Publicado 27/07/2023 13:31 | Atualizado 27/07/2023 14:37
Rio - Um dia após a repercussão de um vídeo em que um suposto miliciano proíbe o trabalho de motociclistas que fazem transportes por aplicativo em regiões da Zona Oeste, especialistas em segurança pública apontam que as ameaças de grupo paramilitares nessas áreas é consequência da ausência do Estado e das forças de segurança.
No vídeo que circula nas redes sociais, o suspeito afirma que caso o trabalhador volte ao local, sua moto poderá ser roubada e destruída. A ameaça consiste em destruir o veículo da vítima colocando fogo nele. Entre os locais proibidos para trabalho estariam a Tijuquinha, Muzema e Rio das Pedras, na Zona Oeste do município.
No vídeo que circula nas redes sociais, o suspeito afirma que caso o trabalhador volte ao local, sua moto poderá ser roubada e destruída. A ameaça consiste em destruir o veículo da vítima colocando fogo nele. Entre os locais proibidos para trabalho estariam a Tijuquinha, Muzema e Rio das Pedras, na Zona Oeste do município.
A Muzema, assim como Tijuquinha e Rio das Pedras, teve forte domínio de grupos paramilitares por anos, mas tem sofrido invasões frequentes da facção Comando Vermelho (CV), que tem disputado o domínio da região. O objetivo da organização criminosa é expandir os pontos de vendas de drogas pela Zona Oeste e aumentar a área de controle do tráfico.
Para Vinícius Cavalcante, consultor em segurança pública, os grupos paramilitares têm o apoio de integrantes das próprias forças de segurança e por isso é tão difícil de combater a criminalidade nessas regiões. "Eles tem contatos, conhecimento e simpatias, que muitas vezes são compradas. Nesses locais, eles realmente mandam porque as forças de segurança se fazem menos presente, mas a gente sabe que a corrupção não é só privilégio da milícia. O tráfico também corrompe e compra favores".
Segundo Vinícius, a proibição de circulação se dá pelo fato de que a milícia não permite ser observada. "Muitos dos trabalhos de inteligência da polícia são feitos utilizando um álibi de motorista de Uber, pro exemplo. O policial está com um carro descaracterizado, com adesivo ou letreiro iluminado da Uber, mas na verdade está ali monitorando. Em função disso, a criminalidade já alerta a isso não quer permitir que sejam observados nas áreas em que dominam", explicou ao DIA.
Em nota, a Uber lamentou o ocorrido e informou que permanece à disposição para colaborar com as autoridades "A Uber lamenta que cidadãos que desejam apenas trabalhar ou se deslocar sejam vítimas da ameaça de violência que permeia em nossa sociedade. A empresa permanece à disposição para colaborar com as autoridades no curso de investigações, nos termos da lei", diz a nota.
O também especialista em segurança pública e advogado criminalista, Marcos Espíndola, afirma que o Rio ultrapassou os limites desse tipo de atividade criminosa. "O que acontece no Rio, não acontece em nenhum lugar do mundo, tem comunidade com disputa de mais de três facções. As pessoas que moram em comunidades são escravizadas pela milícia e pelo tráfico. Se tivéssemos um projeto de polícia comunitária, a continuidade das UPPs, ou um policiamento extensivo de rua, as coisas seriam diferentes. A verdade é que não temos um grupo de combate à milícia com efetivo suficiente, tecnologia e investigação e por isso não funciona. Então eles vão crescendo e se multiplicando", ressaltou.
Procurada, a Polícia Militar informou que atua ostensivamente na região e que, em caso de flagrante, os envolvidos serão presos. A corporação disse, ainda, que se o cidadão se sentir ameaçado, deve acionar os policiais via Central 190 ou o aplicativo 190. Os fatos também devem ser registrados em delegacia.
Já a Polícia Civil afirmou que não foi localizado registro de ocorrência especificamente sobre o fato. Quanto à denúncia de ameaças, a corporação ressaltou que todos os casos registrados nas delegacias são investigados para identificar os criminosos envolvidos em eventuais práticas de extorsão. A instituição solicitou, ainda, que as vítimas procurem uma unidade policial e registrem ocorrência, apresentando mais informações para identificação dos autores.
