Na foto, Célia Regina Oliveira (sentada) , mãe do jovem Paulo Victor, desaparecido em Brás de Pina, Zona Norte do RioCleber Mendes/Agência O Dia
Publicado 22/01/2024 16:03
Rio - A mãe de Paulo Victor Vieira de Souza, de 16 anos, adolescente sequestrado em Brás de Pina, Zona Norte do Rio, fez um apelo para que as autoridades competentes autorizem a realização de uma operação policial nas comunidades do Quitungo e Guaporé, também na Zona Norte. "A Polícia Civil precisa subir no morro para encontrar o meu filho, mas eles não fazem isso, dizem que precisam de ordem superior. Seja quem for a pessoa que precisa autorizar, governo estadual ou federal, que liberem logo. Eu estou vivendo um verdadeiro inferno, não como, não durmo, estou vivendo uma tortura", desabafou Célia Regina Oliveira. O jovem foi levado por criminosos armados próximo à estação de trem de Brás de Pina.
Familiares e amigos que estudaram com Paulo Victor fizeram uma nova manifestação na entrada da 38ª DP (Brás de Pina), durante toda a manhã e início da tarde desta segunda-feira (22), na tentativa de receberem um posicionamento dos investigadores que atuam no caso. No entanto, a irmã do adolescente, Fátima Oliveira, disse que ninguém saiu para atendê-los. "Eles não entraram na comunidade, não fizeram perícia. Na delegacia não tem delegado para falar com a gente. Chegamos aqui 10h e nada até agora", disse a irmã, às 15h.
Ainda segundo Fátima, a família teria sido informada que para a operação ser realizada era preciso o apoio de 5 a 10 veículos blindados da polícia. Durante a manifestação, o grupo levou faixas, cartazes e camisas personalizadas fazendo apelo ao presidente Lula. Uma das faixas indagava: "Quem são esses que têm carta branca para matar? Estariam eles acima da lei, acima do estado? Quem dá esse poder a eles?"
Ameaças nas redes sociais
Além de se preocuparem com o que aconteceu com Paulo Victor, a família do jovem passou a receber ameaças nas redes sociais. "Estamos recebendo várias ameaças, perfis falando que era para a gente desistir porque nunca vamos encontrar o meu irmão. A gente se sente inseguro, mas vamos continuar fazendo barulho para nos ouvirem", garantiu Fátima. 
O grupo vai voltar a se reunir nesta terça-feira (23), às 9h, para um protesto na entrada da sede do Ministério Público do Rio (MPRJ), no Centro do Rio. Célia Regina diz que, até o momento, nenhum órgão público os procurou para oferecer ajuda. 
Linha de investigação e suspeito preso
O jovem foi capturado por criminosos no domingo (14), quando soltava pipa com amigos, próximo à estação de trem em Brás de Pina. Além de Paulo Victor, outras duas pessoas foram sequestradas, em um período de 10 dias, nas proximidades da favela do Quitungo. A suspeita da Polícia Civil é de que o mesmo grupo criminoso da comunidade seja responsável pelos desaparecimentos. Além do adolescente, também foram sequestrados o entregador Wagner Motta Neves, de 33 anos, em 4 de janeiro, e Wagner Santana Vieira, de 36 anos, em 8 do mesmo mês, quando visitava familiares no bairro.
No último dia 10, o corpo do segundo foi encontrado por policiais militares, às margens de um rio, na localidade do Cantinho da Ponte, na Cidade dos Meninos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A identificação da vítima foi confirmada nesta terça-feira (16).
De acordo com o delegado titular da 38ª DP, Flávio Rodrigues, a principal linha de investigação é de que eles tenham sido levados pelos bandidos devido a um acerto de contas de grupos criminosos, porque as vítimas moravam ou integravam o tráfico de drogas de favelas dominadas por facções rivais. Entretanto, não há confirmação de que elas tenham envolvimento com o crime organizado. Atualmente, a comunidade do Quitungo é controlada pelo Comando Vermelho.
Na quarta-feira (17), policiais do Grupamento de Ações Táticas do 16° BPM (Olaria) prenderam um suspeito de envolvimento no sequestro. Lucas Bianchini Nunes Borges foi localizado no mesmo bairro onde o jovem desapareceu, após informações repassadas pelo Disque Denúncia. O preso já havia sido detido outras vezes por associação criminosa e desobediência.
Em 2019, Lucas e outras 28 pessoas organizaram uma invasão ao Estádio Maracanã, na Zona Norte do Rio, por meio de uma rede social. O grupo, que contava com membros de torcidas organizadas, tentou invadir um jogo entre Flamengo e Grêmio, válido pela Copa Libertadores. Lucas foi preso no dia anterior à partida e solto após quatro dias para responder o processo em liberdade.
Já em 2022, ele foi detido em flagrante por desobediência e encaminhado à 22ª DP (Penha). No momento, o processo está suspenso temporariamente. Enquanto respondia pelo crime, Lucas alegou trabalhar como motoboy. A moto dele foi um dos pontos que ajudou na prisão pelo envolvimento no sequestro do adolescente. Nas redes sociais, ele publicou imagens com o veículo, que é semelhante ao flagrado pelas câmeras de segurança durante o crime. 
A reportagem tenta contato com a Polícia Civil para saber como está o andamento das investigações. O jornal também questionou a força de segurança pública federal se há diálogo com a Civil referente a este caso. O MPRJ também foi procurado para saber se haverá suporte aos familiares de Paulo Victor. O espaço está aberto para manifestação.
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