Publicado 22/12/2022 10:56
Rio - O corpo do ator Pedro Paulo Rangel foi velado no Theatro Municipal do Rio, na Cinelândia, Centro da cidade, desde às 10h desta quinta-feira. O veterano morreu aos 74 anos, na madrugada de quarta, na Casa de Saúde São José, na Zona Sul, onde estava internado desde novembro para tratar uma doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). A cerimônia de despedida aconteceu até às 13h. A cremação ocorrerá o Cemitério da Penitência, no Caju, e será restrita a amigos e familiares.
A atriz Lilia Cabral chegou ao local acompanhada pela filha, Giulia Figueiredo. "Vai uma pessoa que você ama, você agradece, que você vai sentir falta, já que não ter ele faz muita falta. Eu tenho que agradecer a todo o carinho e todos os conselhos sobre como enfrentar uma profissão, sou muito grata a ele. Jamais vou esquecer. Sábado, antes de ser entubado, eu fui visitá-lo, ele me olhou, você sabe que a pessoa está sofrendo. Não quer que ela sofra, mas ao mesmo tempo não quer que ela vá. Mas ele foi como queria, eu acho, sem sofrimento", disse a atriz nas redes sociais.
O diretor Fernando Philbert, amigo de Pedro Paulo Rangel há mais de 10 anos, falou sobre a despedida do ator dos palcos de teatro. Ele estava em cartaz com a peça "O Ator e o Lobo". "Conheço o Pepê há mais de 9, 10 anos. Um amigo de todas as horas. Esse espetáculo na verdade comemorava os 50 anos de carreira dele, nós já tínhamos feito uma temporada em São Paulo, uma temporada no Teatro Poeira. Isso já tem uns três anos. Passou a pandemia e o Pepê queria voltar ao palco, estar no palco de novo. Então, voltamos com esse espetáculo que contava a história dele, da vida dele. Foi um grande esforço para ele, uma despedida mesmo", disse o diretor.
"Ele ia para o camarim, ficava lá com o oxigênio... se recuperava, foi uma batalha dele para se despedir do teatro. Um gênio, um ator imenso. Ele se despediu dos palcos sabendo já que ele ia. Ele tinha já essa DPOC, que as vezes agravava, e no momento que agravou ele pensou que não conseguiria mais voltar. Mas ele conseguiu, ele fez brilhantemente, mas foi esse último suspiro no palco", completou.
A atriz Lilia Cabral afirmou que o ator "queria ir sereno" e "se despedir no palco". "Eu fico feliz de ver vocês aqui porque o Pepê era uma pessoa extremamente querida. Ele abraçou essa profissão desde criança, era isso que ele queria: servir ao público. Quando existe o reconhecimento é muito importante para um artista", iniciou a atriz.
"Eu acho que o Pepê vai do jeito que ele queria. Ele queria ir sereno, sem sofrimento e ele se despediu no palco. Os últimos movimentos dele foram no palco. Então, esse despedida traz um conforto para quem fica e também uma esperança de que ele tenha ido bem. E é isso que todo mundo quer. O Pepê era um ator extraordinário, amigo de muita gente, e ele vai fazer falta. Então muito obrigada por vocês estarem aqui acompanhando esse momento que é muito triste, mas de qualquer maneira muito significativo", disse visivelmente emocionada.
O ator Diogo Vilela falou sobre o legado de Pedro Paulo Rangel, a quem chamou de "príncipe da cultura" e da importância de resgatar a cultura brasileira para honrar a memória dele e de todos os atores. "Fica um companheirismo, fica um exemplo de ator, de criatividade e bola pra frente. Ele era uma pessoa muito leve, transcendia... Os artistas têm isso, esse coração, essa humanidade, até para lidar com os personagens", disse.
"É muito difícil falar de um ator como o Pepê. Não só os atores, mas também o público percebe a qualidade do trabalho dele. Ele está aqui no templo do teatro, sendo velado no lugar dele. A gente tem que ir em frente. São momentos difíceis que a arte está passando. Ele era uma pessoa de teatro. O teatro precisa ser recuperado na cultura, é o que eu e meus colegas estamos tentando fazer. O teatro foi muito desmoralizado e a gente está tentando recuperar a nossa força junto ao público", continuou Vilela.