Para Vinícius Cavalcante, consultor em segurança pública, os grupos paramilitares têm o apoio de integrantes das próprias forças de segurança e por isso é tão difícil de combater a criminalidade nessas regiões. "Eles tem contatos, conhecimento e simpatias, que muitas vezes são compradas. Nesses locais, eles realmente mandam porque as forças de segurança se fazem menos presente, mas a gente sabe que a corrupção não é só privilégio da milícia. O tráfico também corrompe e compra favores".
Segundo Vinícius, a proibição de circulação se dá pelo fato de que a milícia não permite ser observada. "Muitos dos trabalhos de inteligência da polícia são feitos utilizando um álibi de motorista de Uber, pro exemplo. O policial está com um carro descaracterizado, com adesivo ou letreiro iluminado da Uber, mas na verdade está ali monitorando. Em função disso, a criminalidade já alerta a isso não quer permitir que sejam observados nas áreas em que dominam", explicou ao DIA.
Em nota, a Uber lamentou o ocorrido e informou que permanece à disposição para colaborar com as autoridades "A Uber lamenta que cidadãos que desejam apenas trabalhar ou se deslocar sejam vítimas da ameaça de violência que permeia em nossa sociedade. A empresa permanece à disposição para colaborar com as autoridades no curso de investigações, nos termos da lei", diz a nota.
O também especialista em segurança pública e advogado criminalista, Marcos Espíndola, afirma que o Rio ultrapassou os limites desse tipo de atividade criminosa. "O que acontece no Rio, não acontece em nenhum lugar do mundo, tem comunidade com disputa de mais de três facções. As pessoas que moram em comunidades são escravizadas pela milícia e pelo tráfico. Se tivéssemos um projeto de polícia comunitária, a continuidade das UPPs, ou um policiamento extensivo de rua, as coisas seriam diferentes. A verdade é que não temos um grupo de combate à milícia com efetivo suficiente, tecnologia e investigação e por isso não funciona. Então eles vão crescendo e se multiplicando", ressaltou.
Procurada, a Polícia Militar informou que atua ostensivamente na região e que, em caso de flagrante, os envolvidos serão presos. A corporação disse, ainda, que se o cidadão se sentir ameaçado, deve acionar os policiais via Central 190 ou o aplicativo 190. Os fatos também devem ser registrados em delegacia.
Já a Polícia Civil afirmou que não foi localizado registro de ocorrência especificamente sobre o fato. Quanto à denúncia de ameaças, a corporação ressaltou que todos os casos registrados nas delegacias são investigados para identificar os criminosos envolvidos em eventuais práticas de extorsão. A instituição solicitou, ainda, que as vítimas procurem uma unidade policial e registrem ocorrência, apresentando mais informações para identificação dos autores.
Outros casos
Motociclistas que fazem transporte por aplicativos já sofreram outras imposições de criminosos nesse ano. Em março, uma ordem, que também circulou nas redes sociais, proibiu o transporte de passageiros via moto em regiões como Cesarão, Antares, Urucânia, Rodo, Palmares e Maguariba, que ficam entre os bairros de Santa Cruz e Paciência, também na Zona Oeste.
A ameaça era a mesma do vídeo que circula nesta quarta-feira (26): o trabalhador teria a moto queimada caso pegasse corrida no local.
A intimidação estaria acontecendo porque o trabalho pode prejudicar a arrecadação de dinheiro da milícia com mototaxistas da região que são obrigados a pagar uma taxa à organização para continuar trabalhando nas linhas.
Em abril, foi a vez do Comando Vermelho (CV) adotar a proibição na Praça Seca, ainda na Zona Oeste. De acordo com a postagem, traficantes estariam ameaçando condutores de moto por aplicativo que peguem corrida para comunidades da região, como Divino, Chacrinha, Bateau Mouche, Menezes e Barão, todas dominadas pela facção.
Caso os condutores continuem passando pelo local, a publicação da época prometeu uma retaliação. A mensagem ainda mostra que todas as comunidades possuem mototaxistas próprios, dando a entender que a entrada de moto por aplicativos possa atrapalhar esse trabalho.
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