Publicado 25/03/2024 21:58
Atualmente secretário de Ordem Pública do Rio, o delegado Brenno Carnevale, que atuou na Delegacia de Homicídios da Capital entre 2016 e 2018, quando foi responsável por investigar homicídios em que agentes públicos eram autores ou vítimas, disse em depoimento ao Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), prestado em 2019, que o ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa agia para obstruir as investigações ligadas à milícia e contravenção na cidade do Rio. A informação consta no relatório final da Polícia Federal sobre o caso Marielle Franco.
Uma das situações “estranhas” vivenciadas por Brenno diz respeito à investigação da morte de Marcos Falcon, então presidente da Portela e candidato a vereador do Rio, em setembro de 2016. Carnevale contou que Rivaldo Barbosa frequentemente perguntava sobre os passos do inquérito, pedindo para lhe contar qualquer novidade. A filha de Falcon, Marcelle Guimarães, contou que o então delegado a confidenciou durante as investigações que Rivaldo o pediu para "não mexer em nada e passar diretamente pra ele". No relatório, a PF diz ainda que o delegado reiterou o dito pela filha de Falcon.
"MARCELLE GUIMARÃES VIEIRA SOUZA, filha de MARCOS FALCON, revelou que o delegado responsável pelo caso do assassinato de seu pai, Dr. BRENNO CARNEVALE, externou certo descontentamento com as ingerências praticadas por RIVALDO BARBOSA na investigação, sendo certo que ele teria lhe dito que, diante de novas descobertas sobre o caso, era para “não mexer em nada e passar diretamente para ele”. Dr. BRENNO teria revelado à MARCELLE o sumiço repentino dos procedimentos apuratórios atrelados a FALCON que estavam em sua carga de inquéritos. MARCELLE ressaltou que todos com quem conversava sobre a morte de seu pai, sobretudo policiais, desestimulavam-na a procurar a DH, pois esta delegacia estaria “comprada” e de nada adiantaria o seu empenho", diz o relatório.
O secretário contou ainda ter sofrido obstruções nos inquéritos que apuravam as mortes de Haylton Escafura, filho do contraventor José Caruzzo Escafura, o Piruinha, e de Geraldo Pereira (ex-PM). Ele citou o sumiço de um inquérito relacionado à morte do ex-PM, além de outro retirado de suas mãos, num momento em que uma de suas atribuições era justamente investigar a morte de policiais.
"Por fim, destaca-se trecho do depoimento de BRENNO em que ele é veemente ao demonstrar a ineficácia da DHC na resolução de crimes que envolviam autoria de milicianos e contraventores: 'não se recordando de qualquer homicídio esclarecido que resultasse na prisão ou denúncia contra contraventor ligado ao jogo do bicho'”, completa o parecer da PF.
Barbosa foi preso neste domingo (24) pela Polícia Federal, junto com os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mentores intelectuais do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Segundo a PF, o delegado planejou o crime, chegando a proibir que a execução fosse perto da Câmara dos Vereadores, e depois agiu para obstruir as investigações mediante propina.
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