Familiares e amigos da advogada Silvia de Oliveira Martins estiveram na 42ª DP (Recreio) para registrar uma queixa contra a médica Geysa Leal CorrêaMarcos Porto / Agência O Dia
Publicado 20/09/2023 15:41
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Rio - Familiares e amigos da advogada Silvia de Oliveira Martins, de 40 anos, que morreu após fazer uma lipoaspiração em uma clínica em Laranjeiras, Zona Sul do Rio, estiveram na tarde desta quarta-feira (20) na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) para registrar uma queixa contra a médica Geysa Leal Corrêa, responsável pela cirurgia.
Na sexta-feira passada (15), Silvia Olly, como era chamada pelos amigos, deu entrada na clínica para fazer o procedimento. Na manhã de sábado (16), a mulher recebeu alta, voltou para casa, mas começou a sentir fortes dores. Por volta das 14h30, a advogada foi para o Hospital Oeste d'Or, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, onde ficou internada até às 6h56 de domingo (17), quando teve a morte confirmada.
Antes de registrar o caso na 42ª DP, Pedro Cayo Costa, filho da advogada, disse que a mãe chegou bem em casa após o procedimento, sem reclamar de dores. Contudo, quando ele foi comprar remédios receitados pela médica, Silvia começou a sentir um aperto no peito e falta de ar. Pedro contou que encontrou a mãe no Oeste D'Or antes dela ser internada e que ela continuava bem, mas essa foi a última vez que ele a viu.
"Minha mãe chegou em casa no sábado de manhã cedo. Eu estava no meu quarto dormindo, acordei porque escutei um barulho e fui direto para o quarto dela. Ela estava bem e deitada. Estava tudo tranquilo. Não estava sentindo nada. Ela me pediu para ir até a rua e me deu a receita. Era remédio indicado pela própria doutora com carimbo e com o nome do escritório dela. Assim que eu comprei os remédios, o Júnior [namorado da mãe] me informou que ela estava sentindo falta de ar e dor no peito. Eu, na rua, já fui direto ao médico. Quando cheguei lá, ela estava bem, conversando, dizendo que estava sentindo muita dor, que ia ficar bem e que ia para uma sala ser medicada. Depois daí, eu não vi mais minha mãe", contou.
Pedro explicou que a família resolveu denunciar a médica porque quer Justiça pelo o que aconteceu, além de poder saber mais detalhes do ocorrido.
"A minha família só quer Justiça por tudo que aconteceu. A gente não sabe o caso concreto de tudo, mas a minha mãe chegou em casa bem e fez a cirurgia bem. Nesse momento, só queremos Justiça mesmo. Saber sobre o caso e de início é isso", completou.
A empresária Camila Antoni, irmã da advogada, também esteve na 42ª DP nesta quarta-feira (20). Segundo ela, Silvia já tinha feito outros procedimentos com Geysa e confiava na médica. Camila acompanhou a irmã até a clínica para fazer a cirurgia, mas destacou que elas não sabiam que a lipoaspiração seria realizada no local, já que havia um aviso que os procedimentos eram realizados em um hospital.
"A Silvia gostava muito dessa médica. Ela já operou com ela acho que duas vezes. Dessa vez, ela insistiu bastante que eu fosse com ela porque queria que eu fizesse também. Eu fui com ela na consulta. Quando a gente chega lá, você vê um consultório bacana. Tem escrito lá que vai ser feito no hospital e é cobrado o valor. Acontece que, quando você chega lá, você já fez os exames, já pagou, tem hospital do lado, te dão o endereço, você já fez tudo, mas dizem que vai ser na clínica porque tem todos os equipamentos que tem no hospital. Então, a gente acredita que é o melhor. Eu acredito que a Sílvia não teria feito se não acreditasse que era o melhor", explicou.
Depois que sua irmã morreu, Camila soube que Geysa já havia sido condenada pela morte de uma mulher em decorrência de uma outra lipoaspiração. Por isso, a família resolveu levar o caso adiante e registrar uma queixa contra a médica. 
"Na verdade, ela não deveria estar exercendo porque ela já tem mortes. Ela tem um monte de coisa. A pergunta que eu me faço é: por que ela está exercendo, se ela já foi condenada? Isso que eu queria entender. Por que?', finalizou.
A declaração de óbito de Sílvia indicou que a causa da morte foi um "choque hemorrágico, devido a um tromboembolismo pulmonar, em razão de lipoaspiração recente". A advogada foi sepultada na tarde desta segunda-feira (18), no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, na Zona Oeste do Rio
Questionada sobre o assunto, a Polícia Civil informou apenas que o caso será encaminhado para a 9ª DP (Catete), que dará continuidade às investigações. 
Condenação por homicídio
Geysa Leal Corrêa foi condenada, em 2022, a dois anos de prisão pelo homicídio culposo com a qualificadora de inobservância de regra técnica da profissão pela morte da pedagoga Adriana Ferreira Capitão Pinto, de 41 anos, ocorrida em 2018, após uma lipoaspiração feita em uma clínica em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.
Segundo a denúncia do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), a médica, que possuía especialidade em otorrinolaringologia na época, "deixou de observar o dever objetivo de cuidado que lhe era exigível e, agindo com inobservância das regras técnicas de profissão, com manifesta imperícia e negligência, deu causa à morte de Adriana".
As investigações apontaram que a cirurgia ocorreu sem intercorrências, mas Adriana observou um inchaço nas pernas e chegou a comunicar no consultório. Segundo a médica, tratava-se de uma consequência natural da cirurgia. Mas, no dia 22 de julho de 2018, seis dias depois do procedimento ser realizado, já em casa, a pedagoga passou a se queixar de falta de ar, teve um desmaio. Levada para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, a paciente não resistiu. A causa da morte foi trombose venosa profunda.
Ainda de acordo como MPRJ, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e o Conselho Regional de Medicina foram uníssonos em afirmar em seus pareceres que a denunciada não poderia ter executado a cirurgia, pois para a realização de lipoaspiração é necessário título de especialista na área, em razão da complexidade do procedimento, o que Geysa não possuía.
Em 2022, a juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine condenou a médica a dois anos de prisão, mas substituiu a sua detenção com duas penas restritivas de direito, sendo uma com prestação de serviços à comunidade de uma hora por dia de condenação, e outra pelo pagamento de um salário-mínimo vigente à época da morte. A médica ainda pode recorrer junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Além da condenação, o Conselho Regional de Medicina (Cremerj) abriu uma sindicância contra Geysa nesta segunda-feira (18). Caso as suspeitas de irregularidades sejam confirmadas, será aberto um processo ético-profissional contra a médica.
*Colaboração de Marcos Porto
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