Publicado 10/10/2023 09:48
Rio - As forças de segurança do Rio retomaram nesta terça-feira (10), durante o segundo dia de operações no Complexo da Maré, a área de lazer e centro de treinamento construído pelo tráfico. O local que conta com piscina olímpica, campo de futebol e até área de churrasco coberta foi devolvido à comunidade. Segundo investigações da Polícia Civil, o espaço que fica na Vila do João era usado por lideranças criminosas, suas famílias e convidados, além de reuniões da facção e treinamentos operacionais de traficantes.
O primeiro dia de operações teve como alvos integrantes da organização criminosa Comando Vermelho (CV). Já nesta terça (10), a ação mira criminosos da facção rival Terceiro Comando Puro (TCP) que dominam as comunidades Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro, Salsa e Merengue, Nova Maré, Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Conjunto Esperança, Vila do João, Vila dos Pinheiros e Conjunto Pinheiros.
Somando os dois dias de incursão, as forças de segurança totalizaram 12 prisões e um prejuízo de R$ 18 milhões aos criminosos. Ainda nesta terça-feira, o governador Cláudio Castro celebrou os resultados.
"A Operação Maré já resultou em um prejuízo de R$ 18 milhões para as facções criminosas. É uma forma importante de asfixiar estas facções criminosas que ameaçam a população do Rio de Janeiro. Estamos fazendo a nossa parte e vamos continuar fortalecendo nossas ações. Já investimos cerca de R$ 1,5 bilhão em segurança pública e não vamos parar por aqui. Hoje, conseguimos dar de volta aos moradores do Complexo da Maré o centro poliesportivo que foi utilizado pelos criminosos como treinamento de guerrilha e foi descoberto graças ao trabalho de inteligência das nossas polícias. Esse é só o começo", ressaltou.
Durante as investigações, drones usados para mapear a área registraram um dos eventos do espaço em que um dos líderes do tráfico aparece no local com uma Range Land Rover, modelo velar, avaliado em mais de 500 mil reais. O veículo é semelhante aos usados por outros criminosos no interior da comunidade.
Outras gravações mostraram também cerca de 17 soldados do tráfico participando de treinamentos ministrados por instrutores que demonstravam profundo conhecimento em táticas operacionais. Estes treinamentos ocorriam tanto durante o dia quanto à noite, envolvendo o uso de fuzis e explosivos, simulando a progressão na região, confrontos armados e outras técnicas militares.
A região estrategicamente localizada próxima às principais vias expressas do Rio, incluindo as Linhas Vermelha e Amarela, bem como a Avenida Brasil, e no caminho para o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, tem se tornado alvo de cobiça por parte de organizações criminosas que buscam controlar o território para facilitar a distribuição de drogas e armas para várias partes do estado.
De acordo com a pesquisa Primeira Infância nas Favelas da Maré, publicada pela instituição da sociedade civil Redes da Maré no último dia 27, o Comando Vermelho (CV) exerce o domínio sobre as favelas Nova Holanda, Parque Maré, Parque Rubens Vaz e Parque União. Juntas, as comunidades abrigam 38,7% da população total da Maré.
Enquanto um grupo miliciano difuso controla as favelas Parque Roquete Pinto, Praia de Ramos e Marcílio Dias, onde moram 12,7% da população do complexo.
Outras gravações mostraram também cerca de 17 soldados do tráfico participando de treinamentos ministrados por instrutores que demonstravam profundo conhecimento em táticas operacionais. Estes treinamentos ocorriam tanto durante o dia quanto à noite, envolvendo o uso de fuzis e explosivos, simulando a progressão na região, confrontos armados e outras técnicas militares.
A região estrategicamente localizada próxima às principais vias expressas do Rio, incluindo as Linhas Vermelha e Amarela, bem como a Avenida Brasil, e no caminho para o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, tem se tornado alvo de cobiça por parte de organizações criminosas que buscam controlar o território para facilitar a distribuição de drogas e armas para várias partes do estado.
De acordo com a pesquisa Primeira Infância nas Favelas da Maré, publicada pela instituição da sociedade civil Redes da Maré no último dia 27, o Comando Vermelho (CV) exerce o domínio sobre as favelas Nova Holanda, Parque Maré, Parque Rubens Vaz e Parque União. Juntas, as comunidades abrigam 38,7% da população total da Maré.
Enquanto um grupo miliciano difuso controla as favelas Parque Roquete Pinto, Praia de Ramos e Marcílio Dias, onde moram 12,7% da população do complexo.
Técnicas de combate do tráfico
De acordo com o ex-comandante geral da PM do Rio, do Batalhão da Maré e do Bope, Mário Sérgio Duarte, as estruturas coletivas criminosas treinam técnicas de combate há tempos. Usam milhares de metralhadoras, fuzis, granadas, espalhados no Estado, com os quais dominam bairros inteiros que limitam o acesso com barricadas”.
