O contraventor Capitão Guimarães foi preso nesta sexta-feira (1º)Reprodução
Capitão Guimarães é preso durante operação contra quadrilha do jogo do bicho
Ação teve como objetivo desarticular uma organização, chefiada pelo contraventor, responsável por homicídios, corrupção passiva e porte ilegal de arma de fogo
Rio - O contraventor Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, de 81 anos, foi preso nesta sexta-feira (1º) durante a Operação Mahyah realizada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). A ação teve como objetivo desarticular uma quadrilha, chefiada por Guimarães, responsável por homicídios, corrupção passiva e porte ilegal de arma de fogo.
Além do contraventor, outras 12 pessoas já foram presas. Ao todo, 10 foram pelo cumprimento de mandado de prisão preventiva e três em flagrante. Entre os presos estão um policial civil e policiais militares.
De acordo com a Polícia Militar, agentes da Corregedoria da corporação auxiliaram a PF no cumprimento de dois mandados de prisão contra dois PMs. Durante a ação, dois policiais, que não eram alvos de mandados, foram presos em flagrante na Ponte Rio-Niterói no momento em que levavam R$ 130 mil para a casa de Marcel Rios Werneck, genro de Guimarães, apontado como tesoureiro da organização que também foi preso na operação.
A PM informou que os dois agentes serão encaminhados à Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói, Região Metropolitana do Rio. Os dois policiais alvos da operação seguem foragidos, segundo a corporação. Todos os envolvidos responderão a um procedimento interno da PM, em paralelo às investigações da PF, podendo resultar na exclusão dos agentes.
"Cabe ressaltar que a corporação não compactua com quaisquer desvios ou crimes cometidos por policiais militares. O comando da SEPM segue colaborando integralmente com todos os trâmites relativos ao caso", informou a corporação.
Operação Mahyah
Segundo a investigação da PF, que é um desdobramento da Operação Sicários, deflagrada em dezembro de 2022, três núcleos criminosos - subordinados ao bicheiro - controlam o monopólio de jogos de azar e exploração de bingos clandestinos na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, em Niterói e São Gonçalo, cidades da Região Metropolitana do estado e no Espírito Santo.
"Para assegurar a soberania territorial, a organização criminosa pratica, de maneira ordenada, diversos crimes, dentro os quais se destacam homicídios, corrupção passiva e porte ilegal de armas de fogo", disse a PF.
A operação desta sexta-feira (1º) foi realizada por cerca de 100 agentes federais que tinham como objetivo cumprir 13 mandados de prisão preventiva e 19 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 2ª Vara especializada em organizações criminosas do Rio de Janeiro.
Os mandados estão sendo cumpridos em municípios do estado do Rio e no Espírito Santo, em endereços ligados aos integrantes da organização criminosa, já denunciados pelo MPRJ. A ação contou com apoio da Corregedoria da Polícia Militar e do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES).
Até esta sexta-feira (1º), Guimarães cumpria prisão domiciliar em sua casa no bairro Camboinhas, em Niterói. De acordo com o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), Aílton continuará cumprindo prisão domiciliar devido a essa investigação da Operação Mahyah.
Preso por homicídio
Capitão Guimarães já havia sido preso em dezembro de 2022 por suspeita de ser o mandante do homicídio de Fábio Sardinha, de 41 anos, em um posto de combustível do Colubandê, bairro de São Gonçalo. O crime aconteceu em 2020.
Na ocasião, o homem estava com seu pai e, ao descer do carro, foi abordado por dois homens em uma motocicleta, que atiraram contra ele. A vítima morreu no local. De acordo com o Ministério Público do Rio, o crime tem características de execução sumária e estaria ligado ao jogo do bicho.
Ele também é investigado pelo assassinato de Wilson Vieira Alves, conhecido como Moisés, ex-presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel. Em maio, a Polícia Civil cumpriu um mandado de busca e apreensão em sua casa, em Camboinhas. A polícia investiga se desavenças entre Guimarães e Moisés, que já foram aliados, motivaram o crime.
