Médicos que participaram do atendimento da mulher que teve o braço amputado, compareceram na 64DP para depoimento. Marcos Porto
Publicado 28/04/2023 16:01
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Rio - Cinco médicos de dois hospitais que participaram das cirurgias as quais foi submetida a passista Alessandra dos Santos da Silva, de 35 anos, prestaram depoimento nesta sexta-feira (28), na 64ª DP (São João de Meriti). No período da manhã e início da tarde, três profissionais de saúde do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, compareceram à distrital. Outros dois médicos do Instituto estadual de Cardiologia Aloyzio de Castro (Iecac), no Humaitá, Zona Sul, onde o membro esquerdo da paciente foi amputado, também prestaram depoimento à tarde.
Segundo o delegado que investiga o caso, Bruno Enrique de Abreu Menezes, em todos os cinco depoimentos foram detalhados os procedimentos adotados por cada profissional. "Para os próximos passos, remeteremos todo o material ao IML para exame pericial e será novamente ouvida a vítima para trazer mais elementos aos autos", afirmou.
A Polícia Civil investiga se houve negligência ou imperícia nos procedimentos a que Alessandra foi submetida no dia 3 de fevereiro deste ano. Na época, ela deu entrada no Hospital da Mulher para a retirada de miomas e, em seguida, precisou passar por uma histerectomia (retirada do útero). No entanto, horas depois a paciente apresentou complicações e foi transferida para o Iecac, onde o braço esquerdo precisou ser amputado.
Na terça-feira (25), o cirurgião Gustavo Machado, que participou da operação de retirada de miomas no Hospital da Mulher, prestou depoimento na 64ª DP.  Nas oitivas, ele disse que Alessandra teve um problema vascular após os procedimentos, o que teria levado à amputação do membro. Afirmou ainda que a decisão pela amputação foi da equipe do Iecac.
A declaração causou indignação na passista da Grande Rio e na mãe dela, que rebateu o médico em entrevista ao DIA.  "Os profissionais do Hospital da Mulher em momento nenhum conversaram com a gente, ainda querem jogar a culpa para o hospital que salvou a vida dela", disse Ana Maria, mãe de Alessandra. A passista também disse não ter dúvidas que o seu caso se trata de um erro médico por parte do Hospital da Mulher. "Só espero que a justiça seja feita", pediu ela.
O prontuário médico de Alessandra do Hospital da Mulher foi recebido na 64ª DP e encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para exames periciais na terça-feira (25). O caso está em investigação na 64ª DP.
Órgãos de saúde acompanham o caso
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) informou que abriu uma sindicância na terça-feira (25) para apurar os fatos. A Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES) disse que a Fundação Saúde também abriu sindicância para apurar o ocorrido nas duas unidades de saúde mencionadas na reportagem.
Confira a nota na íntegra da Fundação Saúde:
"A paciente Alessandra dos Santos Silva teve seu primeiro atendimento na emergência do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart em 21/07/2020, sendo realizada ultrassonografia, que constatou quadro de miomatose uterina múltipla. Ela foi encaminhada para acompanhamento ambulatorial.
Em novembro de 2022, ela retornou ao ambulatório de ginecologia do hospital, sendo indicada cirurgia para retirada de 17 miomas. Em dezembro, a paciente passou por consulta e exames para risco cirúrgico. Ela teve que realizar uma transfusão sanguínea devido ao quadro de anemia gerada pela miomatose.

Em 2 de fevereiro de 2023, a paciente é internada para cirurgia, sendo necessária a realização de nova transfusão sanguínea pré-operatória. A equipe médica esclareceu sobre a complexidade do procedimento e ela assinou termo de consentimento para a cirurgia.

Em 3 de fevereiro, às 14h, ela foi submetida à cirurgia para retirada dos 17 miomas, com preservação do útero, ovários e trompas, numa tentativa de respeitar seu desejo de engravidar.

Às 00h10 do dia 4, Alessandra começou a apresentar complicações clínicas que levaram a um novo procedimento cirúrgico para conter sangramento no local da cirurgia. A paciente foi então submetida à histerectomia (retirada do útero). Após o procedimento, ela foi encaminhada ao UTI para continuidade do tratamento do choque hemorrágico, sendo administradas altas doses de aminas vasoativas, que provocam o estreitamento dos vasos sanguíneos para manter a pressão arterial. Um dos possíveis efeitos adversos desta medicação é a oclusão vaso arterial, que leva à redução do fluxo sanguíneo, podendo levar à necrose das extremidades do corpo.

Em função da piora clínica do quadro, com hipotensão grave, às 14h do mesmo dia, Alessandra retorna ao centro cirúrgico, sendo submetida ao terceiro procedimento para investigação de possível novo sangramento. Ela retorna à UTI em estado grave.

No dia 5 de fevereiro de 2023, foi observado que as extremidades do corpo de Alessandra estavam frias e arroxeadas. A equipe enfaixou os membros da paciente para melhorar a circulação sanguínea. Foi realizado doppler, que constatou obstrução arterial no braço esquerdo.

Constatando a obstrução de artérias do antebraço esquerdo, a paciente foi estabilizada e transferida para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC), centro de referência em cirurgias cardiológicas e vasculares. A gravidade do quadro de saúde e a necessidade de transferência foram informadas aos familiares.

Em 6 de fevereiro de 2023, a paciente foi submetida ao quarto procedimento cirúrgico para desobstrução das artérias. Permaneceu internada no CTI em estado grave, tendo evoluído para insuficiência hepática e renal e distúrbio de coagulação grave.

No dia 10 de fevereiro, permanecendo em estado grave e sedada, a família foi informada sobre a necessidade da amputação parcial do membro superior esquerdo a fim de preservar a vida de Alessandra. Seus pais assinaram termo de consentimento para esse procedimento cirúrgico.

Foi então submetida à quinta cirurgia, para amputação parcial do membro superior esquerdo. Seguiu em acompanhamento na CTI, com melhora progressiva até a alta hospitalar em 16 de fevereiro. Na mesma data, ela foi orientada e seus pais contatados para retornar para acompanhamento no ambulatório de ginecologia no Hospital da Mulher.

A Fundação Saúde se solidariza com a paciente e sua família e ressalta que Alessandra foi atendida durante todo seu período de internação por especialistas e tendo acesso aos tratamentos e medicamentos necessários para a preservação da sua vida.

A Fundação instaurou sindicância para apurar toda a conduta médica e administrativa nas duas unidades de saúde."
 
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