Operação policial no Complexo da Maré. Na foto, movimentação policial no acesso a Nova Holanda, nesta terça-feira (11).Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - O governador do Rio, Cláudio Castro, se reuniu na manhã desta sexta-feira (29) com o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, para discutir as ações das forças estaduais e federais que vão atuar no Complexo da Maré, na Zona Norte. De acordo com as autoridades, os principais pilares investidos na ação serão tecnologia, investigação e inteligência. O encontro foi marcado após a divulgação de uma investigação da Polícia Civil que revelou o treinamento armado de criminosos na comunidade.
Na reunião, o governador informou que as polícias Civil e Militar já estão elaborando um plano para combater os traficantes que atuam na Maré. No entanto, a ocupação militar já foi descartada pelo Estado.

"Vamos asfixiar o crime organizado. Esse é um processo de integração importantíssimo para segurança pública. É um avanço para que a sociedade entenda de uma vez por todas o tamanho do nosso desafio e dos agentes de segurança que enfrentam criminosos armados e treinados, e a complexidade que é fazer segurança pública", disse Castro.


O governador reforçou que as imagens também serviram para mostrar a sociedade a alta periculosidade dos criminosos. "Essas imagens trazem também um tom de libertação porque, infelizmente, há uma parte da sociedade que coloca o traficante como vítima da sociedade, mas imagens mostram o contrário, criminosos de altíssima periculosidade que usam da comunidade para treinamento quase militar. Estamos preparando uma grande ação, não vamos dizer data, mas está sendo preparado, não só para aquela área, mas para outras áreas", complementou.
Castro complementou ainda que o Rio se tornou um refúgio para criminosos de outros estados. "Estamos combatendo isso desde o ano passado, mas infelizmente, o Rio virou esse ponto de encontro de criminosos para se qualificarem", afirmou.

Já o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, disse que as imagens são inaceitáveis. "Treinamento de guerrilha urbana a luz do dia, criminosos com fuzil .50 a luz do dia, não é aceitável em lugar algum", comentou.

Capelli reforçou ainda o uso da inteligência para evitar danos aos moradores locais. "Sem nenhuma ação espetacular, vai ser inteligência e o mínimo de efeito colateral para devolver a comunidade as 140 mil pessoas que moram ali. Vamos apoiar em tudo que o governo achar necessário. O plano está sendo preparado, mas não será uma ocupação, serão incursões e uma asfixia para as atividades criminosas. A Operação está em construção e o mais importante é atuar com inteligência e tecnologia, com mínimo de efeito colateral, sem espetáculo", disse.
O secretário ainda esclareceu a atuação da Força Nacional. "Esses agentes vão atuar em ações que tenham relação com o conceito da Força Nacional. Em eventuais incursões, são as forças especializadas do governo do estado que vão atuar porque não vai ter ocupação e as incursões serão feitas pontualmente a partir de informações de inteligência", explicou.

Na quinta-feira (28), Castro se reuniu com integrantes da cúpula de Segurança do Rio para tratar sobre o mesmo assunto. No encontro, o governador afirmou que devolverá a área de lazer utilizada pelos traficantes à população da comunidade. 

Durante o encontro, Castro solicitou um levantamento das polícias para saber o número de agentes da Força Nacional, que serão necessários. O governador pediu, ainda, a quantidade de blindados, drones e policiais que serão disponibilizados pelo Ministério da Justiça. Cláudio Castro afirmou que espera um plano de segurança para montar "uma operação sem efeito colateral" e, dessa forma, "devolver a paz para a Maré".

O treinamento

Investigações da Polícia Civil apontaram que criminosos da Maré, uma das maiores do Rio, realizam treinamento armados com táticas de guerra. Em imagens obtidas por drones, um grupo de 15 a 20 homens armados aparecem em uma quadra de futebol instruídos a atacar e se defender durante confrontos. O trabalho foi realizado por agentes da 21ªDP (Bonsucesso) nos anos de 2021 e 2022.

Outras gravações mostraram cerca de 17 soldados do tráfico participando de treinamentos ministrados por instrutores que demonstravam profundo conhecimento em táticas operacionais. De acordo com informações da inteligência da DP, comunidades ligadas à mesma facção também receberam treinamentos similares em táticas operacionais naquele local, expandindo assim o conhecimento para diversas comunidades no Rio.

Estes treinamentos ocorriam tanto durante o dia quanto à noite, envolvendo o uso de fuzis e explosivos, simulando a progressão na região, confrontos armados e outras técnicas militares.

Segundo o delegado Hilton Alonso, responsável pelas investigações, o conhecimento das estratégias e táticas empregadas pelos grupos criminosos na Maré é fundamental para que as autoridades possam combatê-los de maneira eficaz.

Durante as investigações, a utilização de drones revelou, ainda, a existência de uma extensa área de lazer na Vila do João, criada pelo tráfico, equipada com piscina olímpica, área de churrasco coberta, campo de futebol e camarote para eventos. Este espaço era utilizado para o lazer das lideranças criminosas, suas famílias e convidados, reuniões da facção e para os treinamentos dos traficantes.