Alessandra dos Santos, de 35 anos, passista que teve o braço esquerdo amputado após complicações em uma cirurgia para retirada de miomas no Hospital da Mulher, em São João de MeritiCleber Mendes/ Agência O Dia

Rio - Em depoimento na 64ª DP (São João de Meriti), nesta terça-feira (25), o cirurgião Gustavo Machado, que participou da operação de retirada de miomas e histerectomia (retirada do útero) da passista Alessandra dos Santos Silva, de 35 anos, citou um problema vascular da paciente após os procedimentos que podem ter levado à amputação do braço esquerdo da paciente.
Ao delegado Bruno Enrique de Abreu Menezes, titular da distrital, o cirurgião explicou detalhadamente o procedimento realizado no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Ele afirmou também que a decisão pela amputação do membro foi da equipe do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (Iecac), em Botafogo, na Zona Sul.
"Primeiro uma retirada de miomas (19 com 2,5kg) ao final o quadro agravou para uma hemorragia interna e uma nova cirurgia culminou com a histerectomia. Depois identificou-se um problema vascular, levando a transferência para novo hospital especializado neste tipo de tratamento. Nesse novo hospital optou-se pela retirada do membro", disse o delegado após a oitiva do médico.
Além do cirurgião Gustavo Machado, outros dois médicos do Hospital da Mulher também procuraram a distrital para se colocar à disposição dos investigadores. Também nesta terça-feira (25), o prontuário médico de Alessandra do Hospital da Mulher foi recebido na 64ª DP e encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para exames periciais. Segundo o delegado, a passista já foi ouvida e, após as oitivas, vai avaliar a necessidade dos depoimentos dos profissionais envolvidos no pós-operatório da paciente.
Entenda o caso
De acordo com Alessandra, que também é trancista, em agosto do ano passado, exames apontaram a presença de miomas em seu útero e os médicos recomendaram a retirada imediata. Entretanto, a cirurgia só foi realizada no dia 3 de fevereiro deste ano, no Hospital da Mulher. À noite, após o procedimento, as primeiras complicações começaram a aparecer, quando uma hemorragia foi identificada e Alessandra precisou ser submetida a uma histerectomia total no dia seguinte.
Durante a visita, depois da cirurgia, familiares encontraram a paciente intubada, com as pontas dos dedos esquerdos escurecidas, além de braços e pernas enfaixados. Ao serem questionados, os profissionais alegaram que ela estava com frio. No dia 6 do mesmo mês, os parentes foram informados pela equipe médica que a mulher seria transferida para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (Iecac), em Botafogo, na Zona Sul, porque seu braço estava praticamente preto e começando a necrosar.
A família precisou ser convocada e autorizou a amputação do braço, já que os médicos afirmaram que Alessandra não sobreviveria se mantivesse o membro, por conta das chances da necrose se alastrar. Mesmo depois da cirurgia, a vítima ainda sofreu com complicações, tendo os rins e o fígado quase paralisados, além do risco de uma infecção generalizada.
Alessandra só foi extubada em 12 fevereiro e teve alta da unidade de saúde dois dias depois. Entretanto, ao retornar ao Instituto para a revisão da cirurgia de amputação, no dia 28 seguinte, o médico notou que os pontos das cirurgias realizadas em São João de Meriti estavam em mau estado e recomendou que ela procurasse um hospital.
Ela procurou outros hospitais, até conseguir uma vaga, em 4 de março, no Hospital Maternidade Fernando Magalhães, em São Cristóvão, de onde foi transferida e novamente internada no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. A alta aconteceu um mês depois.
Investigação
A Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES) informou que a Fundação Saúde abriu sindicância para apurar o ocorrido no Hospital da Mulher Heloneida Studart.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj) também abriu uma sindicância para apurar os fatos narrados.