William da Silva, pai da menina baleada durante ação da PRF, prestou depoimento no MPF nesta segunda-feira (11)Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicado 11/09/2023 18:50
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Rio - O Ministério Público Federal (MPF) colheu, nesta segunda-feira (11), o depoimento de William da Silva, pai da menina H. dos S. S., de 3 anos, que foi baleada na última quinta-feira (7) durante uma ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Arco Metropolitano, em Seropédica, na Baixada Fluminense. A vítima, atingida na cabeça e na coluna, segue entubada e internada em estado gravíssimo.
O órgão abriu uma investigação própria sobre o caso na última sexta-feira (8) através do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial. O procurador da República e coordenador do grupo, Eduardo Santos de Oliveira Benones, é o responsável por ouvir os envolvidos na ocorrência para saber mais detalhes do que aconteceu e decidir se levará o caso à Justiça.
No dia do crime, William contou que a família voltava da casa dos avós da vítima, em Itaguaí, na Baixada Fluminense, por volta das 20h, quando passaram por uma viatura parada em um cruzamento na entrada de Seropédica. Segundo o pai, não houve ordem de parada, mas os agentes passaram a seguir e a ficar muito próximos ao veículo da família. Ele então decidiu dar seta para encostar o carro e, quando já estava no acostamento, quase parando, o automóvel foi alvo de mais de quatro disparos. A versão foi relatada novamente nesta segunda-feira (11) ao procurador.
Uma testemunha do ocorrido afirmou que o carro onde a vítima estava não tentou fugir da abordagem da viatura antes dos tiros. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, ela também não menciona nenhum outro disparo antes da criança ser atingida. "Federal (PRF) acabou de acertar a filha de alguém no carro ali 'mano'. Isso que dá Federal incapacitada, saíram atirando no carro", disse em um trecho.
A testemunha, em entrevista à CBN, disse ainda que estava próxima ao carro da família no Arco Metropolitano e que o pai da menina não fugiu de nenhuma abordagem. "Eles estavam vindo e a Federal estava lá atrás, não estavam nem perto do carro. Eu estava vindo de boa, mas eu vi a Federal vindo, só que eles não ligaram a luz, nem nada, mas eu vi que era o carro deles porque eu tinha passado por eles. E quando foi chegando mais perto, eu fui, joguei para a pista do canto e eles ligaram só a sirene, que fez só um barulhinho que eu nem ouvi direito. Pensei: Será que estão mandando o carro parar? Até então acho que a família continuou andando de boa. Mas eles chegaram mais perto do carro. A família antes de encostar para o canto, não correu, não acelerou, nem nada. Eles deram uns sete tiros no carro", disse.
Segundo o MPF, outras pessoas e os policiais envolvidos irão prestar depoimento sobre o caso nos próximos dias. Com o procedimento, o órgão busca apurar suposto crime de lesão corporal ou tentativa de homicídio qualificada pela idade da vítima, sem prejuízo de outras condutas criminosas verificadas no curso das apurações.
Policial alega ter ouvido disparos
O agente que atirou disse, em depoimento realizado na última sexta-feira (8) na 48ª DP (Seropédica), que realizou os disparos porque ouviu tiros vindos da direção do veículo. Segundo o PRF, ele e dois colegas começaram a perseguir o veículo depois que foi constatado que o carro era produto de um roubo.
O policial contou que, depois de 10 segundos atrás do veículo, o trio escutou um som de disparo de arma de fogo, chegando a se abaixar dentro da viatura. Ele admitiu que atirou três vezes com um fuzil calibre 556 na direção do carro onde a criança estava com a família, pois a situação o fez supor que o disparo havia sido feito do veículo.
Em relação ao carro ser produto de um roubo, o pai da menina disse na 48ª DP que o antigo proprietário do veículo, que eles adquiriram há dois meses, ainda tem o seu nome no documento. William relatou que o vendedor teria apresentado o recibo de compra e venda do veículo (CRV) no processo da compra do carro. O antigo proprietário ainda teria realizado uma consulta da placa no sistema do Detran e enviado a ele e, por isso, não imaginava que havia registro de roubo ao veículo no ano anterior.
Os agentes estão afastados preventivamente de suas ações operacionais e o policial que fez os disparos teve sua arma apreendida. De acordo com a PRF, a instituição disse ainda que as circunstâncias da ação estão em apuração pela corregedoria da corporação e que colabora com as investigações da polícia judiciária para o esclarecimento dos fatos. "A PRF expressa seu mais profundo pesar e solidariza-se com os familiares da vítima, assim como está em contato para prestar apoio institucional".
Ida de policial a hospital
H. dos S. S. está internada em estado gravíssimo no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A prefeitura do município informou, nesta segunda-feira (11), que a menina segue entubada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) da unidade e mantém o seu quadro hemodinâmico.
A criança deu entrada no hospital na quinta-feira (7), dia em que foi baleada. Ela foi avaliada pela equipe de cirurgia pediátrica, neurocirurgia e pediatria, com realização de exames de imagem e laboratório, sendo encaminhada para o centro cirúrgico, onde passou por procedimento.
No sábado (9), um policial à paisana entrou no CTI da unidade sem autorização e sem avisar à corporação. O fato chamou atenção do MPF que também investiga o motivo do agente estar no local. Dependendo das conclusões, o órgão poderá denunciá-lo à Justiça Federal por abuso de autoridade. Os representantes do MPF souberam da presença do policial quando estiveram no hospital para iniciar as investigações sobre o caso e, no local, foram informados que o agente teria entrado no CTI, sem autorização da segurança do hospital.
Em nota, a PRF informou que a coordenadora geral de Direitos Humanos da PRF esteve no hospital acompanhada de integrantes da Comissão Regional de Direitos Humanos no sábado (9). No entanto, "fora essas pessoas, nenhum outro policial tinha autorização para estar no local". De acordo com a corporação, um procedimento foi aberto na corregedoria e o agente já foi identificado.
A Prefeitura de Duque de Caxias ressaltou que a Secretaria Municipal de Saúde está analisando as imagens das câmeras de segurança do hospital para verificar em que condições ocorreram a presença e circulação do agente sem autorização nas dependências da unidade de saúde. Segundo a direção do hospital, na ocasião, o homem foi impedido de entrar no CTI do hospital, ao ser abordado pelo coordenador de segurança de plantão e informado de que não poderia ter acesso ao setor, já que não tinha autorização. De imediato, o coordenador de segurança conduziu o homem até a sala da equipe médica responsável, onde estavam os agentes do MPF.
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