Com buzinaço e gritaria, entregadores protestam em condomínio na Zona Norte após suspeita de agressãoReprodução / Redes sociais

Rio - Entregadores realizaram, na noite desta quinta-feira (28), um protesto na frente de um condomínio na Penha, Zona Norte do Rio, após suspeita de agressão. Segundo relatos, o motoboy não subiu para fazer a entrega no apartamento e, por isso, o cliente desceu armado e deu uma coronhada no rapaz.
Ao DIA, o motoboy Bruno Arantes, que sofreu a agressão, contou como tudo aconteceu. "Cheguei para fazer a entrega e pedi para o porteiro avisar pro homem descer. O cara já desceu armado e me xingando. Então, eu virei de costas e ele me deu uma coronhada nas costas", explicou.
Bruno, que trabalha há dois anos como entregador, disse que ficou abalado com a situação. "O psicológico fica abalado. Sei nem se vou trabalhar hoje. Desrespeito total com a nossa classe. Nós não somos obrigados a subir em apartamentos".  
Por volta das 20h, dezenas de entregadores se reuniram na frente do Condomínio Nova Penha para protestar contra a suposta agressão. Começou, então, um buzinaço e a Polícia Militar (PM) foi acionada. Em nota, a PM informou que o cliente não é policial e que a equipe do 16° BPM (Olaria) encaminhou os homens para a 22ª DP (Penha).
Em nota, o Ifood informou que "a empresa não tolera ofensas nem agressões a entregadores e entregadoras. Os clientes que tiverem esse tipo de atitude podem ser suspensos ou excluídos". Além disso, a plataforma afirmou que "a obrigação do entregador é entregar no primeiro ponto de contato que existe na residência da pessoa. Se for no condomínio, esse ponto é a portaria".
Em uma conversa entre entregadores obtida pelo DIA, um homem relata o que aconteceu. "Acho que vai rolar [manifestação] na Quito, 250 (endereço do condomínio). O cara deu uma coronhada nas costas do rapaz, pois ele não quis subir", escreveu.
Nas redes sociais, internautas deram suas opiniões sobre o ocorrido. "O Ifood pode resolver colocando uma taxa pro entregador subir", disse um homem. "Quando os clientes vão parar de agredir ou ameaçar os entregadores?", escreveu uma mulher. "Que cara folgado. Desce e pega o lanche", disse outra.
Greve dos entregadores
Nesta sexta-feira (29), os entregadores do Rio de Janeiro vão fazer uma paralisação. Às 9h, haverá uma manifestação em frente à igreja da Candelária, no Centro do Rio. Com carro de som e dezenas de motoboys, os entregadores vão reivindicar insatisfações relacionadas à jornada de trabalho.
Ao DIA, o entregador Tassiano Alves, que trabalha desde 2019 no ramo, explicou o motivo da greve geral. "Nós somos contra a regulamentação do aplicativo, que não traz nenhum benefício. O governo quer que a gente receba por hora trabalhada e não por hora logada. Quando a gente liga o aplicativo, nós já estamos disponíveis para receber entrega. Mas as vezes ficamos mais de uma hora sem pedido e não querem nos pagar por esse tempo", disse.
Tassiano também contou como vai acontecer a paralisação. "Vai ser na cidade toda. Os entregadores não vão coletar pedido. Terá pessoas nas portas dos restaurantes orientando os motoboys a não realizar entregas".
Sobre a questão de subir em apartamentos, Tassiano disse que há um Projeto de Lei (PL) tramitando na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). "Vamos lutar pela aprovação da Lei, para não subir em apartamento. Existe uma PL do André Ceciliano (PT) na Alerj e vamos pedir a urgência da votação. Vamos acabar com essa questão de briga e as pessoas vão entender que entregador não é obrigado a subir". 
A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), responsável pela plataforma do Ifood, disse que respeita o direito de manifestação e informa que suas empresas associadas mantêm abertos seus canais de diálogo com motoristas e entregadores. Amobitec reforçou que tem interesse em construir um modelo regulatório equilibrado, que busque ampliar a proteção social dos entregadores e motoristas e garantir a segurança jurídica da atividade.
A reportagem ainda não conseguiu contato com o cliente acusado por agressão. O espaço segue aberto para manifestações.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini