Manifestantes protestaram na frente do Hospital Geral de BonsucessoCléber Mendes/Agência O DIA

Rio - Enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem da rede pública e privada do estado do Rio decretaram a paralisação total da categoria por 48h, a partir da próxima quinta-feira (29). Os trabalhadores se reuniram na frente do Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio, para reivindicar a implementação do piso nacional da categoria na manhã desta sexta-feira (23). No ato, cerca de 400 manifestantes empunhavam faixas, cartazes e usavam camisas com frases de ordem sobre a importância da saúde: "Sem piso, sem Enfermagem", "queremos o piso, já", "enfermagem pede socorro".
Enfermeira formada há 33 anos, Rosiani Rocha Vieira, de 55 anos, estava fantasiada junto com Ana Cristina Alves, 55, também profissional da área. Juntas, as duas foram vestidas de Hulk e Bruxa, respectivamente, e carregaram cartazes com os dizeres: "heróis na pandemia, vilã da economia". "A fantasia representa que somos vilões da enfermagem, o governo nos intitula vilões da economia, não quer dar nosso aumento do salário. Eles alegam que se pagar nosso piso, quebra a economia", contou Ana Cristina.
"Eu represento a enfermagem na pandemia, quando fomos considerados heróis. Nós pagamos com as nossas vidas, perdemos muitos companheiros, adoecemos. Acabou a pandemia, esqueceram de nós. Hoje somos enganados o tempo todo pelo Ministério da Saúde. Representamos os vilões, a categoria que vai quebrar a economia do país por conta de um simples aumento, um aumento irrisório que ainda não vai atender as nossas necessidades", completou Rosiane.
Com a votação pela paralisação da categoria, pelo período de 48h, os profissionais também marcaram um ato na frente do Hospital dos Servidores, na Zona Central do Rio, e uma caminhada até a sede da Prefeitura do Rio, na próxima quinta-feira (29). No local, eles esperam realizar mais um protesto e fazer uma vigília.
Após a mobilização na frente do Hospital Geral de Bonsucesso, os manifestantes seguiram pela pista lateral da Avenida Brasil, no sentido Centro do Rio, e pararam na entrada principal da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 
Entenda
O piso salarial da enfermagem foi aprovado pelo Congresso Nacional em agosto de 2022 e fixou os valores de R$ 4.750 para enfermeiros, R$ 3.325 para técnicos de enfermagem e R$ 2.325 para auxiliares de enfermagem e parteiras. O dispositivo chegou a ser suspenso por uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) interposta pela rede privada da Saúde até que fontes de financiamento fossem garantidas para a política, mas foi aprovado em maio pelo ministro Roberto Barroso.
Na época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei que liberou R$ 7,3 bilhões a serem enviados para estados e municípios e permitir o pagamento da categoria. O ministro considerou haver valores mínimos a permitir o pagamento e restabeleceu a validade da lei que criou o piso. 
Contudo, a decisão do magistrado está sendo analisada pelos demais ministros, que retomaram o julgamento nesta sexta-feira (23). Até o momento, a medida segue em vigor.
Conselhos emitem carta aberta
Na última terça-feira (20), Conselhos de Enfermagem divulgaram uma carta aberta aos ministros. "Todas as exigências legais foram cumpridas para fazer valer o Direito. (…) São tempos difíceis para a Enfermagem. O desafio diário de cuidar das pessoas tem sido massacrante e insuportável diante dos salários miseráveis, jornadas exaustivas, descanso indigno, preconceito, assédio moral e sexual, transporte precário, insegurança, violência e sobrecarga com as responsabilidades do lar e da família", afirmam. 
"Os que hoje advogam contra o piso nacional da Enfermagem deveriam ser os primeiros a ser favoráveis, pois são grandes beneficiários do trabalho da categoria. No entanto, preferem agir como defensores intransigentes de desigualdades insustentáveis. Ainda ontem, chamavam os profissionais da linha de frente de heróis. Hoje, negam até o básico. (...) Acreditamos que a implementação do piso da Enfermagem permitirá a erradicação dos salários historicamente miseráveis da categoria e estabelecer condições de vida digna e de trabalho decente para o maior contingente de profissionais de saúde do país", completou a nota assinada pelos conselhos Federal e Regionais, Cofen e Coren.
*Colaborou Cléber Mendes.