O assassinato aconteceu no dia 25 de setembro do ano passado, em um posto de gasolina na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, Zona Oeste. Segundo as investigações, os suspeitos aguardaram o momento em que a vítima saía de uma farmácia, localizada no mesmo estabelecimento, e retornava para seu veículo. Na ação, dois homens se aproximaram em uma moto, um deles desembarcou, se aproximou e atirou na cabeça da vítima, que morreu na hora.
Quem é Capitão Guimarães
Ailton Guimarães Jorge foi capitão do Exército durante o período da Ditadura Militar e chegou a receber, em 1969, a Medalha do Pacificador, ao ser o primeiro oficial ferido em combate na luta armada. Em 1971, ele chegou a ser investigado pelo Exército por participação no roubo de um caminhão carregado de roupas, que foram vendidas por cerca de US$ 30 mil, mas foi inocentado junto com os outros réus. Pouco depois, o grupo passou a trabalhar para contrabandistas.
Em 1974, Capitão Guimarães também foi alvo de um inquérito policial militar e preso, após a Polícia Federal e o Serviço Nacional de Informações denunciarem que, no ano anterior, ele teve participação na escolta de dois caminhões com cargas de cigarros e uísque roubadas em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio. O militar foi liberado dois meses após a prisão e absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM).
De acordo com o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, elaborado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), entre 2010 e 2016, Ailton participou ativamente das atividades de repressão do regime, detenções ilegais, torturas e execuções. O oficial da reserva é um dos 377 agentes responsabilizados por crimes durante o período.
Depois de ir para a reserva do Exército, o contraventor passou a trabalhar com o bicheiro Ângelo Maria Longa, conhecido como Tio Patinhas. Pouco tempo depois, ele já fazia parte do conselho dos grandes banqueiros do jogo do bicho e, com o crescimento de sua atuação, passou a dominar a exploração de jogos ilegais em Niterói, São Gonçalo e outros municípios da Região Metropolitana, além de cidades do estado do Espírito Santo.
Muito ligado ao Carnaval carioca, Guimarães foi presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) entre os anos de 1987 e 1993, cargo que voltou a ocupar de 2001 a 2007, e da Unidos de Vila Isabel, em 1981 e 1982, escola do bairro onde sua atuação na contravenção começou. Atualmente, ele é patrono da agremiação. No ano de 1993, Ailton foi um dos 14 megabanqueiros do jogo do bicho condenados pela juíza Denise Frossard.
Guimarães foi preso durante a 'Operação Furacão', em abril de 2007. Também foram presos advogados, agentes da Polícia Federal, bicheiros e três desembargadores, entre eles José Ricardo Regueira, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Na lista de correntistas brasileiros do HSBC da Suíça, aparecem os nomes de Guimarães e Regueira. Aílton, identificado na base de dados do banco como ''comerciante'', abriu a conta em 1º de novembro de 1989 e a encerrou em 20 de setembro de 2003. Já a conta de Regueira foi criada em 15 de fevereiro de 1989 e fechada pouco mais de onze anos depois, em 30 de março de 2000. Em ambos, o saldo referente a 2007 é zero. Não há dados disponíveis sobre o volume de dinheiro que circulou pelas contas enquanto estavam vigentes.
Em 2012, Capitão Guimarães também chegou a ser preso junto com dois outros contraventores do Rio: Anísio Abraão David, o Anísio, e Antônio Petrus Kalil, o Turcão. Os três foram presos na Operação Hurricane acusados de lavagem de dinheiro e corrupção de agentes públicos. Eles foram condenados a 48 anos e oito meses de prisão por formação de quadrilha, corrupção e contrabando.
Na sentença da juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Federal Criminal, 22 pessoas foram condenadas a regime fechado, uma a semiaberto e uma a aberto. Mas a magistrada decretou prisão preventiva de apenas 10 réus, como "garantia da ordem pública" e para evitar que os acusados continuassem a exercer a atividade criminosa.
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