estão: Carlos da Costa Neves, o Gardenal, Pedro Paulo Guedes, o Urso ou Pedro Bala, Edgar Alves de Andrade, o Doca, e o Abelha. As informações foram obtidas pelo 'RJTV2'.
Relembre o caso
"Foi um inferno. Quero nunca mais lembrar disso. Para sempre vou ter pesadelos". Essa foi a frase dita pelo jovem Marcos ao ser solto no dia 2 de março deste ano após passar dois dias preso acusado de roubar o celular de uma turista em Ipanema, na Zona Sul. O jovem diz que foi levado para a prisão sem direito de dar sua versão dos fatos, apenas por ser negro e estar com o cabelo pintado de loiro. Para o rapaz, o único motivo para ele e seus amigos terem sido presos foi a cor da sua pele. "Prenderam porque sou preto. É isso. (...) Sei nem o que eu vou fazer da minha vida agora. Sei nem se eu vou conseguir dormir. Como vou dormir? Não durmo desde que fui preso. Como vou dormir na minha casa? Fiquei imaginando a cara dos meus pais ao descobrirem isso", lembrou na época em entrevista ao Dia.
"A gente estava passando na praia. Assim que a gente passou, eles simplesmente falaram: 'Vocês! Vem cá! Cadê o Iphone que vocês roubaram?'. A gente disse: 'que Iphone?'. Falaram que a gente parecia com as pessoas que levaram. Não lembravam nem o rosto. Falaram que a gente agarrou o pescoço de uma mulher, falou que a gente fez um monte de coisa sem necessidade nenhuma", contou o jovem, que atua como instrutor de percussão em uma ONG de música, na Penha, Zona Norte. Ele também é aluno em um centro cultural de artes cênicas.
Marcos foi preso com outros dois jovens, um deles era menor de idade. Os três receberam alvará de soltura de liberdade provisória, após a Justiça entender que não haviam provas que justificassem a manutenção da prisão preventiva.
"Nunca pensei nisso. Ainda mais por ser acusado por fazer uma coisa que você não fez. Todo mundo lá tem um motivo para estar lá. Quando eu falava que não sabia que estava lá ninguém entendia era nada. É difícil passar o que a gente nunca imaginou na vida. Não tenho motivo para fazer isso. Meu pai, minha mãe, quem me conhece sabe. Minha mãe faz de tudo por mim, meu pai também", lamentou o jovem.
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