Publicado 20/06/2023 16:04
Rio - Prestes a completar 39 anos no dia 2 de julho, Viviane Maria de Souza trabalha para se reerguer após ter sido agredida, humilhada e presa. Ela foi a entregadora atacada pela ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá no dia 9 de abril deste ano. O entregador Max Ângelo dos Santos também foi vítima das agressões. A Polícia Civil do Rio concluiu, na segunda-feira (19), o inquérito que investigou o caso e Sandra foi indiciada pelos crimes de lesão corporal, injúria e perseguição (stalking).
Com o inquérito da 15ª DP (Gávea) enviado ao Ministério Público, a entregadora espera que a justiça seja feita e que o caso sirva de exemplo para que trabalhadores sejam respeitados. A ex-jogadora de vôlei chegou a agredir Max Ângelo nas costas utilizando-se da coleira do cachorro, enquanto Viviane sofreu uma mordida na perna além de ter sido alvo de ataques verbais, como "lixo de favela", conforme a investigação.
"Deus que vai lapidando tudo que foi marcado em mim. Senti muita vergonha, humilhação, me senti injustiçada. O mundo todo ficou sabendo de mim. Hoje vivo de favor na casa do meu filho. Não tenho condição de nada. Estou com dívidas e preciso arcar com a responsabilidade com minha advogada. O que mais quero é ter um serviço digno. Sempre fui trabalhadeira e vou sempre continuar. Na Rocinha não tem lixo de favela, como ela disse, a Rocinha é um coração de mãe. Tem pessoas guerreiras, sofridas. No lixão também nasce a melhor flor", declara Viviane.
Viviane acrescenta que quer se recompor emocionalmente e financeiramente. Ela está morando com a nora e o filho na comunidade da Rocinha, em São Conrado. A entregadora chegou a ser presa após a repercussão do caso. Contra ela havia um mandado de prisão que estava em aberto por tráfico de drogas, expedido pela Justiça de São Paulo, em 2016. A vítima das agressões ficou presa, por um mês, no Instituto Penal Santo Expedito, em Bangu, Zona Oeste. Viviane foi solta após o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) aceitar um pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) para a sua liberação.
"Estou bem, graças à Deus, pelo fato de ter saído daquela casa de pedra, cova dos leões, sofri agressão lá dentro. Era Deus me protegendo, e abaixo, minha advogada, e o psicólogo lá dentro. Fui agredida, perseguida, vítima de homofobia trabalhando. Agora estou de bicicleta, comecei do zero, mas estou com a cabeça erguida. Que sirva de exemplo para quem agride trabalhador. Somos todos iguais", declara.
A defesa de Viviane afirmou que ainda não teve acesso ao relatório do inquérito. A advogada Prisciany Sousa afirma que pleiteou que Sandra fosse indiciada por lesão corporal, perseguição e injúria no âmbito homoafetivo. A defesa acrescentou que vai reivindicar reparação por danos já que o veículo utilizado nas entregas da vítima ficou danificado.
"Não posso dizer que estou satisfeita porque não tive acesso ao relatório. Vou pleitear reparação por dano material. Viviane está trabalhando de bicicleta. A defesa entregou às autoridades imagens que comprovam a Sandra derrubando a mobilete, que ainda não conseguiu consertar", afirmou Prisciany.
O crime aconteceu no domingo de Páscoa depois que Sandra teria discriminado a presença de entregadores sentados na porta de uma loja, na Estrada da Gávea, próximo ao número 847, em São Conrado. De acordo com os entregadores, a mulher passeava com o cachorro e, ao se deparar com o grupo, cuspiu no chão e seguiu andando com o animal. Ao voltar, Viviane questionou o motivo da raiva da ex-atleta de vôlei, que se alterou e passou a ofender e agredir os entregadores.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Sandra Mathias.
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