Carlos Magno Constantino Júnior, mais conhecido como Juninho, de 15 anos, é um dos sobreviventes do grave acidente envolvendo a delegação de um time de futebol de CaxiasDivulgação/ Arquivo pessoal
Publicado 02/02/2023 17:39
Rio - Três dias depois do trágico acidente que matou quatro pessoas da delegação do Esporte Clube Vila Maria Helena time de futebol de Duque de Caxias, na Baixada, os sobreviventes ainda tentam se recuperar do susto. Entre eles está o volante do clube, Carlos Magno Constantino Júnior, mais conhecido como Juninho, de 15 anos. Ao todo, 28 jogadores ficaram feridos.
O time de futebol de Duque de Caxias voltava de uma competição na cidade de Ubaporanga, onde o elenco foi campeão na categoria sub-18 e vice-campeão na sub-16, quando o ônibus que levava a delegação caiu de uma ponte com altura de cerca de 10 metros.
Ainda bastante abalado psicologicamente e com diversos ferimentos por todo o corpo, Juninho conta detalhes dos momentos que antecederam o acidente. Ao Dia, a jovem promessa do futebol de Caxias lembra que estava sentado ao lado de Thyago Ramos, também de 15 anos, uma das vítimas fatais do acidente. Os dois ocupavam a posição de volante e, por isso, se aproximaram muito durante a viagem à Minas Gerais.
"Eu conhecia e tinha proximidade com todos os quatro que morreram, mas em especial com o Thyago. Eu conheci ele nessa viagem e parecia que a gente já se conhecia há muito tempo. Quando a gente saía, era só resenha. Por sermos volantes também precisávamos estar sempre conversando dentro e fora de campo. Na hora de voltar para o Rio, eu sentei na janela e ele sentou do meu lado, no corredor", conta.
Juninho diz que houve uma mudança na programação de domingo (29) devido a um atraso nas partidas de semifinais e final. No primeiro dia de campeonato o clube não conseguiu entrar em campo por causa da chuva, que atrasou a chegada de outras delegações, então tiveram que fazer uma partida no sábado e outras duas no domingo, um jogo às 12h e outro às 18h. Ainda de acordo com o combinado entre os organizadores e os pais dos adolescentes, o ônibus iria sair de Minas Gerais por volta das 14h, mas retornou somente às 22h.
"No momento do acidente eu lembro que eu estava dormindo. O time todo estava muito cansado por causa das duas partidas em um único dia. Quando eu acordei já estava acontecendo o acidente. Eu não sei se o Thyago também estava dormindo", diz.
A mãe de Juninho, Rosana Juvencio, de 50 anos, conta que o filho relatou a ela que o motorista do ônibus estava correndo muito, tanto para ir quanto para retornar ao Rio de Janeiro. Com pressa, o condutor teria apressado os jovens para embarcarem no ônibus, não dando tempo nem de jantar. Juninho não foi o primeiro jogador a falar sobre a correria do motorista. Pedro Augusto, 16 anos, também sobrevivente do acidente, contou horas depois do ocorrido que o motorista estava correndo bastante na estrada.
Com o filho ao seu lado, demandando ainda muitos cuidados, Rosana diz estar aliviada por poder estar ao lado do seu caçula, mas também diz sentir a angústia das mães que perderam seus filhos. Ela, que é advogada, diz que sempre foi muito radical em relação aos estudos do filho, mas que também o apoia em seu sonho de ser jogador de futebol.
"Foi a primeira vez que ele viajou com esse time e eu confesso que estava com um sentimento ruim, de insegurança. Lembro que na hora de assinar o termo de autorização eu errei o papel três vezes. Quem erra a própria assinatura três vezes? Mesmo insegura eu deixei ele ir, era uma coisa que ele queria muito, muito mesmo", conta Rosana.
A advogada lembra também que a angústia voltou quando foi informada que às 18h do domingo (29) o time ainda estava em campo. "Vai passando agora um filme na minha cabeça. Como mudou o horário eu já não conseguia dormir, umas 5h eu fui a primeira pessoa no grupo das mães a ver uma mensagem encaminhada para gente sobre os meninos estarem no Hospital São Salvador. Inicialmente falaram pra gente que eram arranhões leves e que estava tudo bem. No grupo estavam os dois técnicos adultos que acompanhavam o time. Um deles, que é o Diogo, morreu e o outro está internado em estado grave. Como eles não falaram nada no grupo, eu comecei a me preocupar mais".
Ao receber a notícia do acidente com o ônibus da delegação, o pai de Juninho foi à Além Paraíba para encontrar o filho, já que o mesmo estava incomunicável. O jovem foi encontrado pelo pai sedado e com diversos machucados por todo o corpo no Hospital São Salvador. O menino retornou para casa na segunda-feira (30), já na parte da noite.
"Ele ainda está vivendo o luto, ele perdeu os amigos, né. Mas vamos dar suporte a ele, vamos colocar ele na psicóloga também", afirma Rosana. Mesmo diante do trauma, Juninho afirma que vai continuar correndo atrás do seu maior sonho, que é ser jogador de futebol profissional. "Eu quero continuar o que sempre quis desde muito pequeno, continuar esse sonho por mim e pelos meus amigos que se foram", diz o menino.
A mãe de Juninho aguarda agora o encerramento do inquérito para saber quais serão as providências que ela vai tomar. "Eu não quero pedir nada, só de estar com meu filho vivo já é o suficiente, mas quero entender o que aconteceu sim".
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais e, segundo Rosana, o inquérito pode ser finalizado até sexta-feira (3).
Vítimas foram enterradas sob forte emoção e com muitas homenagens
A primeira vítima a ser sepultada foi o integrante da comissão técnica do time de futebol, Diogo Coutinho, de 18 anos, às 14h no Cemitério Nossa Senhora de Fátima, em Caxias. O segundo a ser enterrado foi Kaylon da Silva Paixão, de 13 anos. O corpo dele foi velado na Igreja Evangélica Assembleia de Deus do Parque Paranhos, em Piabetá, e enterrado às 16h no Cemitério de Bongabá, ambos os lugares no município de Magé, na Baixada Fluminense. O menino, um dos mais novos que estavam na viagem, era considerado uma promessa do futebol de sua cidade, em Magé
A terceira vítima a ser enterrada nesta terça-feira (31) foi Andrey Viana da Costa, de 16 anos. O corpo do rapaz foi sepultado às 15h e enterrado às 17h, no Cemitério Nossa Senhora das Graças, conhecido como Tanque do Anil, também em Caxias. Dezenas de amigos e parentes estiveram no local para prestar uma última homenagem a "Dreyzinho", como era conhecido.
Os familiares e amigos de Thyago Ramos de Oliveira, de 15 anos, enterraram o corpo do jogador na quarta-feira (1º), no Cemitério do 51, em Xerém.
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