Em relação ao treinamento, ele acredita que venha por parte de ex-militares ou até mesmo policiais ainda atuantes.
“Quase invariavelmente com ex militares do serviço temporário: ex recrutas de tropa convencional, pára-quedistas, sargentos temporários que encerraram seu tempo de serviço, etc. Mas nunca podemos desconsiderar a possibilidade de policiais mesmo, e ex-policiais. No estágio atual, após anos os coletivos criminosos já possuem gente com conhecimento para treinar seu pessoal”, disse.
O ex-comandante comentou ainda sobre uma versão que ouvia na época que comandou o batalhão. “Eu comandei o Batalhão da Maré, o 22⁰ BPM. Havia uma história de que angolanos treinavam o tráfico. Não vimos isso. Havia até uns poucos envolvidos com crimes, mas praticavam golpes com cartão de crédito”, explicou.
Sobre as táticas de guerra usadas na Maré, Mário Sérgio Duarte acredita que essa é apenas uma das faces da criminalidade coletivizada que domina a maior parte das favelas do Rio.
“Expressões como "quadrilhas", ou até "Organizações Criminosas", já não dão conta de clarificar a gravidade da progressiva fragmentação da soberania nacional dentro do território Brasileiro. Isso denuncia um protetorado criminoso informal, onde todo poder lhes pertence, inclusive de vida e morte de quem lhes interessar”, afirma.
Enquanto as leis não melhorarem, ele acredita ser difícil ter mudança no Estado. “Neste últimos tempos os criminosos ainda contam com decisões judiciais que informalmente lhes empodera (ainda que não tenham tal objetivo, concordemos) como realidade bélica a ser respeitada pelo Estado, pois as agências de Segurança que possuem o poder/dever de impedir que o país se torne um gigantesco conflito urbano armado entre essas insurgências criminais e as polícias, decide por estabelecer regras que fazem supor que a violência - com a estética de Terror - é proporcionada pelos órgãos de cumprimento da lei.
Para finalizar, o ex-comandante ainda disse que enquanto o Brasil não decidir por mudar de forma radical principalmente as leis sobre armas de guerra e os órgãos competentes não forem mais eficientes para impedir a chegada no país, nada mudará.
Em relação ao treinamento, ele acredita que venha por parte de ex-militares ou até mesmo policiais ainda atuantes.
“Quase invariavelmente com ex militares do serviço temporário: ex recrutas de tropa convencional, pára-quedistas, sargentos temporários que encerraram seu tempo de serviço, etc. Mas nunca podemos desconsiderar a possibilidade de policiais mesmo, e ex-policiais. No estágio atual, após anos os coletivos criminosos já possuem gente com conhecimento para treinar seu pessoal”, disse.
O ex-comandante comentou ainda sobre uma versão que ouvia na época que comandou o batalhão. “Eu comandei o Batalhão da Maré, o 22⁰ BPM. Havia uma história de que angolanos treinavam o tráfico. Não vimos isso. Havia até uns poucos envolvidos com crimes, mas praticavam golpes com cartão de crédito”, explicou.
Sobre as táticas de guerra usadas na Maré, Mário Sérgio Duarte acredita que essa é apenas uma das faces da criminalidade coletivizada que domina a maior parte das favelas do Rio.
“Expressões como "quadrilhas", ou até "Organizações Criminosas", já não dão conta de clarificar a gravidade da progressiva fragmentação da soberania nacional dentro do território Brasileiro. Isso denuncia um protetorado criminoso informal, onde todo poder lhes pertence, inclusive de vida e morte de quem lhes interessar”, afirma.
Enquanto as leis não melhorarem, ele acredita ser difícil ter mudança no Estado. “Neste últimos tempos os criminosos ainda contam com decisões judiciais que informalmente lhes empodera (ainda que não tenham tal objetivo, concordemos) como realidade bélica a ser respeitada pelo Estado, pois as agências de Segurança que possuem o poder/dever de impedir que o país se torne um gigantesco conflito urbano armado entre essas insurgências criminais e as polícias, decide por estabelecer regras que fazem supor que a violência - com a estética de Terror - é proporcionada pelos órgãos de cumprimento da lei.
Para finalizar, o ex-comandante ainda disse que enquanto o Brasil não decidir por mudar de forma radical principalmente as leis sobre armas de guerra e os órgãos competentes não forem mais eficientes para impedir a chegada no país, nada mudará.
Segunda fase da megaoperação
Toda a operação está sendo acompanhada no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), para onde são enviadas as imagens dos drones e das câmeras operacionais portáteis utilizadas pelos policiais. Os secretários de Polícia Militar, Luiz Henrique Marinho Pires, de Polícia Civil, José Renato Torres, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Edu Guimarães, também contaram com uma mesa interativa que monitora em tempo real o posicionamento dos agentes nos territórios.
