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Rio - A organização criminosa voltada ao jogo do bicho liderada pelo contraventor Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, de 81 anos, comprou 45 armas com a ajuda de agentes de segurança pública corruptos e ligados à quadrilha. O grupo foi alvo de uma operação realizada nesta sexta-feira (1º) pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). Guimarães e outras 12 pessoas foram presas.
A investigação da PF, que serviu como base para a denúncia do MPRJ, apurou que a organização comprou 23 pistolas e 22 carabinas. O valor total da compra, coordenada pelo policial civil Alzino Carvalho de Souza, é de R$ 312.130,00. 
Para o juiz Juarez Costa de Andrade, da 2ª Vara Criminal Especializada do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), que aceitou a denúncia do MPRJ contra os acusados e determinou suas prisões preventivas, a compra das armas "evidencia o potencial violento e audacioso da organização criminosa" que "se utiliza da violência para resolver disputas territoriais e outros conflitos".
Documentos apreendidos durante a investigação, em endereço vinculado ao Capitão Guimarães, revelaram que o grupo teve uma movimentação financeira superior a R$ 10 milhões apenas no mês de novembro do ano passado.
A organização criminosa seria responsável por homicídios, corrupção passiva e porte ilegal de arma de fogo decorrentes do envolvimento com o jogo do bicho. Segundo a investigação da PF, que é um desdobramento da Operação Sicários, deflagrada em dezembro de 2022, três núcleos criminosos - subordinados ao bicheiro - controlam o monopólio de jogos de azar e exploração de bingos clandestinos na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, em Niterói e São Gonçalo, cidades da Região Metropolitana do estado e no Espírito Santo.
Funções dos denunciados
O MPRJ denunciou 13 pessoas por organização criminosa. São eles: Capitão Guimarães, Allan Pinheiro Coutinho (policial militar), Alzino Carvalho de Souza (policial civil), André Luiz Miranda Furtado, Daniel Jacinto Vieira, Fagner Batista Pardin (policial militar), Francisco Carlos de Oliveira, Gilberto Ferreira Pereira, (policial federal aposentado), Glaucio Raimundo Cardoso, Jorge Antônio dos Santos, Marcel Rios Werneck,  Patrik Roger Correa Vieira e Rodrigo de Paiva Sousa.
Todos foram alvos de mandados de prisão preventiva nesta sexta-feira (1º). De acordo com a denúncia, Guimarães é o líder do grupo. Alzino, pessoa de confiança do contraventor, seria responsável pela coordenação da segurança do bicheiro, além de ter influência na gestão da quadrilha.
Já Jorge Antônio, Rodrigo de Paiva, Daniel Jacinto, Marcel Rios, Allan Pinheiro, Fagner Batista e Francisco Carlos fazem parte do núcleo de exploração de jogos do bicho da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. Rodrigo é acusado de ser o gerente dos pontos e Marcel, genro de Guimarães, o tesoureiro da quadrilha, sendo responsável pelo recebimento e contabilização do dinheiro proveniente da prática criminosa. Os outros citados seriam motoristas e responsáveis pelas escoltas de pessoas em nível maior na hierarquia do grupo.
Os denunciados Gilberto Ferreira, André Luiz e Patrik Roger fazem parte do núcleo de exploração de jogos do bicho em Vitória, no Espírito Santo. O primeiro é advogado e policial aposentado da PF, além de ser apontado como gerente da área.
Operação Mahyah
A operação desta sexta-feira (1º) foi realizada por cerca de 100 agentes federais que tinham como objetivo cumprir 13 mandados de prisão preventiva e 19 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 2ª Vara especializada em organizações criminosas do Rio de Janeiro.
Os mandados foram cumpridos em municípios do estado do Rio e no Espírito Santo, em endereços ligados aos integrantes da organização criminosa, já denunciados pelo MPRJ. A ação contou com apoio da Corregedoria da Polícia Militar e do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES).
Até esta sexta-feira (1º), Guimarães cumpria prisão domiciliar em sua casa no bairro Camboinhas, em Niterói, por causa de um processo que responde devido ao suposto envolvimento na morte de um pastor em São Gonçalo, no ano de 2020. De acordo com o TJRJ, Aílton continuará cumprindo prisão domiciliar devido a essa investigação da Operação Mahyah.
Além do contraventor, outras 12 pessoas foram presas, incluindo policiais civis e militares. Ao todo, foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva e outras três prisões em flagrante. Destas, duas foram de PMs que passavam pela Ponte Rio-Niterói carregando R$ 130 mil em direção a casa de Marcel Werneck, em Niterói.
Procurada, a Polícia Militar informou que os dois agentes serão encaminhados à Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói, Região Metropolitana do Rio. Todos os envolvidos responderão a um procedimento interno da PM, em paralelo às investigações da PF, podendo resultar na exclusão dos agentes.
"Cabe ressaltar que a corporação não compactua com quaisquer desvios ou crimes cometidos por policiais militares. O comando da SEPM segue colaborando integralmente com todos os trâmites relativos ao caso", destacou a corporação.
A Justiça ainda determinou a apreensão de seis veículos pertencentes aos membros da organização. O juiz Juarez de Andrade pediu o sequestro de três carros da Mercedes Benz, um Toyota Corolla, uma Mitsubishi Triton e um Honda Fit. Somados, o preço dos carros pode chegar a R$ 1,3 milhão.
A PF informou que mais de R$ 1 milhão em espécie foram apreendido na ação.