Polícia faz operação na Vila Cruzeiro, na Penha, em resposta à morte de médicos na BarraReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - Policiais militares e civis realizam, na manhã desta segunda-feira (9), uma megaoperação na Vila Cruzeiro, dentro do Complexo da Penha, no Complexo da Maré, ambas na Zona Norte do Rio, e na Cidade de Deus, na Zona Oeste. A ação é uma resposta às mortes dos médicos na Barra da Tijuca, semana passada. Dois helicópteros das polícias foram atingidos por disparos. Um agente foi atingido por estilhaços, mas o ferimento foi sem gravidade. Segundo o Governo do Rio, 1.000 agentes atuam nas comunidades.

O objetivo da ação é cumprir mais de 100 mandados de prisão, entre os alvos estão criminosos da cúpula do Comando Vermelho (CV) envolvidos em disputas territoriais, como Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, e Edgar Alves de Andrade, o Doca. Outro procurado é Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, que teria participado do ataque aos ortopedistas. A principal tese da investigação é que o médico Perseu Almeida tenha sido confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa.
Até o momento, nove pessoas foram presas, sendo seis com mandado de prisão em aberto e três em flagrante. Dois laboratórios de drogas e artefatos explosivos foram descobertos e 16 veículos foram recuperados.
Armas e entorpecentes também foram apreendidas depois de serem encontradas enterrados perto da Escola Municipal Vereadora Marielle Franco, na Maré. De acordo com o Governo do Rio, foram apreendidos cerca de 100 kg de pasta base de cocaína, mais de meia tonelada de maconha e drogas sintéticas, um fuzil 7.62 e um simulacro, dezenas de artefatos explosivos e carregadores, centenas de munições de diversos calibres radiocomunicadores. O governo informou também que 29 toneladas de barricadas retiradas da Maré.
Agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar, e da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, atuam nas regiões com uso de blindados e helicópteros.

Durante a ação na Vila Cruzeiro, criminosos colocaram fogo em objetos para dificultar o acessos dos policiais. Dois helicópteros, sendo um da PM e outro da Civil, foram alvos de disparos. O veículo da Core teve que fazer um pouso de emergência, mas nenhum agente ficou ferido.

Através das redes sociais, moradores relataram diferentes confrontos na região com a presença dos agentes. “Operação na Vila Cruzeiro. Desde das 4hrs da manhã muitos tiros, barricadas em chamas. Prejudica tantas coisas. As escolas ficam fechadas. A saúde prejudicada. Clima tenso demais”, publicou uma internauta.
Resistência de criminosos
Segundo o coronel Luiz Henrique Marinho Pires, secretário de Estado de Polícia Militar, a principal dificuldade dos policiais é a resistência dos criminosos com armamentos que não são produzidos no estado, o que gerou intensos confrontos na Vila Cruzeiro.
"O efetivo está distribuído com a necessidade e a característica de cada comunidade. Tivemos confrontos intensos na Vila Cruzeiro. Poder bélico muito grande dos traficantes daquela região. Confronto muito pesado. Maré e Cidade de Deus tivemos confronto, mas de menor intensidade. Por isso que esses equipamentos de tecnologia são importantes para minimizar os ferimentos. A maior dificuldade é a resistência que a gente enfrenta. Enfrentamos na Vila Cruzeiro uma resistência muito grande, um intenso confronto, de um  armamento que não é produzido no Rio de Janeiro", comentou.
Em entrevista no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), na manhã desta segunda-feira (9), Pires destacou que os agentes que realizam os cercos nas comunidades estão com câmeras em suas fardas, mas os das forças especiais, como o Bope, que fazem operações de inteligência ainda não atuam com os equipamentos. De acordo com o secretário, o cronograma enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para colocar as câmeras nos batalhões de elite será respeitado.

Alteração na saúde e educação

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), as clínicas da família Rodrigo Y Aguilar Roig, no Complexo do Alemão, Klebel de Oliveira Rocha, em Olaria, e Ana Maria Conceição dos Santos Correia, na Vila Kosmos, mantêm o atendimento à população. Apenas as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares, estão suspensas. Todas as unidades ficam próximas à Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha.

Na região do Complexo da Maré, as clínicas da família (CF) Jeremias Moraes da Silva, Augusto Boal, Adib Jatene e Diniz Batista dos Santos, e o Centro Municipal de Saúde (CMS) Vila do João acionaram o protocolo de acesso mais seguro e, para segurança de profissionais e usuários, suspendeu o funcionamento na manhã desta segunda-feira (9).

Já a CF José Neves e o CMS Hamilton Land, na região da Cidade de Deus, mantêm o atendimento à população. Apenas as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares, estão suspensas.

A Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que, até o momento, 41 unidades escolares foram impactadas, afetando 13.799 alunos, no Complexo da Maré; na Vila Cruzeiro, 16 unidades escolares foram impactadas, afetando 4.757 alunos; na Cidade de Deus, 7 unidades foram impactadas, e 1.842 alunos estão em atendimento remoto. Duas unidades tiveram horário de entrada adiado no local e as demais funcionam em atendimento presencial.