"O investimento em tecnologia feito pelo Governo do Estado, em sintonia com o trabalho integrado das polícias, está sendo responsável pelo resultado positivo dessa operação. Através da tecnologia, conseguimos identificar os locais de acesso e as barricadas" destacou o secretário de Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires.
O secretário de Polícia Civil, José Renato Torres, enfatizou a retomada de um espaço público para os moradores da Maré. "Devolvemos o complexo esportivo para os seus verdadeiros donos, que são as famílias, as crianças da comunidade. Esse espaço de lazer não pertence aos criminosos", disse.
Além do aparato tecnológico, aeronaves e blindados das polícias Militar e Civil apoiam a ação. Neste segundo dia, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) seguirá bloqueando sinais de celulares nos presídios, assim como fará uma nova varredura para encontrar esconderijos improvisados por presos para ocultar aparelhos celulares e outros itens ilícitos dentro das celas.
"O investimento em tecnologia feito pelo Governo do Estado, em sintonia com o trabalho integrado das polícias, está sendo responsável pelo resultado positivo dessa operação. Através da tecnologia, conseguimos identificar os locais de acesso e as barricadas" destacou o secretário de Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires.
O secretário de Polícia Civil, José Renato Torres, enfatizou a retomada de um espaço público para os moradores da Maré. "Devolvemos o complexo esportivo para os seus verdadeiros donos, que são as famílias, as crianças da comunidade. Esse espaço de lazer não pertence aos criminosos", disse.
Além do aparato tecnológico, aeronaves e blindados das polícias Militar e Civil apoiam a ação. Neste segundo dia, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) seguirá bloqueando sinais de celulares nos presídios, assim como fará uma nova varredura para encontrar esconderijos improvisados por presos para ocultar aparelhos celulares e outros itens ilícitos dentro das celas.
Primeira fase da megaoperação
A Operação Maré conta com a mobilização de mil agentes das forças estaduais de segurança e é a maior já realizada com uso de tecnologia, aliada à inteligência e investigação. Equipamentos como drones com câmeras que fazem mapeamento de áreas em 3D e uma câmera com zoom de longo alcance são utilizados e têm capacidade de reconhecimento facial e identificação de placas de veículos. O primeiro dia de incursão já resultou em um prejuízo de pelo menos R$ 15 milhões às facções criminosas.
Nesta segunda-feira (9), a megaoperação prendeu nove criminosos, sendo seis com mandados de prisão em aberto e três em flagrante. Dentre eles, o PM Yuri Luiz Desiderati Ribeiro, de 36 anos, que foi preso em um caminhão na Avenida Brasil com 151 quilos de cocaína durante a operação no Complexo da Maré.
Além disso, foi apreendido 100kg de pasta base de cocaína em um galpão perto da Vila Cruzeiro, na Penha, e mais de meia tonelada de maconha e drogas sintéticas no Complexo da Maré.
Entre as drogas apreendidas foram encontradas ainda embalagens descritas como fentanil, substância é 50 vezes mais potente do que a heroína e mais forte que a morfina, que é responsável por grande parte das 100 mil mortes por overdose que ocorreram nos EUA em 2022.
A droga foi localizada na Nova Holanda, comunidade do Complexo da Maré. Se confirmado que se trata de fato de fentanil, essa será a primeira vez que a substância é apreendida no Rio. A perícia tem 10 dias para analisar as susbtâncias encontradas.
Na região ainda foram retiradas de 14 ruas 29 toneladas de barricadas. Dentre o armamento apreendido havia 1 fuzil 7.62, uma arma falsa, dezenas de artefatos explosivos e diversos rádios comunicadores e 33 veículos, entre motos e carros.
Entre as drogas apreendidas foram encontradas ainda embalagens descritas como fentanil, substância é 50 vezes mais potente do que a heroína e mais forte que a morfina, que é responsável por grande parte das 100 mil mortes por overdose que ocorreram nos EUA em 2022.
A droga foi localizada na Nova Holanda, comunidade do Complexo da Maré. Se confirmado que se trata de fato de fentanil, essa será a primeira vez que a substância é apreendida no Rio. A perícia tem 10 dias para analisar as susbtâncias encontradas.
Na região ainda foram retiradas de 14 ruas 29 toneladas de barricadas. Dentre o armamento apreendido havia 1 fuzil 7.62, uma arma falsa, dezenas de artefatos explosivos e diversos rádios comunicadores e 33 veículos, entre motos e carros.
"Tivemos um primeiro dia de êxito na operação e hoje seguiremos com um trabalho integrado das forças de segurança no enfrentamento às organizações criminosas. Estamos falando de grupos que possuem armas de guerra, controlam territórios, usam o sistema financeiro nacional, se articulam nacionalmente e internacionalmente, possuem seus próprios tribunais, e ampliam seus poderes nas mais diversas esferas. Não vamos recuar diante dessas máfias", declarou o governador Cláudio Castro.
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