"O teatro é um livro que fala, é muito importante na vida do Brasil. O brasileiro é criativo, tem sensibilidade ímpar, e é impossível viver sem teatro. Sempre assisti ao Pepê no teatro, ele sempre maravilhoso. Eu tenho certeza que o povo vai perceber que é importante não só velar a pessoa que dá adeus, mas também preservar a cultura brasileira que está tão em baixa. Tomara que a gente consiga recuperar no próximo ano a cultura que nós fomos arrasados, e hoje nós estamos mais arrasados ainda porque nós perdemos o príncipe da cultura, um dos maiores atores do país. Estamos tristes e com muita fé que o público volte ao teatro. É muito importante para honrar toda essa trajetória dele, minha e dos que vão partir", finalizou.
Maurício Benelis, amigo de Pedro Paulo Rangel há cerca de 20 anos, acompanhou o ator durante todo o tempo em que ele esteve internado e falou sobre as "saudades eternas" que o artista deixará. "Ele deixa um legado de amigos maravilhosos, os fãs que apareceram... Deixa uma saudade eterna no meu coração. Ele era uma pessoa maravilhosa, um pai, um amigo... Era muito inteligente, muito culto, viveu pela arte, o teatro é a casa dele", disse.
"Eu acho que agora no final ele já sabia que seria o último trabalho dele e que com isso ele iria fechar as cortinas... Ele teve 60 e poucos dias no hospital, eu estive com ele 12 horas, todos os dias. Foi um prazer, nunca foi um peso. Sempre foi aproveitar cada momento, cada suspiro, cada aperto de mão, cada olhar... Isso é muito importante pra mim como homem, como ser humano", finalizou, emocionado.
Trajetória
Pedro Paulo Rangel nasceu em junho de 1948, no Rio. Ele começou a se interessar por teatro aos 11 anos por meio de um vizinho que era ator amador. Ainda criança, fez parte do elenco da pela "O Bruxo e a Rainha", onde conheceu Marco Nanini. Mais tarde, os dois estudaram no Conservatório Nacional de Teatro, que atualmente é a escola de Teatro da Unirio.
Sua primeira experiência no teatro foi com a peça "Roda Viva", de Chico Buarque, dirigida por Zé Celso. A estreia na televisão aconteceu em 1969, na TV Tupi, onde atuou na novela "Super Plá". Em 1970, fez "Toninho On The Rocks" na mesma emissora.
O ator estreou na TV Globo em 1972, na novela "Bicho do Mato". Em 1975, Pedro Paulo Rangel fez história ao estrelar o primeiro nu masculino da televisão brasileira com o papel de Juca Viana, de "Gabriela". No mesmo ano, ganhou seu primeiro protagonista na obra "O Noviço", que teve apenas 20 episódios.
Na mesma época, Pedro Paulo Rangel atuou em "A Patota", "Saramandaia" e "O Pulo do Gato". Em 1979, voltou a ter uma breve passagem pela TV Tupi, onde atuou na novela "Dinheiro Vivo", de Mário Prata. Em 1981, voltou à TV Globo, onde atuou por anos em "Viva o Gordo" e "TV Pirata".
O retorno aos folhetins aconteceu em 1988, com "Vale Tudo". Pedro Paulo Rangel viveu papéis marcantes como Adamastor, de "Pedra Sobre Pedra" (1992), o Calixto de "O Cravo e a Rosa" (2000) e Argemiro Falcão, irmão da vilã Bia Falcão, em Belíssima (2005).
Também participou de obras como "Torre de Babel" (1998), "Desejo Proibido" (2007), "Amor Eterno Amor" (2012) e as minisséries "A Muralha" (2000), "O Quinto dos Infernos" (2000). Seu último trabalho na TV Globo foi "O Dentista Mascarado" (2013). Seu último papel na TV foi o bibliotecário da Imperatriz Leopoldina, na série "Independências" (2022), da TV Cultura.
Pedro Paulo Rangel lutou por 20 anos contra as consequências da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), causada pelo tabagismo. Ele não parou de atuar, mas deixou as novelas em 2012. O ator, no entanto, continuou fazendo peças de teatro e séries.
"Isso absolutamente não me impede de trabalhar. Eu tomo remédios, tenho uma rotina. Faço fisioterapia", disse em entrevista recente sobre a doença.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.