Publicado 29/02/2024 17:47 | Atualizado 29/02/2024 18:06
Rio - O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido de revogação da prisão do contraventor Ailton Guimarães Jorge, conhecido como Capitão Guimarães, de 82 anos. Em decisão assinada nesta quarta-feira (28), Toffoli entendeu que os argumentos da defesa não foram suficientes para que haja uma decisão provisória anterior ao juízo.
Em dezembro de 2022, Capitão Guimarães foi preso durante a Operação Sicário por ser suspeito de ser o mandante do homicídio do pastor Fábio Sardinha, em um posto de combustível no Colubandê, em São Gonçalo. Desde então, ele cumpre prisão domiciliar.
O crime aconteceu em 2020 e, segundo denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ), estaria ligado ao Jogo do Bicho. Na ocasião, o homem estava com seu pai e, ao descer do carro, foi abordado por dois criminosos em uma motocicleta, que atiraram contra ele. Fábio morreu no local.
No ano seguinte, Guimarães foi alvo da Operação Mahyah, realizada pela Polícia Federal contra uma quadrilha responsável por homicídios, corrupção passiva e porte ilegal de arma de fogo. De acordo comas investigações, Guimarães era a principal liderança da organização criminosa.
O contraventor também é investigado pelo assassinato de Wilson Vieira Alves, conhecido como Moisés, ex-presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel. Em maio, a Polícia Civil cumpriu um mandado de busca e apreensão em sua casa, em Camboinhas.
Quem é Capitão Guimarães
Ailton Guimarães Jorge foi capitão do Exército durante o período da Ditadura Militar e chegou a receber, em 1969, a Medalha do Pacificador, ao ser o primeiro oficial ferido em combate na luta armada. Em 1971, ele chegou a ser investigado pelo Exército por participação no roubo de um caminhão carregado de roupas, que foram vendidas por cerca de US$ 30 mil, mas foi inocentado junto com os outros réus. Pouco depois, o grupo passou a trabalhar para contrabandistas.
Em 1974, Capitão Guimarães também foi alvo de um inquérito policial militar e preso, após a Polícia Federal e o Serviço Nacional de Informações denunciarem que, no ano anterior, ele teve participação na escolta de dois caminhões com cargas de cigarros e uísque roubadas em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio. O militar foi liberado dois meses após a prisão e absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM).
De acordo com o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, elaborado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), entre 2010 e 2016, Ailton participou ativamente das atividades de repressão do regime, detenções ilegais, torturas e execuções. O oficial da reserva é um dos 377 agentes responsabilizados por crimes durante o período.
Depois de ir para a reserva do Exército, o contraventor passou a trabalhar com o bicheiro Ângelo Maria Longa, conhecido como Tio Patinhas. Pouco tempo depois, ele já fazia parte do conselho dos grandes banqueiros do jogo do bicho e, com o crescimento de sua atuação, passou a dominar a exploração de jogos ilegais em Niterói, São Gonçalo e outros municípios da Região Metropolitana, além de cidades do estado do Espírito Santo.
Muito ligado ao Carnaval carioca, Guimarães foi presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) entre os anos de 1987 e 1993, cargo que voltou a ocupar de 2001 a 2007, e da Unidos de Vila Isabel, em 1981 e 1982, escola do bairro onde sua atuação na contravenção começou. Atualmente, ele é patrono da agremiação. No ano de 1993, Ailton foi um dos 14 megabanqueiros do jogo do bicho condenados pela juíza Denise Frossard.
Guimarães foi preso durante a Operação Furacão', em abril de 2007. Também foram presos advogados, agentes da Polícia Federal, bicheiros e três desembargadores, entre eles José Ricardo Regueira, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Na lista de correntistas brasileiros do HSBC da Suíça, aparecem os nomes de Guimarães e Regueira. Aílton, identificado na base de dados do banco como ''comerciante'', abriu a conta em 1º de novembro de 1989 e a encerrou em 20 de setembro de 2003. Já a conta de Regueira foi criada em 15 de fevereiro de 1989 e fechada pouco mais de onze anos depois, em 30 de março de 2000. Em ambos, o saldo referente a 2007 é zero. Não há dados disponíveis sobre o volume de dinheiro que circulou pelas contas enquanto estavam vigentes.
Em 2012, Capitão Guimarães também chegou a ser preso junto com dois outros contraventores do Rio: Anísio Abraão David e Antônio Petrus Kalil, o Turcão. Os três foram presos na Operação Hurricane acusados de lavagem de dinheiro e corrupção de agentes públicos. Eles foram condenados a 48 anos e oito meses de prisão por formação de quadrilha, corrupção e contrabando.
Na sentença da juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Federal Criminal, 22 pessoas foram condenadas a regime fechado, uma a semiaberto e uma a aberto. Mas a magistrada decretou prisão preventiva de apenas 10 réus, como "garantia da ordem pública" e para evitar que os acusados continuassem a exercer a atividade criminosa
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