Publicado 19/04/2023 17:59
Rio - A 3ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) ouviu, na tarde desta quarta-feira (19), duas testemunhas de defesa na segunda audiência de julgamento e instrução sobre o caso de Cíntia Mariano Dias Cabral, madrasta acusada de envenenar os enteados, Fernanda Cabral, de 22 anos, e Bruno Carvalho, 16, no ano passado. A jovem morreu em março de 2022 após ficar 12 dias internada no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo. Já o menino sobreviveu.
A morte de Fernanda completou um ano no último dia 27 de março e segue sendo motivo de revolta de familiares e amigos. Na saída da sessão, Jane Carvalho, mãe das vítimas, pediu que a Justiça seja feita. Para ela, a madrasta de seus filhos tinha obrigação de os proteger, o que, segundo Jane, não foi feito. 
"Chega de tanta impunidade. Minha filha não morreu em uma festa ou na rua. Ela morreu dentro de casa por uma mulher que era para proteger e educar, mas fez essa crueldade com ela. Chega da gente perder entes desta forma. Ela não era obrigada a amar a minha filha, mas era obrigada a proteger e não foi isso que ela fez. O meu desejo é que as leis mudem para que as pessoas possam ter mais medo das coisas que vão cometer. Ela morreu dentro de casa no lugar que era mais sagrado como hoje está acontecendo nos colégios e nas creches. Minha filha morreu assim. Covardemente e cruelmente", disse Jane.
O primeiro a depor nesta quarta-feira (19) foi o perito Leonardo Dias Ribeiro, que era diretor do Instituto Médico Legal (IML) no período em que o envenenamento aconteceu, em março do ano passado. Em sua fala, o médico legista explicou sobre o procedimento de requisição de perícia do IML em casos como o de Fernanda. O corpo da vítima foi exumado em maio de 2022 após o irmão sofrer os mesmos sintomas que ela.
"Por se tratar de uma morte suspeita, era importante que a Fernanda fosse levada para o IML. Assim como acontece com crianças, ou em situações de morte súbita", disse o perito.
A médica Marina Carvalho, plantonista do Hospital Municipal Albert Schweitzer, que atendeu Fernanda, também foi ouvida durante a audiência desta quarta. A profissional foi questionada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) sobre o protocolo de atendimento em casos como o da jovem.
No decorrer da audiência, a defesa de Cíntia Cabral seguiu tentando apontar falhas no processo de requisição de perícia. Os advogados também levantaram dúvidas sobre os sintomas apresentados pela própria Fernanda no momento da entrada na emergência, visto que, naquele momento, o envenenamento não foi diagnosticado.
Os advogados de acusação, por sua vez, se mostraram confiantes em todo o material já apresentado até aqui, incluindo o depoimento do filho biológico de Cíntia, Lucas Mariano Rodrigues, que confirmou o envenenamento.

"O quanto antes a Cíntia for ouvida melhor. Na verdade, todas as provas já foram apresentadas na primeira audiência. Os filhos falaram que a mãe confessou. O principal foi visto. No caso do Bruno, em que ela colocou o veneno e que ele viu as pedrinhas azuis no feijão", comentou a advogada Marcella Fernandes. 
O julgamento está previsto para ter uma nova etapa no dia 15 de maio, quando serão ouvidas outras três pessoas intimadas pela defesa da ré, além da própria acusada. A primeira audiência foi realizada em setembro do ano passado.
Amigas de Fernanda esperam desfecho positivo
Além de familiares, diversos amigos de Fernanda Cabral também compareceram ao julgamento desta quarta-feira (19). Gabrielly Andrei, de 23 anos, acredita que uma possível condenação de Cíntia Mariano possa deixar em paz a memória da amiga.
"Acho que pode ser que conforte nossos corações, mas não totalmente. Tudo que sempre pedimos desde que a gente soube realmente o que aconteceu era que a Justiça fosse feita. Acho que com isso a memória da nossa amiga vai se sentir em paz. Será emocionante assistir ela [Cíntia] falando sobre tudo que aconteceu. Ver a conclusão disso. Não sabemos o que ela vai falar, se ela vai admitir tudo que fez. Espero que ela assuma tudo. A Fernanda era uma boa amiga para todos", disse Gabrielly.

Já Mariana Barros, também de 23 anos, aproveitou para destacar características de Cíntia após a morte de Fernanda.  

"A gente sabe da verdade. Pode ter o advogado que for, mas a gente sabe da pessoa ruim e que ela matou nossa amiga. Vai ser difícil escutar uma mentira na nossa cara e na cara da mãe dela. O mínino que ela pode fazer é admitir a barbaridade que ela fez. Essa mulher é uma maluca. Quando fui recolher as roupas da Fernanda, antes de saber que ela foi envenenada, ela estava lá. Numa boa, sem expressar nenhuma reação. Ela é uma pessoa fria. Completamente dissimulada", afirmou a amiga.
Relembre o caso
Fernanda deu entrada no Albert Schweitzer no dia 15 de março de 2022 depois de passar mal na casa do pai, onde a madrasta também morava. Na ocasião, ela caiu no chão do banheiro da residência e apresentou dificuldades para respirar, além disso, estava com a língua enrolada e a boca coberta por espuma. Já na unidade hospitalar, ela não teve um diagnóstico definido e, por conta disso, não respondeu ao tratamento e acabou não resistindo.
Dois meses depois, o irmão de Fernanda, Bruno Carvalho, de 16 anos na época, também sofreu com os mesmos sintomas de um envenenamento após almoçar na cada do pai e da madrasta. Ele chegou a ser internado, mas conseguiu sobreviver.
Com a similaridade dos casos, a Polícia Civil instaurou um inquérito que terminou no indiciamento de Cíntia Mariano pelo homicídio de Fernanda e pela tentativa de homicídio de Bruno. Segundo a 33ª DP (Realengo), ela teria colocado chumbinho na comida dos irmãos no dia 15 de março e 15 de maio, respectivamente.